Abadia de Westminster: Meu passeio obrigatório em todas as vezes que vou a Londres
Construída no século 11 e reconstruída em estilo gótico no século 13, a Abadia de Westminster não é católica nem protestante, é anglicana (mas foi católica até Henrique 8º, no século 16, romper com o Vaticano). Sua autoridade máxima não é papa, rabino ou pajé, mas uma mulher, Her Majesty The Queen of England, a rainha Elizabeth 2ª, que além de chefe de Estado é também a chefe da Igreja da Inglaterra. É o sítio religioso mais importante não só de Londres, mas do Reino Unido e também dos quinze domínios da Commonwealth (de 53) que ainda reconhecem a monarca britânica como chefe de Estado.
Assim como todos os reis franceses foram coroados na Catedral de Reims desde 1027, todos os reis ingleses foram coroados aqui, nesta abadia em Londres, desde 1066, desde o normando Guilherme, o Conquistador (William the Conqueror, em inglês), que assumiu o trono com a morte de Eduardo, o Confessor.
E não vivia só de coroações: a abadia foi e continua sendo palco de casamentos reais (a Rainha Elizabeth 2ª e o Príncipe Philip se casaram aqui, assim como o Príncipe William e Kate Middleton) e funerais (a abadia foi o local do funeral da Princesa Diana) e funcionou como cemitério da realeza até 1760 (o rei George 2º foi o último), quando reis e rainhas passaram a ser enterrados perto do Castelo de Windsor, fora de Londres, em Berkshire.
Ao todo, estão enterrados aqui 18 monarcas (e seus cônjuges) — incluindo o Eduardo, o Confessor, em 1066, o primeiríssimo a ser enterrado na abadia, e a incrível Elizabeth 1ª, em 1603 —; oito primeiros-ministros britânicos; e pessoas importantes para as artes e as ciências, como o naturalista Charles Darwin (1882), o cientista Isaac Newton (1727), o poeta Geoffrey Chaucer (1400), o escritor Charles Dickens (1870), o compositor Georg Haendel (1759), o ator Laurence Olivier (1907), entre muitos outros, cujos túmulos você pode visitar.
A DIFERENÇA ENTRE TÚMULOS E MEMORIAIS
Westminster Abbey é um grande cemitério com mais de três mil túmulos. Caminhar pelas naves laterais da abadia é caminhar sobre — e entre — centenas de sepulturas de gente graúda (no chão, nas paredes, nas colunas, tudo meio torto, meio desorganizado; iam colocando onde dava).
Mas nem todas as placas que você vir aqui são túmulos: se você for ao Poet’s Corner, por exemplo (passando o coro à direita), você verá placas de Jane Austen, Lord Byron, William Shakespeare e Oscar Wilde, apesar de eles NÃO estarem enterrados aqui (Sir Winston Churchill também não). Essas placas levam o nome de memoriais e são apenas um reconhecimento da importância dessas pessoas para o país.
O ÚNICO TÚMULO SOBRE O QUAL VOCÊ NÃO PODE PISAR
Se você vier a Londres em novembro, você verá muita gente na rua ou na TV (mas muita mesmo) usando uma florzinha de papel vermelho como broche. Elas são as poppies (flor da papoula) que os britânicos usam para relembrar os combatentes mortos na Primeira Guerra Mundial (o Remembrance Day, comemorado no dia 11 de novembro, o dia do fim da guerra em 1918).
E o Túmulo do Soldado Desconhecido, que fica bem em frente à entrada principal da abadia (nós, visitantes entramos pela lateral), está sempre rodeado dessas florezinhas artificiais que são confeccionadas por voluntários para serem distribuídas em troca de doações revertidas para ajudar aqueles que servem ou serviram nas Forças Armadas Britânicas.
Esse soldado anônimo que morreu em alguma batalha da Primeira Guerra Mundial foi enterrado aqui no dia 11 de novembro de 1920. E, apesar de ser a única sepultura de alguém sem nome e sobrenome, sem qualquer identidade, é o único túmulo em toda a abadia sobre o qual você não pode pisar (todos os outros, nobres e importantes, estão sendo pisoteados diariamente por turistas de todo o mundo).
AS INIMIGAS ELIZABETH I & MARY TUDOR & MARY QUEEN OF SCOTS
Essa é a uma das histórias mais incríveis da Abadia (e, pra mim, da história). Envolve duas meias-irmãs e uma prima; duas Marias, católicas fervorosas, e uma Elizabeth, protestante; as três, RAINHAS.
A rainha Mary I da Inglaterra, católica (apesar de seu pai, Henrique 8º, ter rompido com o catolicismo), mandou para fogueira centenas de protestantes, quando ganhou o apelido que viraria um drinque séculos depois: era conhecida como the Bloody Mary, a Maria Sanguinária. E enquanto rainha, mandou prender sua meia-irmã, Elizabeth, protestante, que ficou na Torre de Londres por quase um ano… morrendo de medo, já que tinha sido lá que sua mãe, Ana Bolena, havia sido decapitada, a mando de seu pai. E por bem pouco ela própria não teve o mesmo destino da mãe.
Quando Elizabeth assume o trono e se torna uma das rainhas mais inesquecíveis da história da Inglaterra, sua prima, a também Mary I (também católica, mas essa da Escócia), forçada a abdicar do trono escocês por causa de seu terceiro casamento com um vigarista, vem para o sul encontrar o apoio de ingleses católicos para usurpar o trono de sua prima, a também rainha, Elizabeth, que a mantém presa por muitos anos. E, uma vez descoberta a traição, é obrigada a mandar decapitar a prima.
E é o filho de Mary-católica-decapitada-Queen-of-Scots que sucede Elizabeth 1ª no trono britânico. E ele pega os restos mortais da mãe e, na Abadia de Westminster, constrói uma capela, de frente para a capela de Elizabeth I, com a mesma imponência e beleza.
Já Mary-I-sanguinária-da-Inglaterra está enterrada na capela de Elizabeth. As três descansam juntas há cinco séculos. Por isso, não deixe de prestá-las uma visita.
A abadia é um lugar de oração, onde é proibido usar o celular e tirar fotos ou filmar. Respeite.
A Abadia de Westminster fica ao lado do Big Ben e das Houses of Parliamente. Imagem: Divulgação
A nave da Abadia de Westminster. Imagem: Divulgação
A catedral gótica erguida no século 13 por Henrique 3º que substituiu a primeira construção do século 11 idealizada por Eduardo, o Confessor. Imagem: Shoichi Iwashita
O jardim do mosteiro, que você também pode visitar. Imagem: Shoichi Iwashita
A Abadia num dia nublado. Imagem: Shoichi Iwashita
O túmulo do compositor Georg Haendel no transepto sul da Abadia de Westminster. Imagem: Divulgação