Chique é xixi no corredor
Por mais de cinquenta anos, de 1682 (quando a corte se muda para a Versalhes) a 1738 (quando Luís 15 encomenda o primeiro banheiro com vaso sanitário), o Palácio de Versalhes — com 2300 ambientes e uma corte de quase 20 mil pessoas (cinco mil morando no château) — não tinha NENHUM banheiro. E o primeiro banheiro — luxuosamente projetado e construído apenas em 1738 — era de uso exclusivo do rei. O que faziam os outros milhares? Damas da corte como a princesa d’Harcourt (sim, PRINCESA), após uma farta refeição, simplesmente saíam da sala de jantar, arregaçavam as volumosas saias e se aliviavam no corredor. Já o duque de Vendôme (sim, DUQUE, um dos mais altos graus da hierarquia nobiliárquica), herói de guerra e figura poderosa em Versalhes, como era muito rico, tinha uma chaise percée (em português, uma cadeira “furada”), que era um assento sanitário. E ele fazia suas necessidades na frente de qualquer um. Mas qualquer um mesmo. Certa vez, o bispo de Parma chegou ao palácio em uma missão diplomática e encontrou Vendôme fazendo o número dois em sua cadeira. E o bispo, um “estrangeiro”, ficou horrorizado quando, no meio das negociações, o duque se levantou e começou a limpar o bumbum, ali, bem na sua frente. Esse era o comportamento padrão em Versalhes; entre nobres e plebeus. Comentava-se que alguns dos corredores dourados do suntuoso château, muito frequentado pelas damas necessitadas, ainda exalavam um odor torturante mesmo muito tempo depois de a Revolução ter dado fim à corte. Fonte: Livro O Século do Conforto, de Joan DeJean, da Editora Civilização Brasileira.
São Paulo, 19 de março de 2013.