Hôtel de Crillon: Das nobrezas francesa à saudita, a casa que virou hotel segue dos endereços mais elegantes na melhor localização de Paris; e ainda tem um dos mais belos e incríveis bares do mundo
O Hôtel de Crillon divide a fachada neoclássica projetada pelo arquiteto do rei Luís 15, Ange-Jacques Gabriel, com mais três instituições. Imagem: Shoichi Iwashita
Seja no Carlyle, em Nova York; no Las Ventanas Al Paraíso, em Los Cabos; ou no Guanahani, em Saint-Barth, tem duas coisas que acho incríveis nos hotéis Rosewood: 1. a mise-en-scène dos objetos, comidinhas mais a carta que dão as boas vindas ao hóspede no quarto, e 2. os uniformes dos funcionários, que traduzem tanto os destinos onde os hotéis estão instalados. Mas se as opiniões se dividem sobre os uniformes caricaturais do Rosewood São Paulo, no Hôtel de Crillon, em Paris, eles são tudo o que a gente pode esperar da elegância, da irreverência e da art de vivre à la française. Das saias longas plissadas em tons pastéis das meninas da recepção às mitaines (luvas sem dedos) dos porteiros passando pelos smokings das hostesses –- total Yves Saint-Laurent -–, os 400 funcionários do hotel Palace parisiense tiveram seus uniformes desenhados pelo jovem estilista Hugo Matha, de apenas 26 anos de idade.
Outra coisa me impressiona, mas, aí, especificamente no Hôtel de Crillon. Nos estabelecimentos de luxo parisienses, é mais fácil encontrar um serviço profissional mas austero-formal, ou aquele impaciente e direto demais, que beira a falta de gentileza. É aí que também se destaca o Crillon, no alto dos seus 115 anos de idade (mais outros 150 anos de história), com seu serviço jovial, sorridente, que puxa conversa e mostra interesse — de maneira nada intrusiva –-, sem deixar de cumprir com o que se espera de um atendimento de excelência. Algo raro nos dias de hoje, ainda mais porque isso reflete não só uma desenvoltura e autoconfiança dos colaboradores frente aos clientes como, na outra ponta, a liberdade que o hotel lhes confere para que se comportem de maneira mais natural.
Em uma das cinco praças reais –- e a maior praça –- de Paris, a Place de la Concorde, o Hôtel de Crillon divide com mais três inquilinos a fachada neoclássica imponente de-proporção-perfeita adornada com colunas coríntias entre a rue Royale e a Boissy d’Anglais. Fachada projetada em 1758 (a construção por trás viria depois) pelo starchitect Ange-Jacques Gabriel para glorificar seu chefe, Luís 15, rei que deu nome à praça até à Revolução Francesa em 1789. No projeto original, enquanto o edifício de fachada idêntica no quarteirão vizinho foi um depósito para abrigar a coleção de móveis reais, o lado de cá era para ter sido a sede da Monnaie, a Casa da Moeda francesa. Quando se decidiu levar a Monnaie para seu endereço atual, perto da Notre-Dame, o terreno-por-trás-da-fachada-ocidental foi dividido em quatro lotes para serem transformado em residências.
A fachada icônica do hotel voltada para a Place de la Concorde, a maior praça de Paris, onde ficam os salões históricos e as suítes mais especiais do Hôtel de Crillon. Todos os outros quartos dão para a rua Boissy d’Anglais. Imagem: Shoichi Iwashita
Talvez por ser vizinho do clube para homens Automobile Club de France, carros antigos estão sempre na frente do hotel e miniaturas de carros decoram os quartos. Imagem: Shoichi Iwashita
O lobby do hotel, apesar de elegantemente decorado, não é tão aconchegante pois é um “corredor” que leva para os elevadores e conecta a sala onde fica a recepção, o jardim de inverno — o ambiente mais agradável para ficar –, o bar Les Ambassadeurs, o concierge. Imagem: Shoichi Iwashita
Com uma carta de coquetéis-assinatura criativa e impecavelmente executada e apresentada e uma agenda musical finíssima, o bar Les Ambassadeurs, com esse décor, é indubitavelmente um dos bares mais lindos do mundo. Imagem: Shoichi Iwashita
L’Adulé: Bourbon, figo, miso e coco. Um dos drinques-assinatura do Ambassadeurs. Image: Shoichi Iwashita
As criações sazonais pâtissières do Crillon que, agora, tem a Pâtisserie Butterfly. Imagem: Shoichi Iwashita
Flores frescas, obras de arte e as mais incríveis matérias-primas decoram os ambientes do hotel. Imagem: Shoichi Iwashita
O Jardin d’Hiver tem áreas interna e externa e é o coração do hotel. Imagem: Shoichi Iwashita
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DO DUQUE DE CRILLON AO PRÍNCIPE SAUDITA, PASSANDO PELA FAMÍLIA TAITTINGER
Entre 1758 e 1907, o lote de esquina onde hoje é o Hôtel de Crillon pertenceu a particulares, incluindo o duque de Crillon e seus descendentes, até que a casa foi comprada pela empresa dona do Hôtel du Louvre, que existe até hoje, e foi transformada no hotel inaugurado em 1909. Nesses mais de 250 anos de história, o endereço mítico, 10, place de la Concorde, testemunhou importantes fatos históricos, dentro e fora de suas paredes. Se Maria Antonieta, nora de Luís 15, teve aulas de piano na residência dos Crillon –- o hotel tem hoje uma bela suíte em sua homenagem, assinado pela designer libanesa Aline d’Amman –-, anos depois, nesta mesma praça, diante de uma multidão ruidosa, ela perderia sua cabeça na guilhotina. Outras 1.200 pessoas, incluindo seu marido, o rei Luís 16, seriam decapitadas na “praça da Concórdia”, num dos capítulos mais dramáticos da história da França.
Ao longo das décadas, o Hôtel de Crillon pertenceu à família Taittinger (grupo célebre pelo champagne e que comprou a Baccarat nos anos 1990), foi vendido ao grupo Starwood Capital em 2005, que, por sua vez, revendeu o Crillon para o príncipe saudita Moutaïb ben Abdallah Al Saoud em 2010. Em 2013, o hotel fechou as portas para uma reforma completa e milionária –- que incluiu a escavação do subsolo para a construção do spa, da academia 24 horas e de uma bela piscina com luz natural, raridade em Paris; três suítes assinadas pelo estilista Karl Lagerfeld, vivo na época; e os belíssimos salões de eventos do primeiro andar, considerados patrimônio histórico –- e, em 2017, reabriria as portas sob a administração da rede de hotéis de luxo texana-devenu-honconguesa Rosewood Hotels & Resorts. Nesses quatro anos em que o hotel ficou fechado, trabalharam nas obras cinco designers de interiores, 147 empresas especialistas com mais de, 800 pessoas –- entre os quais, 250 artesãos franceses –-, muitas vezes ao mesmo tempo, utilizando as mais nobres matérias-primas trabalhadas com precisão milimétrica.
Das 124 acomodações (antes da reforma eram 146), os quartos mais simples começam com ótimos 32 metros quadrados e banheiros todos em mármore, com banheira e amenidades da incrível Officine Universelle Buly 1803; e das melhores e mais deliciosas camas do mercado. Só de olhar, os travesseiros e o edredom –- ambos da Drouault, marca francesa fundada em 1850, e envoltos em capas da Rivolta Carmignani –- parecem inflados de tão fofos. Ao deitar, é como se a cama te engolisse; e, apesar de o edredom ser muito leve, ele aquece na medida certa. Como a fachada para a place de la Concorde não é muito extensa, a grande maioria dos quartos dão para um dos dois pátios internos ou para a rua Boissy d’Anglais. Só as melhores suítes têm vista para a bela e ampla place de la Concorde.
A poucos passos das lojas de marcas da Saint-Honoré, dos museus Jeu de Paume e Orangerie nos jardins das Tuileries, e com uma estação de metrô na porta do hotel que te leva para a Opéra pela linha rosa e ao Louvre e ao Marais pela linha amarela, não há melhor localização. De qualquer forma, se hospedando ou não no Crillon, só não dá para não frequentar o Les Ambassadors, situado em um dos salões históricos do hotel onde era o restaurante homônimo. Com pé-direito alto, paredes de mármore, afrescos no teto, cornijas folheadas a ouro e móveis contemporâneos em tons de cinza-acastanhado, o bar do hotel Crillon é um dos mais belos bares do mundo.
A fachada do Crillon para a Boissy d’Anglais, onde fica a grande maioria dos quartos. Imagem: Shoichi Iwashita
O corredor que leva para os quartos e suítes. Imagem: Shoichi Iwashita
Adoro os cantinhos do Crillon e do Rosewood São Paulo, com máquina de café, drinques já prontos, uma gaveta refrigerada com bebidas. Imagem: Shoichi
A saleta da belíssima suíte Premier 215 — essa, cheia de materiais e cores e 57 metros quadrados –, onde me hospedei. Imagem: Shoichi Iwashita
Veludo, madeira, metal, gesso, flores. Imagem: Shoichi Iwashita
Boas-vindas com origami de tsuru e cartinha escrita em japonês. Imagem: Shoichi Iwashita
A continuação das boas vindas na mesa de trabalho. Imagem: Shoichi Iwashita
O quarto com o enxoval impecável. Imagem: Shoichi Iwashita
A fronha com a inicial do nome do hóspede. Simples, discreto e lindo. Imagem: Shoichi Iwashita
O banheiro é todo em mármore, com metais cromados e dourados, e muitos espelhos. Imagem: Shoichi Iwashita
Além da mini TV que fica escondida por trás do espelho da pia, tem TV também para assistir da banheira. Imagem: Shoichi Iwashita
Amenidades de banho da incrível Officine Universelle Buly 1803. Imagem: Shoichi Iwashita
O quarto depois do serviço de abertura de cama e garrafas de água sempre em vidro. Imagem: Shoichi Iwashita
Café da manhã saudável, sem deixar de lado as viennoiseires impecáveis. Imagem: Shoichi Iwashita
Vários tipos de cabine em madeira maciça no guarda-roupa. Imagem: Shoichi Iwashita
O corredor no subsolo que leva ao spa. Imagem: Shoichi Iwashita
Vários hotéis de luxo parisienses até hoje não possuem uma piscina. Quando têm, são piscinas no subsolo e sem iluminação natural. No Crillon, o teto de vidro ilumina as mais de 17.000 peças banhadas a ouro que revestem a piscina do spa Sense. Imagem: Shoichi Iwashita
A academia do hotel está aberta 24 horas. Imagem: Shoichi Iwashita
Os lindos armários do vestiário. Imagem: Shoichi Iwashita
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