Casa do Estevão, Paraisópolis
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Uma casa que não tem sequer uma parede reta, um chão que não seja torto. Uma casa que não tem telhado, mas sim um jardim suspenso no teto — sem chão (veja na galeria de fotos) — e que, ainda assim, não tem o seu interior molhado quando chove. Uma casa que é construída no dia a dia, todos os dias por seu Estevão, até hoje, há 29 anos, em Paraisópolis, a segunda maior comunidade da cidade de São Paulo (a primeira é Heliópolis), ali, ao lado dos casarões do Morumbi. E, por motivos de segurança, é aconselhável ir até lá acompanhado de um guia.
Seu Estevão é jardineiro em um condomínio de luxo no Jardim Paulistano, e a sua casa — um castelinho mágico que lembra uma casa de árvore grandiosa — é formada por diversos arcos — centenas deles — de arame e cimento com objetos incrustados (pedras, pratos de porcelana, azulejos quebrados, celulares antigos, escovas de dentes, brinquedos, you name it — tem até uma máquina de escrever!), objetos esses que ele compra em feirinhas e bazares em toda a cidade.
Visitar a casa é como entrar num universo paralelo, numa gruta, numa alucinação onírica, e é preciso coragem para subir ao jardim suspenso no topo da construção, onde você vai encontrar cadeiras-esculturas (fixas no cimento e em diferentes níveis) para apreciar a vista da comunidade, além de pés de café, jabuticaba, orquídeas. Segurança não foi uma das preocupações do seu Estevão, e é preciso força para subir e descer de degraus que mal se veem segurando com força em barras de metal e escadas de piscina com o cuidado para não bater a cabeça em alguma peça.
Imaginar que essa casa é habitada por uma família é ainda mais impressionante. No dia em que a visitamos, Enrique, filho de Estevão, que tem uma bolsa no tradicional colégio alemão Porto Seguro, estudava para duas provas; Edilene, sua sorridente esposa nos mostrava seu quarto e o de seus dois filhos. Imaginar duas crianças crescendo na Casa de Pedra — quando sempre nos preocupamos com a segurança dos pequenos — também nos faz pensar (e eu imagino também a invejinha que os amiguinhos devem sentir dos dois, já que é como habitar o cenário do Castelo Rá-Tim-Bum! :-).
Claro que a primeira referência que vem à mente quando da visita à casa do seu Estevão é o Parc Güell, de Gaudí, em Barcelona. Mas nenhum artista gosta de ter sua arte comparada a de outro.[nggallery id=89]