Preconceito de luxo
O que dizer de pessoas que sempre – e apenas – amam o novo, mas quando o “novo” se populariza elas passam a odiá-lo? Escrevendo sobre a inauguração da Maison Baccarat em Moscou e citando o designer francês Philippe Starck, me veio à cabeça uns textos que venho escutando há algum tempo… Acho interessante observar pessoas dizerem, em um dado momento – geralmente quando a informação é nova ou inédita –, que AMAM uma banda, um designer, ou até um ingrediente, e depois de um tempo – geralmente, quando a informação se torna mais acessível a outras pessoas (principalmente, de “classes” que esses consideram inferiores) –, elas dizerem que “odeiam” aquilo que tanto admiravam e aproveitavam.
Tinha um amigo que idolatrava a banda Belle & Sebastian quando ainda ninguém a conhecia, e levei um susto, anos depois, quando durante um papo entre amigos alguém citou com entusiamo o lançamento de um novo single da banda, e esse mesmo amigo fez AQUELA cara de desprezo e disse com a boca cheia: “ODEIO Belle & Sebastian”. Ou então, falar que comer tomate seco ou creme de papaia com cassis é cafona, sendo que algumas dessas pessoas “sofisticadas” que dizem isso hoje, serviam a iguaria/sobremesa em suas casas (até o Fasano retirou do couvert o delicioso paté de tomate seco; e confesso que uma das coisas que eu mais gostava de pensar ao ir ao Fasano era saber que eu ia comer muitos pãezinhos com manteiga e o tal paté…). O mesmo vi acontecer com Philippe Starck de uma maneira ainda mais ampla: decoradores e designers desprezando o trabalho de Starck em quizes e entrevistas em revistas e jornais; pessoas essas que admiravam o trabalho do designer francês nos anos 1980 e 90.
Claro que existem coisas que são boas hoje e que perdem qualidade ao longo tempo (principalmente, após grande sucesso) e que o trabalho de Starck tenha seus altos e baixos (quem não tem?). Mas, não há como desmerecer o trabalho do designer francês, que conseguiu trabalhar produtos e fazer de seu nome uma bem-sucedida marca mundial, criando produtos para o dia a dia, conceito para hotéis (desde o Royalton, em Nova York, o primeiro concept-hotel do mundo que virou modelo para centenas de hotéis que viriam a ser lançados), carros, casas, roupas e relógios, sem deixar de se superar e sem perder sua capacidade de provocar espanto nas pessoas que consomem seu talento.
Concordo que atualmente não seja mais tão cool falar do trabalho do designer como era anos atrás. Mas reduzir seu trabalho – ou de um artista, ou marca, ou lugar – apenas para “parecer” por cima numa pseudo-expertise-olha-como-eu-sou-cool, quando na verdade o que se critica é a popularização do seu nome, me parece de uma estupidez sem fim.