José Ignacio: Um vilarejo minúsculo à beira-mar com hotéis de luxo que você não encontra nem em Montevideo
Esqueça os coqueiros e suas águas de coco geladinhas das praias tropicais e também os pinheiros parasol e os rosés do Mediterrâneo. Tomar clericot ou chá mate — amargo, quente e com um canudo de prata — junto al mar ou no calçadão (ou melhor, rambla); encontrar fogareiros nas areias dos hotéis de praia; estar integrado às paisagens dos pampas (esse bioma único do sul da América Latina) e à cultura gaucha; e aproveitar um curto mas animadíssimo verão (sem falar nos vinhos e nas empanadas) fazem da costa atlântica do Uruguai um destino balneário nada usual — e também o mais austral —, mas difícil de resistir (veja o nosso álbum de fotos comentadas ao final da matéria).
Diferentemente da herança espanhola-festeira-até-altas-horas e das aspirações miamísticas de Punta del Este, José Ignacio é um vilarejo bucólico e bourgeois-bohème a 40 km da punta — a del Este, que serve como marco divisório entre o Río de la Plata e o Oceano Atlântico —, tem apenas 290 habitantes e quase nada de história (ah, e a festa aqui tem hora para acabar: discotecas são proibidas e a música só pode ir até às 2h da manhã). Apesar da construção do farol todo em pedra em 1877 no extremo mais saliente e rochoso da península (ou seja, no cabo, uma região de navegação perigosa rodeada de recifes), José Ignacio permaneceu praticamente desabitada por grande parte do século 20, até que um pequeno grupo de famílias das altas sociedades portenha e montevideana começou a passar seus verões aqui na década de 1970, construindo suas casas em estilo mediterrâneo a orillas del mar (“a beira-mar” em espanhol; imagina: eram 26 habitantes em 1963, o telefone só chegaria às casas em 1979, 52 habitantes em 1985, e o sistema de água potável e esgoto só foram construídos em 1992).Mas não ache que a aparente rusticidade das ruas com asfalto esfarelado e cheias de areia, da vegetação rústica e dos muitos postes de energia de madeira, e dos nomes das ruas homenageando as aves locais (horneros, bigua, tordos, garzas, cisnes, gaviotas) sejam sinônimos de simplicidade. O alto nível dos hotéis em José Ignacio — que têm sobrenome, e ele é Vik — você não encontra nem em Montevideo. Na foto, a arquitetura das belas casas de José Ignacio: integradas à paisagem, respeitando a vista para o mar das casas que estão acima e ostentação zero. Imagem: Shoichi Iwashita
VIK RETREATS: TRÊS EXPERIÊNCIAS QUE SE COMPLEMENTAM E ENTREGAM O MELHOR DO DESTINO
Os três hotéis Vik de José Ignacio (tem ainda o Viña Vik, no Chile) pertencem ao polêmico magnata norueguês criado na Suécia — responsável pela maior bolha da história da bolsa de valores norte-americana durante a era ponto.com —, Alexander Vik. Apesar da mesma atmosfera artística (leia mais em breve nas matérias dedicadas a dois hotéis onde me hospedei), eles têm estilos diferentes (o Bahia e o Playa estão à beira-mar, o Estancia é uma fazenda) e a grande vantagem é que ficam muito próximos um do outro (o Bahia e o Playa estão a apenas 700 metros de distância, e o Estancia, a 10 minutos de carro) e o hóspede de um pode usar a estrutura dos três. Ou seja, você vai tomar café da manhã no Bahia, almoçar no parador anexo ao hotel, o La Susana (junto com o La Huella, o mais bem frequentado), andar a cavalo ou fazer uma aula de polo ou ainda um passeio de observação de pássaros nos pampas do Estancia, e ainda curtir o pôr do sol lindo-lindo da piscina de borda infinita e os sofás ao ar livre em volta do fogo do Playa, antes de voltar para dormir no Bahia. Sabendo que estará vivendo o que o destino tem de melhor.
COMO CHEGAR, SE LOCOMOVER E DICAS DO QUE FREQUENTAR EM JOSÉ IGNACIO
Tem de ter carro. O melhor é já retirá-lo no aeroporto de Carrasco, em Montevideo, e vir dirigindo pelo interior do país em uma viagem que vai durar duas horas. Assim, você poderá transitar pelos hotéis; frequentar outras playas hermosas e bem frequentadas como La Barra e Manantiales (a 20 minutos de José Ignacio) e por que não ir até à praia naturista de Chihuahua (pra lá de Punta)?; e conhecer a Fundación Atchugarry e passear pelo jardim de esculturas de um dos artistas mais importantes do Uruguai (que tem um trabalho em mármore incrível). Já para visitar a Colina e a Bodega Garzón, os belíssimos olival e vinícola (foto acima) onde fica o ótimo restaurante de Francis Mallmann, é melhor ir com um motorista para poder tomar vinho à vontade. Outra coisa importante: como durante a temporada o trânsito fica complicado — como diz uma placa em uma das ruas “aquí solo corre el viento…” —, tenha sempre uma bicicleta à disposição para fazer os trajetos mais curtos (já reserve a sua com a recepção do hotel para os dias da sua viagem).
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