A Single Man
Robes de cashmere, casas ao melhor estilo Wallpaper* (já a de Charlie lembra a casa de Frances Brody, também em Los Angeles), taças de cristal Saint Louis, guarda-roupa Tom Ford men’s wear, cigarros rosa Ben Sherman, linda papelaria. A Single Man é tudo o que a gente poderia esperar de um filme assinado por um dos grandes nomes da moda comercial dos últimos quinze anos (e hoje uma das coisas mais interessantes na moda masculina).
A história (baseada no livro homônino escrito por Christopher Isherwood, um dos primeiros romances do movimento de liberação gay da década de 1960) pode parecer um pouco panfletária, datada, em tempos de superexposição gay (apesar de muitos gays ainda enfrentarem os mesmos tipos de medos e problemas), e não tem como pensar, em alguns trechos, que estamos assistindo a um comercial de perfume (a gente fica esperando aparecer “The new fragrance by…” a qualquer momento). Mas Tom Ford (por ele mesmo), Colin Firth (em interpretação sutil e intensa à la fois ), Julianne Moore (linda e cada vez mais expert em interpretar histéricas; sua risada nervosa é sempre imperdível), a lindíssima trilha sonora (vale a pena comprar) e o clima sexy de muitas cenas fazem de A Single Man um filme especial e um favorito (como Gosford Park do Altman).
George Falconer (Colin Firth), o professor universitário inglês que vive e leciona em uma universidade em Los Angeles, acaba de perder seu companheiro de 16 anos. A dor e a sua história com Jim (Matthew Goode) é contada através de flashbacks em um dia na vida de George, que acompanhamos através de relógios. Do momento em que ele acorda à madrugada do dia seguinte no ano de 1962, quando seus desejos vão de encontro ao destino.
Na sociedade norte-americana conservadora e tradicional da época, a realidade de George e Jim é confrontada com a vida de seus vizinhos: uma família formada por um homem (o lindo Teddy Sears, infelizmente em aparição relâmpago, mas ainda assim, muitíssimo bem-vestido), sua mulher e seus três filhos. E, nesse caso, o autor não é nada imparcial: apesar da aparente perfeição, o autor faz questão de desconstruir o mito da família heterossexual perfeita (há problemas no casamento, dois filhos são sádicos – me fez lembrar A Fita Branca – e um subentende-se gay ). Já George e Jim são o casal perfeito, sem conflitos e tiveram entre si um amor verdadeiro (apesar da desconfiança de Charlie de que amor entre dois homens não é uma possibilidade). (E o filme é dedicado à Richard Buckley, companheiro de longa data de Tom Ford).
Cenas de grande apelo visual (ele acordando de um pesadelo com os lençóis brancos manchados por uma caneta tinteiro e sujando levemente sua boca – como uma gueixa), sutilmente cômicas (George no toilette lendo Huxley e também se preparando para o seu fim) – bem ao estilo sorriso-canto-de-boca-marca-registrada de Mr. Ford –, assim como as discussões sobre o passado, o presente e o futuro, fazem de Single Man um must-see para quem gosta de cinema e moda.
Charlie, personagem da ótima Julianne Moore em A Single Man