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Búzios: Com as mais belas praias do litoral fluminense (e pouca chuva), o balneário é também o mais completo destino de verão do Brasil

Entre a Praia do Canto e a Praia dos Ossos, a região central de Búzios, as centenas de barcos de pescadores formam uma das imagens icônicas desta península que mais parece uma ilha e entrou no mapa dos viajantes — principalmente brasileiros, franceses e argentinos — na década de 1960. Imagem: Shoichi Iwashita

Do cavaleiro Villegagnon, que fundou no século 16 a França Antártica na costa do que é hoje o estado do Rio de Janeiro, à Brigitte Bardot, que em 1964 e 1965 passou meses nessa aldeia de pescadores sem água encanada e eletricidade fugindo dos paparazzi na Cidade Maravilhosa, é dos franceses o mérito pela descoberta — e fama — deste belo balneário que é o destino de praia mais completo do litoral brasileiro (só nunca vou entender essa comparação com Saint-Tropez, porque são destinos completamente diferentes). E que não só possui algumas das mais belas praias do Brasil como também um microclima mais-que-perfeito: a temperatura raramente cai abaixo dos 23 graus (mesmo no inverno) e o índice pluviométrico anual é de apenas 750 mm; para efeitos de comparação, na cidade do Rio de Janeiro e Angra dos Reis chove o dobro anualmente.

Terra dos tupinambás aliados dos franceses que, por isso, foram dizimados pelos portugueses, a Armação dos Búzios foi base de piratas contrabandistas de pau-brasil, ponto de desembarque clandestino de escravos africanos quando a escravidão já tinha sido abolida e é uma península que mais parece ilha. São 23 praias espalhadas pelos quatro pontos cardeais com uma particularidade: várias delas têm uma “irmazinha gêmea” que é quase uma extensão da faixa de areia principal; o caso das praias de Azeda e Azedinha, João Fernandes e João Fernandinho, e Ferradura e Ferradurinha (só essas que não são vizinhas, a Ferradurinha fica mais próxima de Geribá que da Ferradura).

Com o nome de “armação” porque no século 18 havia essa estrutura no mar para capturar de peixes a baleias (que dá nome também à Praia dos Ossos, onde ficavam as carcaças desses mamíferos gigantes para que eles extraíssem o óleo); “búzios” porque as praias eram cheias desses moluscos-com-conchas; e as estátuas icônicas de Brigitte Bardot, Juscelino Kubitschek e a dos Três Pescadores na agradável Orla Bardot — todas em bronze e assinadas pela escultora paulistana Christina Motta —, Búzios tem também livrarias e cinema (o Gran Cine Bardot na Rua das Pedras, onde acontece o Búzios Cine Festival, e como eu amo destinos de verão e de inverno com livrarias); ótimos hotéis e restaurantes (com uma importante herança francesa); praias belíssimas rodeadas por montanhas, pedras e muita vegetação (as voltadas para o sul com águas mais frias, e as para o norte mais quentinhas); e um clima que beira à perfeição. Ou seja, é um destino de praia completo e elegante não só para conhecer mas para frequentar.

COMO CHEGAR CONFORTAVELMENTE A BÚZIOS DE SÃO PAULO E DO RIO

A Praia da Azeda, acessível por uma ruazinha a partir da Praia dos Ossos, tem essa inesperada casa pé-na-areia. Seguindo por um caminho (à esquerda na foto), se chega à Praia Azedinha. Imagem: Shoichi Iwashita

Como são oito horas de viagem de carro de São Paulo, vale para os paulistanos pegar um avião tanto faz até o Galeão ou o Santos Dumont (esse apenas cinco quilômetros mais perto) e, de lá, pegar um helicóptero (45 minutos de voo e a partir de R$ 6.000 o trecho, descendo no heliponto do hotel Insólito, bem na praia da Ferradura) ou alugar ou contratar um carro com motorista para te levar ao hotel em Búzios, que vai levar de 2h30 a três horas e vai custar R$ 400 o transfer (tudo bem que se não fosse a velocidade máxima da estrada de 80 km/h e vários radares-pegadinha que mudam de repente o limite para 60 km/h, seria bem mais fácil e rápido o trajeto).

AS PRAIAS VIVIDAS DA AREIA E VISTAS DO MAR

A Azedinha, praia pequenina, que deve ser evitada nos fins de semana e na alta temporada. Imagem: Shoichi Iwashita

Construída na década de 1740, a Igreja Sant’Anna é a única construção existente da época em que Búzios era um importante entreposto de caça às baleias do Brasil colônia (entre 1728 e 1768) e fica em uma elevação entre a Praia da Armação e a Praia dos Ossos com uma bela vista para o mar. Atrás da igreja, fica um cemitério de escravos. Imagem: Shoichi Iwashita

As ruazinhas entre a Praia da Armação e a Praia dos Ossos. Imagem: Shoichi Iwashita

O footing entre a Orla Bardot e a Rua da Pedras — trecho que ganha vida com o entardecer e vai até altas horas com o movimento das lojas, bares, restaurantes e baladas — coincide com a paisagem marítima repleta de pequenos barcos coloridos de madeira que abrange a Praia do Canto, a Orla Bardot, a Praia da Armação e a Praia dos Ossos; que, junto com o casario colonial e a Igreja de Sant’Anna, formam a mais charmosa e central região de Búzios, apesar de não ter as praias mais interessantes para banho. É na Orla Bardot também onde estão os melhores hotéis da cidade.

E é preciso ter carro para explorar as 23 praias de Búzios (eu gosto de ter um carro para fechar as coisas dentro, tipo uma troca de roupa, e ficar livre para explorar). E aí, é só escolher a faixa de areia que combina mais com o que você está buscando no momento: se você quer estrutura e serviço, algo mais naturalmente selvagem ou ainda a possibilidade de curtir a praia e o mar como veio ao mundo sem infringir a lei. Só prefira sempre os dias de semana na baixa temporada para não enfrentar areias desconfortavelmente lotadas.

Essa é a minha experiência de praia favorita. A 25 minutos a pé ou sete minutinhos de carro da Orla Bardot, na Praia Brava (tem esse nome por causa do mar “bravo” mesmo), você vai encontrar uma bela vista e dois beach clubs com muito conforto, música e ótima comida: o Silk e o Rocka, que vai bem além de ser um restaurante de praia, com pães feitos na casa, horta orgânica própria e pratos elaborados e bem apresentados, o que faz dele um dos melhores restaurantes de Búzios (é bom reservar para pegar os melhores lugares no lindo gramado-com-vista). E o que eu mais amo na Praia Brava é que basta você pegar uma trilha em meio à vegetação, em uma caminhada de 20 minutos, para você chegar à pequena e aconchegante Olho de Boi, a praia nudista de Búzios, para você viver a natureza com toda a liberdade. Mas atenção: na Olho de Boi, o sol vai embora cedo por causa da sombra da montanha e a nudez é obrigatória, respeite.

Das outras praias, sem estrutura mas com ambulantes, gosto das menores Azeda e Azedinha, acessíveis por uma cinematográfica escada-mirante a partir de uma ruazinha que sai da Praia dos Ossos, e a João Fernandes e João Fernandinho, todas as quatro na ponta norte da península, próximas à Orla Bardot. E todas essas praias são atendidas pelos aquatáxis, pequenos barcos com capacidade para até sete pessoas, que circulam pelas praias de Manguinhos (onde fica o mercado de peixes e o Porto da Barra, um complexo de lojas, bares e restaurantes, e de onde se assiste a um lindo pôr do sol, leia mais abaixo), Tartaruga, Azeda, João Fernandes e João Fernandinho. As corridas custam entre de R$ 10 a R$ 30 por pessoa e tenha sempre dinheiro vivo para ficar indo-e-vindo e circulando pelas praias.

Os aquatáxis são uma divertida maneira de circular entre as praias. Vale como passeio. Imagem: Shoichi Iwashita

PASSEIO DE BARCO DE PESCADOR, MAIS PRIVATIVO E AUTÊNTICO

Búzios tem uma rica vegetação, semelhante à da caatinga. Imagem: Shoichi Iwashita

A escada que dá acesso à Praia da Azeda vista do barco. Imagem: Shoichi Iwashita

Destinos de praia sempre pedem um passeio de barco para acessar praias mais difíceis e ver o destino de outra perspectiva. Das mais de 25 lanchas e iates disponíveis para locação do portfólio da Bubo Brazil, o Be Happy é o único barco de pescador autêntico, todo de madeira e equipado com churrasqueira para grelhar peixes e legumes. A capacidade máxima é de 15 pessoas, mas ele não tem espaço para todo mundo aproveitar confortavelmente (tipo, sentar, deitar). Prefira grupos menores, com cinco ou sete pessoas, e calcule R$ 1.000 para um passeio tranquilo de quatro horas passando por diferentes praias, parando para nadar ou andar de stand-up-paddle, comendo, bebendo e tomando um sol.  Telefone e Whatsapp da Bubo Brasil: 21 / 98789-4590 e 22 / 99820-0888.

ONDE CURTIR O PÔR DO SOL EM BÚZIOS?

O pôr do sol da piscina da Pousada Vila d’Este. Imagem: Shoichi Iwashita

No Bar dos Pescadores, em frente ao Mercado do Porto, na Praia de Manguinhos, retratos de pescadores buzianos decoram as paredes. Imagem: Shoichi Iwashita

Diferentemente de Trancoso, Búzios é repleta de pores do sol. Seja a bordo de um barco, da praia da Azeda ou ainda dos terraços dos hotéis da Orla Bardot — como o Vila d’Este e o Casas Brancas —, outro ponto a ser considerado para assistir ao pôr do sol (já que a praia não é tão atraente), é o Porto da Barra na Praia de Manguinhos, um complexo de 14 mil metros quadrados com lojas, bares e restaurantes à beira-mar. Quase parte do complexo está também as cinco peixarias do Mercado do Porto, que revendem a produção dos mais de 100 pescadores da região. Em frente, está o simples e autêntico Bar dos Pescadores, que pertence a uma cooperativa, cujas paredes são decoradas com pinturas de pescadores que fizeram a história de Búzios.

BOA COMIDA TAMBÉM NA RUA DAS PEDRAS

Parte da Pousada do Sol e com essa entrada discreta na Rua das Pedras, o Cigalon é um dos mais charmosos restaurantes de Búzios. Imagem: Shoichi Iwashita

O ambiente para jantar do Cigalon, restaurante que fica aberto o dia todo e tem vista para a Praia do Canto. Imagem: Shoichi Iwashita

Massa recheada com espinafre e ricota muito bem feita. Imagem: Shoichi Iwashita

Se o passeio a pé pela Rua das Pedras tem seu charme apesar da quantidade de pessoas e das lojas de marcas óbvias, o calçamento mais famoso de Búzios tem o Cigalon, um dos restaurantes-a-frequentar em Búzios. Com uma cozinha de base francesa bem executada pela chef argentina Sonia Persiani, esse restaurante que leva o nome de um filme francês de 1935 (!), sobre um arrogante chef da Provence, tem ambiente romântico a luz de velas no jantar; cardápio enxuto mas variado (poderia ter mais opções vegetarianas, no entanto); e nunca fecha, do café da manhã ao jantar, o que eu amo, ficando aberto das 8h à meia-noite. Para reservas, é só ligar no telefone 22 / 2623-0932.

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Shoichi Iwashita

Compulsivo por informação e colecionador de moleskines com anotações de viagens e restaurantes, Shoichi Iwashita se dedica a compartilhar seu repertório através das matérias que escreve para a Simonde e revistas como Robb Report Brasil, TOP Destinos, The Traveller, Luxury Travel e Unquiet.

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