Alain Ducasse, a matriz
Apesar de não resultar em uma refeição empolgante, uma visita à matriz do império Alain Ducasse no mundo vale — para quem leva comida a sério — pela altíssima qualidade dos ingredientes. Do caviar à lagosta, passando pelas vieiras — nunca as tinha comido tão grandes e tão suculentas — ao frango de Bresse (até a carne do peito é úmida e macia, além de ser uma das especialidades do chef gascão), tudo é o melhor e da melhor procedência. E, talvez, seja esse o maior mérito de Ducasse e de seu chef executivo, Christophe Saintagne: o de preparar ingredientes muitíssimo bem selecionados de maneira que se possa sentir seu gosto verdadeiro, no seu melhor estado, sem malabarismos (o que me lembra um pouco o purismo e a sutileza da gastronomia fria japonesa; se o peixe não estiver bom, não há tempero ou cozimento que disfarce a textura ou o sabor). O menu todo — incluindo as sobremesas — cabe em uma única folha; só frente. É o essencial, no sabor e na oferta, levado às últimas consequências.
No Plaza Athénée, o salão, decorado por Patrick Jouin, reflete essa visão. Apesar da discreta boiserie nas paredes antigas, o restaurante em tons de cinza e teto dourado é bem iluminado (a “explosão de cristais” como lustres no teto é genial); as linhas são simples e contemporâneas; as mesas, espaçosas; e as cadeiras de plástico e couro, exclusivamente desenhadas para o salão, confortáveis – tem até uma tabuazinha lateral que sai de dentro da cadeira para acomodar a bolsa – e “sólidas”, o que também quer dizer “pesadas”: não tente sair da mesa sozinho. Mas isso não será problema: dificilmente você encontrará outro restaurante no mundo com tamanho esmero no serviço, e o staff estará sempre atento quando você precisar (são 55 em um salão que acomoda 50 comensais; é lindo ser tão bem servido). Já no Meurice, onde o restaurante está instalado até que o Plaza reabra na primavera de 2014, o salão não poderia ser mais luxuoso: ambiente histórico, pé-direito alto, chão em mosaico, colunas em mármore, ricas paredes, e discretamente repaginado por Philippe Starck.
Outro destaque — e charme — do Alain Ducasse flagship – além dos impecáveis nós das gravatas de todo staff (só um verdadeiro gentleman consegue nós tão precisos) — são os carrinhos em madeira, pedra e acessórios em prata que atendem a todas as necessidades do serviço. Tem o carrinho dos aperitivos, o carrinho para trinchar (peça um pombo e se encante com o trincho perfeito do maître), o delicioso carrinho de queijos, o carrinho das balas e das guimauves, e o mais charmoso: o carrinho de chás, um mini-jardim em que as ervas, ainda plantadas, são cortadas e preparadas na sua frente.
E lembrar nunca é demais: se for se aventurar no Menu Collection (o menu-degustação com as especialidades do chef composto por três pratos do cardápio servidos em meia porção, mais queijos e sobremesa) e não for daqueles que comem muito, não coma nada (nem um inofensivo sanduichinho de pepino) no chá da tarde. Os pratos são muito bem servidos e não “limpar” o prato nas grandes mesas de Paris está fora de questão. Por consideração ao chef, aos incríveis ingredientes e à perfeição técnica dessas grandes estrelas da gastronomia mundial.
O Plaza Athénée está reformando e o Ducasse foi transferido temporariamente para o belíssimo salão do Meurice, hotel que também pertence à Dorchester Collection depois da saída do incrível Yannick Alléno, que foi para Courchevel. O Plaza Athénée reabre no verão de 2014 e parece que Ducasse vai manter restaurantes em ambos os hotéis. Resta saber como Ducasse vai criar identidades diferentes para restaurantes tão próximos geograficamente. Para saber mais, clique aqui.