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EVITE: Por que eu tenho pavor de cruzeiros nesses navios cada vez maiores

O embarque é uma bagunça (principalmente nos portos brasileiros). A decoração é sempre over, numa mistura de parque de diversões, Las Vegas e Emirados Árabes. As piscinas são de água salgada. E são lotadas. E barulhentas. Ah, ainda tem sempre aqueles que, antes do café da manhã, já passam na piscina e deixam suas bolsas e toalhas sobre as espreguiçadeiras para garantir lugar.

Para jantar, o restaurante é fixo, o horário é fixo, a mesa é fixa e se você se atrasar porque decidiu tirar aquele cochilinho de fim da tarde (teu horário de jantar pode estar marcado para às 19h), você não vai mais consguir ter uma refeição, vai ter de ir pro restaurante bandejão comer junk food; e lá, até você pegar o arroz e encontrar o feijão, no mesmo balcão mas a 500 metros de distância, sua comida já chegará à mesa fria.

Nos cardápios de sobremesa você vai ler “cheesecake de manga com coco”, “parfait de chocolate” e só vai sentir o sabor de um creme doce gorduroso, com textura de gordura vegetal hidrogenada, não importa se você estiver comendo no bandejão ou no restaurante exclusivo para as cabines mais caras (eu desafio você a comer o cheesecake de manga com coco e identificar os sabores das frutas). A mesma coisa com as pizzas — a panificação nos navios é boa, é o que nos salva muitas vezes —: você vai ver quatro ou cinco opções de sabores, mas só vai sentir o sabor da massa com molho de tomate e uma sujeira de queijo. Opções saudáveis? Simplesmente esqueça.

O serviço é sempre impessoal, apressado, frio, quando não antipático (tente mudar de mesa durante o jantar porque colocaram você e o seu namorado numa mesa e seus pais na mesa ao lado!). Por isso, prefira comer nos restaurantes alternativos. Você paga pelas refeições — nada caro, US$ 8, US$ 10, o prato, mas também nada grandes —, mas a experiência será um pouco melhor.

Nas paradas, você vai ficar apenas algumas horas em cada cidade, mesmo que essa cidade seja linda, tenha uma oferta incrível de coisas a fazer e conhecer e você queira passar lá o resto dos seus dias (como em Santorini, na Grécia). Como os navios muito grandes não conseguem ancorar próximos aos píeres, você terá de pegar um barco menor, um tender, para chegar até à costa. Aí, se fizerem o desserviço de incluir Angra dos Reis no seu roteiro, todos os passageiros vão ficar quinze minutos em terra e já vão querer voltar para o navio. Conclusão: fila enorme para voltar para pegar o barquinho.

O wi-fi existe em todo o navio, mas é caríssimo. No dia do desembarque, você terá de deixar o quarto às 7h em ponto (sem falar que você tem de deixar as malas, prontas e fechadas, à 1h da manhã para fora da cabine). Se não, vai ouvir murros na porta, te expulsando; mesmo que seu desembarque esteja marcado para as 10h (alguns navios possuem um serviço mais exclusivo para passageiros em cabines superiores, mas na maioria deles, você terá de esperar e esperar num salão cheio de gente com sacolas a chamada do seu grupo para desembarcar).

Sem falar que, nesses navios cada vez maiores, você vai andar, andar, andar (dependendo do seu condicionamento físico, é normal sentir dores nas pernas no primeiro dia)… Num mundo que adora publicizar e enaltecer os maiores, afirmo com segurança: os navios maiores não são os melhores. E eles podem ser tudo — até divertidos se você estiver num grupo grande de familiares e amigos —, menos charmosos ou românticos. Por isso, se você estiver pretendendo fazer um cruzeiro com sua cara metade nesses navios com 18 andares e 5 mil passageiros, reconsidere.

Shoichi Iwashita

Compulsivo por informação e colecionador de moleskines com anotações de viagens e restaurantes, Shoichi Iwashita se dedica a compartilhar seu repertório através das matérias que escreve para a Simonde e revistas como Robb Report Brasil, TOP Destinos, The Traveller, Luxury Travel e Unquiet.

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