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Hautvillers, o berço do champagne

Apesar de exercer um papel importante na indústria do champagne, Reims é uma cidade maior, com sistema de transporte público, bons hotéis, restaurantes, vida noturna. E, justamente por isso, escapar para Hautvillers, onde nasceu o champagne, e Épernay é tão especial.

No alto de uma colina (coteau, em francês) no vale do Marne (onde é plantada a cépage pinot meunier, que junto com a chardonnay  e a pinot noir  formam a tríade de uvas que compõem o champagne ), Hautvillers, que quer dizer “cidade alta”, fica no caminho entre Reims e Épernay. É um vilarejo de ruas pequeninas e curvas, 850 habitantes e lindas vistas para os vinhedos do Marne, ao Sul. (Você pode reservar duas horas para a visita em Hautvillers).

Outra característica charmosa do vilarejo são as mais de 140 placas (que, na verdade, não são “placas”) de ferro que ficam em frente às casas, cada uma indicando ou contando uma história sobre o morador que lá vive ou viveu.

Foi aqui em Hautvillers, praticamente no meio da floresta onde fica hoje o Parc naturel de la Montagne de Reims, que os preceitos da enologia moderna foram fundamentadas por um monge beneditino ultra dedicado chamado Pierre Pérignon.

DOM PÉRIGNON

A chegada de Dom Pérignon à Abadia de Hautvillers (que hoje pertence à Moët & Chandon, cujo prestige cuvée millésimée leva o nome do monge beneditino) em 1668 foi um milagre. Com a violência entre os feudos, saques e incêndios provocados por vândalos fora da lei, quase todos os monges haviam fugido (a abadia havia sido completamente incendiada pelo menos quatro vezes) e as vinhas estavam abandonadas. É nesta abadia que Dom Pérignon viveria por 47 anos, todos dedicados ao vinho, até sua morte (hoje, o Dom descansa em frente ao coro da abadia).

Diferentemente do que se conta, o dedicado monge não era cego, não possuía uma receita secreta para produzir champagne  e nunca disse a célebre frase “Estou a beber estrelas”.

Na verdade, Dom Pérignon passou grande parte da vida lutando contra as “bolhas estelares” que se formavam nos vinhos, que, na época, era considerado um defeito. Como a região da Champagne é fria (e naquela época Louis Pasteur ainda não tinha descoberto a existência dos fungos e do gás carbônico), os vinhos passavam por uma primeira fermentação logo depois de engarrafados (as colheitas acontecem em setembro), descansavam durante o frio inverno, e depois da “lua de março” quando a temperatura começava a subir, o vinho começava a “se agitar” num processo de fermentação secundária. E aí, os vinhos borbulhavam, garrafas explodiam. Muitos trabalhadores perderam a visão com a explosão das garrafas.

ENTRA EM CENA O REI-SOL

Mas, de todo jeito, Dom Pérignon conseguiu melhorar a qualidade do vinho da Champagne e logo conquistou o paladar do Rei-Sol, Louis 14 (viveu 77 anos e reinou até sua morte, em 1715, sempre bebendo champagne ), que passou a ser o principal propagandista do vinho da região (e não precisava de muito: bastava o rei fazer qualquer coisa para a corte francesa e todas as outras cortes do mundo copiarem). Louis 14 bebeu champagne  até a morte.

E isso melhorou muito a situação econômica dos produtores de vinho da região. Não podemos nos esquecer de que Colbert, ministro das finanças de Louis 14, criador da indústria de luxo francesa tal como a conhecemos hoje e cujo lema era “exportar ou morrer”, identificou o potencial do savoir-faire  francês como produto de exportação. E o vinho da Champagne estava entre os produtos exportados.

Dom Pérignon e Louis 14 foram os dois principais personagens que lançaram o champagne, que ainda era tinto, em sua trajetória de fama e glória. (Napoleão Bonaparte, mais à frente, seria o terceiro embaixador do champagne  no mundo).

Ambos nasceram e morreram nos mesmos anos (1639 e 1715, respectivamente). E tiveram vidas opostas. Louis 14 no luxo, Dom Pérignon na pobreza. Um com longas e encaracoladas mechas, o outro de cabeça rapada. Um de saltos, o outro de simples sandálias. Um de seda e veludo, o outro vestido com um linho marrom grosseiro. E apesar de nunca terem se encontrado em vida, mas terem se conectado pelo champagne, só concordavam numa coisa: não gostavam das bolhas no vinho. #PersonagensIndissociáveis

ALÉM DA HISTÓRIA

Para almoçar, jantar ou pernoitar em Hautvillers a nossa dica é o Royal Champagne um hotel Baglioni que faz parte da Relais & Châteaux, do ladinho de Hautvillers (10 minutos de carro), e que tem o menu-degustação Royal Champagne, com alguns pratos que levam champagne  na receita (não todos) e possui uma carta especail com os vinhos da região.

Próxima parada: Épernay.

Serviço
Hôtel Royal Champagne
Bellevue, 51160
Telefone: 33  (0) 3 / 2652-8711
www.royalchampagne.com

Este post faz parte do especial A rota do champagne.

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Shoichi Iwashita

Compulsivo por informação e colecionador de moleskines com anotações de viagens e restaurantes, Shoichi Iwashita se dedica a compartilhar seu repertório através das matérias que escreve para a Simonde e revistas como Robb Report Brasil, TOP Destinos, The Traveller, Luxury Travel e Unquiet.

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