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Maní

restaurante-mani

Eu tinha dificuldade em entender todo o reconhecimento do Maní. Gostava muito dos drinques e dos belisquetes (não deixe de provar o trio de bombons, não dá vontade de parar de comer), amava as sobremesas, mas mesmo sabendo que tudo lá é executado à perfeição, quando chegava na hora de escolher os pratos, lia, lia, e sentia dificuldade de ser seduzido pelas descrições dos pratos no cardápio (e não foram todas as vezes que eu gostei dos pratos que pedi). Até provar o menu-degustação, talvez, a melhor experiência, a mais redonda, que eu tive com menus-degustação em São Paulo.E foi aí que eu entendi por que o Maní é merecidamente considerado um grande restaurante. (E você tem a opção de harmonizar o menu com vinhos, todos eles naturais, ou seja, sem tratamento químico nas videiras ou no vinho, seguindo a proposta orgânica da casa.)

Uma das coisas mais genias e sofisticadas do estilo dos chefs  Daniel Redondo e Helena Rizzo é a releitura contemporânea de pratos tão brasileiros como a feijoada, o açaí, a moqueca. No caso deste último, o peixe é cozido no vapor no ponto impecável (na moqueca tradicional, o peixe é cozido junto com o caldo), acompanhado de uma crocante terrine  de arroz de coco e todo o sabor da moqueca — com o dendê, o tomate e o pimentão —, vem com a leve e perfeita calda, que eles servem à la française. De sobremesa, a releitura do açaí, além de linda, é incrível. É o açaí com o sabor mais perfeito e equilibrado que alguém poderia comer, com todos os ingredientes tão familiares que comemos nas casas de suco Brasil afora: banana nanica milimetrica e impecavelmente fatiada, gelatina de guaraná, farofa de aveia, marshmellow  de açúcar mascavo, raspadinha de morango e sorbet  de açaí. Só a feijoada que, apesar da genial desconstrução (com esferas de feijão, couve, paio, farofa e um cannelloni de porco) e saboroso, é um pouco desconfortável pra comer.

Mas nem só de influências brasileiras vivem os chefs. No Maní, você pode comer um ceviche  com o tradicional tempero peruano que, em vez de peixe, leva a “carne” do brasileiríssimo caju (genial); uma deliciosa coca — tapa típico da região de Valencia, a versão espanhola da bruschetta  italiana (o chef  Redondo é catalão); e o nhoque de madioquinha e araruta (uma raiz que tem fécula branca, como a mandioca) com dashi de tucupi (imagine o caldo-base de toda a gastronomia japonesa com o sumo da raiz da mandioca brava, tão típico da cozinha nortense), it’s just fu**in’ genious, dude.

No quesito ambiente, o Maní poderia estar em Trancoso, com seu décor simples e quase rústico. O espaço mais concorrido é o jardim, no fundo da casa, com seus pergolados e trepadeiras e mesas à luz de velas (um pouco escuro demais, na minha opinião; gosto de enxergar bem a comida). E, apesar do serviço do salão ser bastante atencioso e amigável (eles sabem explicar bem os pratos e responder às dúvidas), não dá pra dizer o mesmo da pessoa encarregada das reservas e da administração dos clientes em espera. E como é difícil conseguir uma reserva para o dia (eles abrem a agenda de reservas com duas semanas de antecedência), se você decidir chegar pra jantar, é bem provável que você não consiga fazer o menu-degustação, já que você terá de esperar de 1h30 a 2 horas por uma mesa, o restaurante fecha ou às 23h30 ou à meia-noite, e os pedidos de menu-degustação só são aceitos até uma hora antes do fechamento do restaurante.

Shoichi Iwashita

Compulsivo por informação e colecionador de moleskines com anotações de viagens e restaurantes, Shoichi Iwashita se dedica a compartilhar seu repertório através das matérias que escreve para a Simonde e revistas como Robb Report Brasil, TOP Destinos, The Traveller, Luxury Travel e Unquiet.

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