Museu do Prado, Madri: O museu que inspiraria muitos dos grandes artistas da Espanha – de Goya a Picasso – foi obra de Isabel, irmã de D. Pedro I
Criado para abrigar a coleção de arte impressionante dos reis espanhóis, o Museu do Prado é um dos grandes museus da Europa. Em frente à fachada que dá para o elegante e arborizado Paseo del Prado, está a escultura de um dos grandes pintores da história da Espanha: Diego Velázquez. Imagem: Shoichi Iwashita
E foi a irmã de D. Pedro I — que também morou no Brasil, quando a corte portuguesa fugiu de Napoleão para cá em 1808 — quem idealizou o mais importante museu da Espanha e um dos mais importantes museus da Europa: o Museo del Prado. A portuguesa e rainha consorte Maria Isabel de Bragança era casada com seu tio (!), o rei espanhol Fernando VII; e, apesar do breve reinado de apenas dois anos, entre 1816 e 1818 (quando morre de maneira dramaticamente trágica durante seu segundo parto), deixou um dos maiores legados da arte e da história do país. O Real Museo de Pinturas seria inaugurado em 1819, um ano depois de sua morte, como primeiro museu público da Espanha. Já o nome atual só viria quando o museu foi nacionalizado durante a revolução que depôs a rainha Isabel II em 1868.
Assim como a Pinacoteca de Brera de Milão, outro dos meus museus favoritos, o Prado leva o nome das pastagens que ocupavam o terreno onde o edifício foi construído para ser o Gabinete Real de História Natural — “brera”, em italiano, também quer dizer “prado”, “pastagem”. E foi a reina portuguesa Isabel de Braganza quem decidiu transformar o que era para ser um museu de ciências naturais em um museu de arte, para mostrar ao mundo a coleção secular de pinturas que era patrimônio da família real espanhola.
Claro que abrir um museu para o povo não era apenas boa vontade, mas também uma estratégia – parte de uma agenda nacionalista – de elevar o prestígio do império espanhol, de proteger a escola espanhola de pintura, já que o projeto original era de ter apenas arte produzida no país. O Prado só começa a mostrar pinturas flamengas e italianas que eram parte das coleções reais, a partir dos anos 1830.
Maria Isabel de Portugal em quadro póstumo encomendado pelo marido, o rei espanhol Filipe VII, com ela à frente do projeto do Museu do Prado; na mão esquerda, as plantas do projeto, já a mão direita aponta para o edifício que abriga o museu. Imagem: Reprodução internet
E essa é uma diferença crucial — para bem e para não-tão-bem-assim — entre o Prado e outros museus de belas-artes europeus (além do fato de que o Prado é o único museu do mundo que tem uma lei nacional para regular sua função e operação): a coleção original do Prado não é definida por um diretor institucional ou um curador, ou ainda pelas doações de ricos burgueses querendo eternizar seus nomes nas alas de museus importantes. Isso porque todos os quadros faziam parte da coleção particular dos reis espanhóis — os mais poderosos seres humanos do planeta nos séculos 16 e 17, e apaixonados por pintura — que tinham uma relação pessoal com os maiores nomes da arte europeia da época. Como Ticiano a Velázquez, pintores oficiais da corte espanhola, de Carlos V e Filipe IV, respectivamente, que criaram obras-primas da história da arte, patrocinados pelos mecenas reais.
O fato de o acervo ter saído dos palácios direto para o museu explica também o excelente estado de conservação das obras, já que, sempre muito bem cuidadas, não passaram por inúmeras limpezas a cada vez que passavam por um novo negociante ao longo dos séculos. Apesar disso, um dos pontos fracos da coleção é o fato de que ela é formada apenas com base no gosto pessoal de cada monarca – que não só comprava os artistas que gostavam como também influenciava nas obras encomendadas – em vez de abranger a arte espanhola/europeia da época como um todo.
O NASCIMENTO DO MERCADO SECUNDÁRIO NA ARTE
Os reis da Espanha estavam entre os precursores do colecionismo de arte no século 16, no auge do seu poder. E, aqui, vale lembrar que eles foram o resultado do sucesso dos reis fundamentalistas católicos, Isabel de Castela e Fernando de Aragão, que, no século 15, financiaram caríssimas expedições marítimas, incluindo a de Cristóvão Colombo que chegaria à América; colocaram fim à ocupação muçulmana de mais de 800 anos na Península Ibérica; começaram a colonizar o mundo depois de o papa “dar” metade do planeta para eles #TratadoDeTordesilhas; e foram os mais fervorosos apoiadores de um dos capítulos mais brutais da história da humanidade: a Inquisição.
Além de encomendar obras de arte para os maiores artistas da época — o Prado tem a maior coleção de grandes nomes da história da arte, como do pintor veneziano Ticiano, de Rubens, de Bosch, do-grego-El-Greco —, eles também compravam obras de arte, principalmente pinturas de grandes artistas da época (já que as pinturas eram fáceis de serem transportadas), o que se tornou o início do mercado secundário no mundo das artes; quando não se compra diretamente de quem criou a obra, mas de outra pessoa que comprou do artista. Velázquez, pintor oficial da corte, comprou muitas obras para o seu rei, Filipe IV. Os reis espanhóis foram os maiores patronos da arte dos séculos 16 e 17, grandemente financiados pelas muitas riquezas que roubaram de suas colônias, principalmente das civilizações inca e asteca, que foram dizimadas pela ganância espanhola.
O prédio que abriga o Museu do Prado foi projetado ainda no século 18 pelo arquiteto neoclássico Juan de Villanueva, considerado um dos maiores de sua época, famoso também pela reforma da Plaza Mayor, a praça mais emblemática da cidade, e o Jardim Botânico de Madri. A coleção do museu contempla muitas obras do período renascentista e barroco. São mais de 7.600 pinturas, 8.000 ilustrações e 1.000 esculturas — ou seja, coisa demais para ver de uma só vez.
As obras mais populares e importantes incluem Las Meninas, de Diego Velázquez; Jardim das Delícias Terrenas, de Hieronymus Bosch; Imaculada Conceição, de Tiepolo; a coleção As Pinturas Negras, de Francisco de Goya — que incluem o célebre Saturno devorando um filho —; Triunfo da Morte, de Pieter Bruegel; e Judith no Banquete de Holofernes, de Rembrandt. Uma aquisição recente do museu é o quadro Aníbal vencedor que por primera vez mira a Italia desde los Alpes, a primeira obra documentada de Goya.
Dessas, não deixe de inspecionar todos os enigmas do misterioso quadro Las Meninas, talvez a pintura mais discutida de toda a história da arte, com sua perspectiva genial. Procure também observar todos os detalhes do Jardim das Delícias Terrenas, um tríptico quase surrealista — a não ser pelo fato de que a obra é de 1490 — onde Bosch apresenta um falso paraíso recheado de prazeres materiais e carnais, inserindo a si mesmo em meio aos personagens pecaminosos. E, por fim, conheça os pigmentos escuros e temas sombrios que dão nome às Pinturas Negras de Goya, a série de quatorze pinturas que um dia adornaram os muros da casa do pintor, transmitindo seu pessimismo em relação à humanidade em cenas assombrosas.
COMO VISITAR E QUANTO CUSTA O MUSEU DO PRADO
A Puerta de los Jerónimos, uma das cinco entradas do museu do Prado, por onde eu sempre entro. Imagem: Shoichi Iwashita
O Museu do Prado tem cinco entradas. Duas delas são reservadas para as bilheterias: a Puerta de Goya Baja e a Puerta de Goya Alta. Na primeira, são vendidos ingressos com desconto e meia-entradas, e as filas são consideravelmente maiores, enquanto que na segunda, mais vazia, os ingressos são vendidos em totens automatizados, porém pelo preço cheio. As filas nas três entradas restantes são muito menores: a Puerta de Velázquez, a Puerta de los Jerónimos e a Puerta de Murillo são reservadas para visitantes que compraram os ingressos antecipadamente, pela internet. A Puerta de Murillo é especificamente dedicada à entrada de grupos escolares ou tours culturais.
O preço do ingresso é de € 15. Com o audioguia, o ingresso sai por € 20, e com tour guiado, € 25. Há também a opção de aproveitar a entrada gratuita, que acontece das 18h às 20h de segunda a sábado e das 17h às 19h aos domingos e feriados. Saiba, no entanto, que esses são os períodos de maior lotação do museu, já que a grande maioria das pessoas quer visitar o lugar de graça.
O museu abre de segunda a sábado das 10h às 20h, e domingos e feriados das 10h às 19h. Endereço: Paseo del Prado, sem número. Telefone: +34 910 68 30 01. Site: https://www.museodelprado.es/
Com a colaboração de Laís Ribeiro; no Instagram, @lais.ribs.