Racista, eu?
Escravizamos os negros para o bem dos nossos lucros. Com a riqueza gerada com base na privação de direitos, vontade própria e liberdade de 5 milhões de negros sequestrados na África (os que chegaram vivos, já que quase 700 mil vidas se perderam nos navios negreiros, sendo que alguns historiadores calculam que pode ter sido o dobro o número de escravos trazidos), durante 388 anos, construímos o nosso Estado, o nosso Brasil. A escravidão foi a base da vida econômica do império português na África e na América. E como eles trabalharam. Crescemos e construímos Estados melhores graças a eles, que trabalhavam 16 horas por dia, sem qualquer direito ou regalia. O Brasil foi o último país do mundo a abolir a escravidão. E foi assunto tão relevante que foi uma das causas da queda da monarquia. Quando os libertamos, os deixamos completamente desassistidos, sem as qualificações ou ajuda necessárias para que alcançassem o mesmo padrão de vida dos brancos. “Olha, nós te escravizamos, você não teve educação ou saúde, mas agora você está livre para ser feliz! Boa sorte aí! Se vira!” O resultado: marginalização, preconceito, discriminação, racismo. Até hoje. 70% das vítimas de assassinato no Brasil são negros (e muitos são mortos por quem deveria proteger a todos nós, a Polícia Militar). Não vemos negros nos grandes restaurantes, em altos cargos nas corporações ou morando em bairros de classe média alta como Jardins, Higienópolis, Itaim (basta uma caminhada num fim de semana ensolarado pelas ruas dos bairros). Será por quê? E, ainda assim, quando o assunto são as cotas para negros nas universidades, ainda ouvimos: “nós, brancos, alcançamos o sucesso com nossos esforços” ou “os negros estão onde estão por falta de força de vontade: se eles estudassem mesmo, não precisariam de cotas para entrar na faculdade”. O ESTADO que ESCRAVIZOU por quase QUATROCENTOS ANOS, tem SIM de criar políticas públicas para diminuir a desigualdade racial e social. O sistema de cotas para negros nas universidades pode não ser a solução ideal, mas é um caminho. É preciso olhar com carinho para a nossa história. Assim como a história do mundo é uma história das migrações, a história do Brasil é uma história das relações raciais.