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The Bling Ring

Elas falam Balmain, Chanel, Birkin com a mesma intimidade com que elas falam de suas amigas mais próximas. The Bling Ring seria cômico se ele não fosse um filme que refletisse exatamente os valores invertidos da sociedade em que a gente vive. Principalmente da elite cool, sempre admiradora do dinheiro e do poder cujas procedências nunca são consideradas desde que a “imagem” dos poderosos du jour  e sua companhia renda boas fotos no Facebook e no Instagram, tragam influência entre os pares e sirvam aos seus interesses. (Aliás, nada importa a não ser o dinheiro: a pessoa pode ser mal educada, corrupta, insuportável; a entourage  será sempre fiel até o dinheiro acabar.)

Sofia Coppola em Bling Ring, nome dado à quadrilha de jovens de classe alta que invadem as mansões das celebridades que admiram para roubar-lhes as roupas e os acessórios que eles sempre sonharam em consumir, está menos “silenciosa”, mais rápida no ritmo do filme, mais didática (todas as análises sobre os fatos e os porquês são expressos nas falas) e, por isso, mais atraente para o gosto do espectador de cinema comum.

Os jovens, que invadem casas por lazer e roubam tão “pouco” de celebridades milionárias que as vítimas “nem fazem falta” (ué, isso é crime?), não estão interessados nos guarda-roupas de celebridades como Jack Nicholson, Meryl Streep ou Madonna (o dinheiro em si não é o motivador). Através do roubo dessas “relíquias” eles querem ser seus ídolos: celebridades cool, longe de serem “certinhas”, que possuem os mesmos valores que eles (Niccole chega a compartilhar a mesma cela com Lindsay Lohan, uma das celebridades vítimas do grupo, presa na ocasião por algum delito dos vários que já cometeu ao longo de sua carreira). No fim, como numa matrioshka, os jovens delinquentes se tornam ídolos de outros jovens que adoram o que eles fizeram.

Esses valores são tão arraigados numa parcela da sociedade que nem os pais punem mais seus filhos, que se conheceram numa escola para desajustados. O caso mais emblemático é o de Niccole, cuja mãe, uma seguidora de uma seita baseada no livro de auto-ajuda best-seller O Segredo, sonha com a fama das filhas. A rotina das meninas inclui tomar um remédio pela manhã ao acordar, fazer orações para atrair boas vibrações (o objetivo é sempre a fama) e enganar os pais quando querem sair bastando dizer que “vão a uma festa onde estará um empresário que pode apoiar o início de suas carreiras”. A mídia que a prisão da filha gera, assim como muito comumente acontece no mundo das celebridades, se torna a oportunidade perfeita para o lançamento da carreira da filha, do seu livro e do seu website, é claro.

Apesar de todo o julgamento de valor que eu faço e Sofia, não, Bling Ring é um ótimo espelho que serve reflexão para algumas coisas que a gente vê por aí, principalmente quando o assunto é valores. E em se tratando de mais uma obra da cineasta, tem de ver. Até por que uma coisa segue imutável no reino de Sofia: a trilha sonora incrível.

Vitória, 16 de agosto de 2013. 

Shoichi Iwashita

Compulsivo por informação e colecionador de moleskines com anotações de viagens e restaurantes, Shoichi Iwashita se dedica a compartilhar seu repertório através das matérias que escreve para a Simonde e revistas como Robb Report Brasil, TOP Destinos, The Traveller, Luxury Travel e Unquiet.

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