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Montevidéu: O nosso guia da capital do Uruguai; o que fazer, onde comer

Diferentemente de Buenos Aires e apesar de compartilhar o mesmo “mar” de la Plata (que eles chamam de rio, mas nem isso é; leia mais aqui), Montevidéu tem praia. E Pocitos é a Ipanema uruguaia (não com o mesmo, mas com algum charme).

rambla, a avenida à beira-mar que muda de nome 17 vezes ao longo de 22 quilômetros, possui amplas calçadas que são parte integral da vida local. Com uma única diferença: em vez da água de coco geladinha, os montevideanos  estarão todos, no frio ou no calor, sozinhos ou mais comumente em grupo, tomando chá de yerba mate fervente (e é impressionante: da loja da operadora de telefonia aos pedágios nas estradas, você sempre verá o mate e as garrafinhas térmicas sobre as mesas dos funcionários).

E esse é o primeiro passeio essencial da viagem: caminhar ou alugar uma bicicleta para percorrer a parte mais charmosa da rambla, entre Pocitos e Punta Carretas (leia mais sobre os bairros abaixo), principalmente no fim da tarde, apreciando as paisagens e o povo uruguaio.

MONTEVIDÉU: TRANQUILIDADE E EXEMPLO DE DEMOCRACIA

A atmosfera da capital do Uruguai, com apenas 1,3 milhão de habitantes, é de segurança e tranquilidade.

Sem falar que é bom estar em um país que — apesar da ditadura implantada pelos Estados Unidos entre 1973 e 1985 na Operação Condor — tem sido, desde sua fundação, um bastião da democracia, da laicidade e do respeito aos direitos de seus cidadãos; um caso raro na América (mesmo lá em cima, na do Norte).

Imagine que em 1885 o casamento civil (e não só o religioso) se tornou obrigatório; em 1907 o divórcio foi regulamentado (70 anos antes do Brasil, sem falar do Chile, que só regulamentou o divórcio em 2004!); em 1909 o ensino religioso foi proibido nas escolas públicas; em 1915 foi aprovada a jornada de trabalho de oito horas e crianças menores de 13 anos, proibidas de trabalhar; em 1927 as mulheres passaram a ter o direito ao voto (segundo país da América depois dos EUA); em 1934 a homossexualidade foi descriminalizada; em 2007 se tornou o primeiro país do continente a permitir a união civil entre pessoas do mesmo sexo (o direito à adoção por casais homoafetivos viria em 2009, a restrição a homossexuais nas Forças Armadas seria derrubada em 2010, e o matrimônio igualitário seria aprovado em 2012!); em 2012 foi descriminalizada a interrupção da gravidez, fazendo com o que o número de mortes durante abortos caísse a zero; e em 2014 foi regulamentado o consumo da maconha, sendo o Uruguai o primeiro país do mundo a vender maconha em farmácias para cidadãos uruguaios registrados.

Sem falar que é um dos raros países onde toda a população tem acesso a água potável, educação e saúde, e ainda índices baixíssimos de corrupção.

O Uruguai, apesar de não tão rica, é a Suíça da América Latina. E o fato de não haver aquela lista enorme de museus, restaurantes, galerias e lojas para conhecer, faz com que Montevidéu seja mesmo um destino urbano para flanar relaxado, comer e beber bem, e para ser combinado, em uma road-trip, com outros lugares interessantes e únicos deste pequeno país, como José Ignacio e arredores.

PRIMEIRA PARADA: PLAZA INDEPENDENCIA E O CENTRO HISTÓRICO, NOSSA REGIÃO FAVORITA EM MONTEVIDÉU

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Marcando a separação entre o centro e a cidade velha, a Plaza Independencia e seus arredores — tudo plano, uma delícia para andar — concentram 90% dos lugares históricos, restaurantes, cafés, comidinhas e livrarias de que a gente gosta.

E basta chegar à praça — de Uber ou Cabify, não tem metrô em Montevidéu — para já se deparar com o imponente Palacio Salvo, edifício-ícone da cidade, inaugurado em 1928 como um hotel, que foi o primeiro e mais alto arranha-céu não só do país mas da América do Sul (posto que manteve até 1935).

Desenhado pelo arquiteto italiano Mario Palanti, o Salvo funcionou como hotel (com apenas um banheiro por andar) até 1969, quando foi convertido em um prédio residencial.

Hoje, em 400 apartamentos moram mais de mil pessoas e a visita é imperdível (tudo bem que a gente só pode visitar os halls  de alguns dos andares acompanhado de um guia, mas é legal ver os moradores entrando e saindo de suas casas, passar por alguns corredores minúsculos e de ângulos inimagináveis por onde saem os elevadores, e apreciar a vista da cidade lá de cima num rooftop  decadente). 

As saídas para as visitas guiadas acontecem a cada meia hora, das 10h30 às 16h nas segundas, quartas, sextas e domingos; e das 10h30 às 13h nas terças, quintas e sábados. E nas quartas, às 20h, existe uma visita noturna que deve ser interessante!

Já no centro da Plaza Independencia está o mausoléu do revolucionário oriental  José Artigas, o homem que lutou pela independência do Uruguai atrapalhando os planos do Brasil e da Argentina {saiba mais sobre essa parte da história do Uruguai, que teve sua independência assinada no Rio de Janeiro sem a presença deles, clicando aqui}.

E, estando de frente para a escultura de Artigas sobre seu cavalo, basta olhar para a esquerda para ver, separadas apenas por uma rua, tanto a Casa de Gobierno (segunda foto), a antiga sede em estilo colonial do Poder Executivo onde funciona hoje um museu (visita essencial para conhecer a história política do Uruguai), como a atual sede, agora em edifício contemporâneo de gosto duvidoso, onde fica o gabinete do Presidente da República. (Eu acho sempre incrível pensar que quase em todos os países os presidentes estão sempre nas maiores cidades do país, próximos do povo, não isolados no meio do nada como acontece no Brasil).

Na rua que segue a praça pela esquerda, a Buenos Aires, está o Teatro Solís, um dos teatros mais importantes — e com uma das melhores acústicas — da América do Sul, junto com o Colón em Buenos Aires, e sede da Comedia Nacional e da Orquesta Filarmónica de Montevideo  {clique aqui para conferir a programação de espetáculos de teatro e música do Solís}.

Seguindo pelo centro da plaza, está a Puerta de la Ciutadela, onde começa a nossa rua favorita da cidade: a Sarandí. Nesta rua exclusiva para pedestres, você passa pela Plaza Matriz e pela Catedral da cidade, e encontra não só uma das livrarias mais lindas da América do Sul, a Más Puro Verso (terceira foto), como também os ótimos e charmosos restaurantes Jacinto e Lucca, restaurantes vegetarianos, casas naturais de suco e saladas, e lojas que vendem maconha (atenção: apenas para cidadãos uruguaios registrados) e produtos derivados.

POCITOS E PUNTA CARRETAS: CHARME À BEIRA-MAR

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Se a histórica Ciudad Vieja tem aquele ar meio-decadente-meio-hipster, em Punta Carretas e Pocitos, dois bairros vizinhos de classe média alta na ponta mais meridional de Montevidéu, imperam os prédios residenciais modernistas, muitos bares, restaurantes e cafés, e também a porção mais agradável de rambla  de Montevidéu (só que a praia em Pocitos é mais bonita, para ser frequentada).

Só que pegue um Uber: apesar de, no mapa, não parecer muito longe, do centro histórico até aqui dá mais de uma hora a pé… E é em Pocitos que fica a matriz da La Dulcería Xime Torres, que parece um café de bairro, perfeita para aquele doce com café à tarde (não deixe de pedir uma fatia da Piedra, uma torta com discos crocantes, creme, nozes e cobertura de chocolate; ou da Croc, de dulce de leche  e uma quantidade generosa de merengue, na segunda foto).

A duas quadras e de frente para a praia de Pocitos também está um lugar que une três paixões — livros, café e mar —, a livraria Yenny, uma rede que pertence ao grupo El Ateneo de Bs.As. e conta com o agradável café Oro del Rhin, com vista para a praia (com uma avenida antes). A Xime Torres fica na Jaime Zudañez 2855, esquina com a Roque Graseras, e a Yenny fica na esquina do Boulevard España com a Rambla República de Peru.

CARRASCO: LONGE, RICO E RESIDENCIAL; E UMA DECEPÇÃO NO SOFITEL CARRASCO

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A primeira coisa a saber é que o bairro Carrasco está longe do centro de Montevidéu: da Plaza Independencia, de carro, e sem trânsito, são 30 minutos de viagem.

Mas é nesse arborizado bairro de classe alta onde está o que foi o El Gran Hotel Carrasco — hoje Sofitel Montevideo Casino Carrasco & Spa (primeira foto) —, um hotel palaciano de frente para o Río de la Plata, inaugurado em 1921, que foi um dos mais grandiosos hotéis da América Latina no começo do século 20 (o Copacabana Palace só seria inaugurado dois anos depois).

Apesar de a sensação ao chegar ao hotel é a de que você está isolado do mundo, perdido em um palacete no meio do nada, caminhando para trás do edifício você encontra ruazinhas com lojas, cafés, agências de turismo e restaurantes, como o ótimo Manzanar (segunda e terceira fotos), bem atrás do Carrasco, que tem como proprietária a filha do dono do La Huella de José Ignacio (também incrível).

Sobre a minha hospedagem no Sofitel Carrasco, vou preferir encontrar um hotel mais central na minha próxima vez em Montevidéu (além do Manzanar, não tem mais nada de interessante na região).

O prédio é lindo por fora e a reforma da fachada e dos interiores feita para a reinauguração do hotel em 2013 foi bastante bem sucedida. Mas no quesito manutenção…

No quarto, o carpete estava manchado; o tecido da cadeira rasgado; o colchão afundado de um lado; o banheiro inundava ao tomar banho (tinha de colocar todas as toalhas no chão para absorver a água); a TV, pequena e instalada em um suporte todo aparente; a caixinha de som da Bose era antiga, sem bluetooth  e com entrada para iPhone antigo (ou seja, não dá para usar). Sem falar que o sinal do wi-fi  no meu quarto era tão lento que eu preferia usar o LTE do meu chip  da Movistar, e que para abrir a embalagem do sabonete no banheiro era preciso muito esforço.

ALERTA DE PASSEIO A NÃO FAZER

Quando vou a uma cidade pela primeira vez, sempre faço um desses city-tours de ônibus bem populares para me situar geograficamente, sentir um pouco o que vale e o que não vale muito a pena dos pontos turísticos, e depois explorar a cidade com mais familiaridade.

Mas, em vez de pegar o ônibus hop-on-hop-off  (daqueles que você paga o bilhete pelo dia e pode subir e descer a hora que quiser), utilizei um serviço de city-tour  fixo.

E eu não esperava mesmo que depois de subir no ônibus, a gente ficaria uma hora e meia  passando em todos os hotéis da cidade buscando quem havia comprado o serviço; visitaria pontos de pouquíssimo interesse sem nenhuma explicação, apenas para fazer fotos (como no letreiro de Montevideo ou em frente à escultura de um carro de bois numa praça onde acontecem aulas de autoescola); e que eu saísse do passeio (não aguentei e desci depois da terceira hora) sem aprender absolutamente nada sobre a cidade e sobre a história do país.

Por isso, utilize nossas matérias para uma introdução mais aprofundada ao Uruguai e se quiser fazer o city-tour, opte pelo hop-on-hop-off  que deve ter um audioguide  pelo menos.

LEIA TAMBÉM:

— Uruguai: O país mais democrático da América Latina (e não é de hoje) que se tornou independente graças a um acordo que nem eles queriam; parte I

— O Uruguai visto através de seu brasão: O sol, a justiça, o Fuerte del Cerro, o cavalo e a vaca

— As instituições culturais de São Paulo que você precisa conhecer e frequentar

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Shoichi Iwashita

Compulsivo por informação e colecionador de moleskines com anotações de viagens e restaurantes, Shoichi Iwashita se dedica a compartilhar seu repertório através das matérias que escreve para a Simonde e revistas como Robb Report Brasil, TOP Destinos, The Traveller, Luxury Travel e Unquiet.

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