As muitas faces de todos nós
Na era maniqueísta em que vivemos, ou você é lindo, do bem, “incrível” ou você é do mal; ou você é PT ou você é PSDB; ou você é preto ou branco – cinquenta tons de cinza, parece, só em literatura de qualidade duvidosa. É como se não tivéssemos todas as qualidades e defeitos em potencial dentro de nós. Eu, por exemplo, me percebo ora generoso ora egoísta; posso ser um grande amigo, mas também um chato insuportável. Depende da situação, do contexto, com quem. Por que os grandes homens, mesmo eles, seriam diferentes? E é interessante como isso reverbera nos nossos “ídolos”, seja com Mandela, com Gandhi, ou com Jesus. Todos são idolatrados e considerados seres “iluminados”. Mas, Mandela foi adepto da luta armada contra o regime racista (foi condenado à prisão perpétua por planejar ações armadas) e próximo de líderes comunistas (Castro, Guevara, Khadafi, Arafat, líderes que as potências ocidentais – e muitos de nós – desprezam); Gandhi, que nunca abaixou a cabeça, era simpático à jihad; e Jesus foi um revolucionário com “R” maiúsculo (“bem aventurados os pobres de espírito pois é deles o reindo dos céus”, ou ainda: “quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas! Porque é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus.”). Todos eram obcecados com suas convicções e, talvez por isso, contribuíram imensamente com o curso da história. Mas fico pensando se a maioria das pessoas que hoje escrevem lindos textos sobre esses “mestres” inspiradores e imaculados gostariam de tê-los como empregados ou mesmo como amigos. Afinal, quem hoje em dia gostaria de pertencer à turma de um cara que anda com prostitutas e leprosos ou de outro que só vestia trapos?Na obra do artista italiano Marco Cianfanelli, construída em Howick, KwaZulu-Natal, na África, 50 colunas de aço de até 10 metros de altura espalhadas por 35 metros formam a imagem de Nelson Mandela quando observada de um ângulo específico. Para ver a escultura vista de outro ângulo, clique aqui.