Osteria del Pettirosso, um dos melhores italianos de SP
Em tempos de gastronomia midiática que não se cansa de inventar muódas para chamar a atenção, como é bom “voltar para casa” e comer comida de verdade, tradicional, com ingredientes selecionados, bem executada e sem pretensões (essas que nem sempre dão certo). E as chances de satisfazer o estômago — e a alma — são bem maiores quando se trata de comida italiana: seja com um gelato, uma pizza ou uma pasta com molho de tomate fresco.
A Osteria del Pettirosso fica numa casinha despretensiosa (mas com aquele charme displicente-decadente de Roma, cidade natal do chef ) escondida nos Jardins, no fim da Lorena quase esquina com a quase-sempre-engarrafada Rebouças. E, no melhor estilo osteria (estabelecimentos simples, informais, familiares), com o chef Marco Renzetti na cozinha e sua esposa Erika comandando o salão, quase tudo é feito artesanalmente na casa: dos pães (do jeito que eu gosto, macios e aerados por dentro, casquinha fina e crocante por fora; nada daqueles pães artesanais pesaaados e duros) à manteiga (branquíssima, parece um chantilly de tão leve), passando pelas massas frescas (moldadas no bronze), a pancetta, a guanciale, o mascarpone.
Outra característica que agrada muito é o cardápio enxuto, mas variado. De um lado você tem o Menu Tradizione, com opções que vão desde uma salada simples com excelente burrata aos perfeitos tonnarelli alla carbonara ou cacio e pepe (o tonnarelli é a versão do spaghetti alla chitarra do Lazio, região cuja capital é Roma), risoto com funghi porcini e Parma ou o bacalhau alla romana, com molho de tomate fresco e aipo, servido com polenta (tem também dobradinha, polvo, salumeria ). Do outro lado, você encontra o Menu Fantasia, autoral, com as criações do chef, onde você pode também ser muito feliz com o creme de funghi porcini, ovo mole, pasta de trufa negra e tutano e o linguine al nero, com camarões, tomate confit e creme de burrata. Ah, e se você quiser se sentir a Roma e comer um autêntico fettuccine all’alfredo — aqui chamado fettuccine imperiali —, a Osteria é o lugar: sem creme de leite comme il faut, a receita serve duas pessoas e ainda conta com a finalização do prato, pelo chef, na sua mesa.
Os pratos são todos feitos na hora (por isso, pode demorar um pouquinho quando a casa está cheia), são bem servidos (não exagere no pão, e peça ou entrada + primo + sobremesa ou entrada + secondo + sobremesa; não dá pra ir de tudo), bem apresentados (eles melhoraram MUITO neste quesito de um ano pra cá), a carta de vinhos é selecionada pelo próprio chef e as sobremesas como a panna cotta, o sorbet de limão siciliano ou a torta doce de polenta com mel e ricota fresca assada são simples mas muito bem feitas. Minha única ressalva vai para o tiramisù “a modo mio!”: servido no copo, o creme é muito líquido enquanto o biscoito é duro e esfarelento (numa textura não muito agradável).
De terça a sexta-feira, no almoço executivo, você só paga o valor do prato principal e tem couvert, salada, o prato e sobremesa; ótimo custo-benefício.
A fachada escondida na Alameda Lorena nos Jardins. Imagem: Shoichi Iwashita
O salão simples, mas aconchegante. Imagem: Shoichi Iwashita
Pão e manteiga estupendos, ambos feitos na casa. Imagem: Shoichi Iwashita
Crema di porcini, uovo, tartufo e midollo, do Menu Fantasia, criação do chef Marco Renzetti. Creme de funghi porcini com ovo mole (a clara vem toda no fundo da mini cocotte, em ótima textura), pasta de trufa preta, tutano assado e croûtons, uma explosão de sabores, perfeito para comer com o pãozinho. Imagem: Shoichi Iwashita
Linguine al nero, gamberi, pomodori confit e crema de burata, também do Menu Fantasia. Linguine feito com a tinta da lula, com camarões, tomate confit e um creme levíssimo de burrata. Apesar de parecer pouco na foto, a porção é super bem servida. Imagem: Shoichi Iwashita
O tiramisù à moda do chef : a única coisa que eu não amei no Osteria. Imagem: Shoichi Iwashita