Viajantes: Renata Scarpa
A filha caçula de Patsy e Francisco, neta de Nicola Scarpa, e irmã de Chiquinho e Fátima, começou a explorar o mundo ainda criança quando viajar era uma experiência acessível para pouquíssimas pessoas; numa época em que não existia classe executiva nem econômica (“era apenas primeira classe e todo mundo se conhecia”) e destinos como Orlando e Dubai ainda não tinham sido inventados. Na primeira entrevista da série Viajantes do canal Gente da Simonde, a gente conhece as histórias (já passou por um acidente de avião junto com a Hebe) e os hábitos de viagem da bela Renata Scarpa, que nos recebeu em sua casa no Jardim Europa.
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Simonde: Você começou a viajar muito cedo, né?
Renata Scarpa: É, mas por ser a caçula da família, eu comecei a viajar bem depois dos meus irmãos. Quando eu tinha seis meses de idade, minha mãe foi viajar com eles e passou cinco meses viajando (naquela época as viagens eram longas); e não tinha esse negócio de Miami e Disney, de viajar para o exterior com bebês. Quando minha mãe voltou, eu já estava andando. E me lembro até hoje do primeiro voo: foi para o Rio de Janeiro, quando tinha cinco anos e fiquei fascinada ao ver as casinhas lá embaixo, como se fossem miniaturas. As viagens eram para conhecimento, por isso só comecei a viajar mesmo aos oito, quando já estava grandinha, com um pouco de discernimento. Meu pais achavam que era preciso saber de tudo um pouco. A gente tinha de aprender todos os esportes, saber todos os países e suas capitais, conhecer todos os pratos e molhos clássicos (minha mãe achava inadmissível perguntar alguma coisa, a gente tinha de saber o que era béarnaise, o que era poivre ), para não correr o risco de ser convidado para uma fazenda, por exemplo, e não poder participar das atividades. Tinha de saber jogar tênis, andar a cavalo, saber conversar. Os princípios eram outros: hoje, as pessoas vão para lugares e voltam mas nem assim sabem exatamente onde eles ficam no mapa.
S: Mas você chegou a ir para a Disney quando criança?
R: Sim, mas na de Los Angeles. A de Orlando não existia ainda. Aliás, eu nunca fui para Orlando com meus pais. Mas meus irmãos mais velhos já tinham ido antes de mim e até conheceram o Walt Disney.
S: E de quais viagens você se lembra dessa época?
R: Fizemos muitas viagens, sempre com a família toda. Uma vez, passamos um mês na África, percorrendo vários países, fazendo safáris. Em outra viagem, fizemos o Egito, a Turquia e a Grécia. Teve também uma pelos países comunistas: fomos para vários países do Leste Europeu e também para Berlim oriental. Teve uma pela Escandinávia e fizemos duas vezes o Caribe.
“Família toda em frente à Fontana di Trevi, em Roma, quando eu tinha 14 anos. Mas quase todo mundo nesta foto já foi embora.”
S: Como eram as viagens de avião?
R: Eram bem diferentes. Não existia classe econômica nem classe executiva, era só primeira classe. Era muito legal, todo mundo se conhecia. E podia tudo! Eu já cheguei a viajar uma vez com a Maria Pia Matarazzo e ela levou dois cachorros ENORMES na cabine! A comissária da Air France fez um cercadinho no bico do avião e os cachorros viajaram quase soltos.
S: E da família, quem era a sua companhia preferida?
R: Ah, meu pai. Fui muito influenciada por ele, apesar da nossa diferença de idade. Ele era muito mais velho que eu. Se casou tarde já, aos quarenta anos de idade e eu era a filha caçula, imagina.
S: Alguma lembrança especial?
R: Uma vez, quando tinha doze anos de idade, fomos jantar só eu e ele no La Grenouille, em Nova York. Depois do jantar, o maître veio parabenizá-lo porque ele disse que nunca havia visto uma criança comer tão bem. Quando voltamos para o hotel, meu pai contou para a minha mãe que eu havia escolhido ótimos pratos e minha mãe veio me perguntar: “como você pediu isso?” “Ah, eu olhei no menu do meu pai — que tinha os preços — e pedi a entrada mais cara, o prato mais caro…” Eu nem lembro o que comi, mas devo ter comido muito bem mesmo… (risos) Coisas de menina. Mesmo muitos anos depois, nós íamos para Nova York e, enquanto minha mãe ia fazer compras, eu sentava com meu pai em algum restaurante só para comer caviar, tomar champagne. Minha mãe não gostava, dizia que era o fim ficarmos lá, comendo, mas eu adorava aqueles momentos, sentada com ele, que amava viajar. Comemoramos o aniversário de 99 anos dele em Miami, jantamos todos os dias fora, porque ele não admitia ficar no hotel. Meu pai faleceu aos 103 anos de idade e ele só foi embora porque minha mãe, 17 anos mais nova, faleceu antes dele. E isso eu herdei dele: eu não entendo até hoje pessoas que viajam para descansar. Dormir, você dorme em casa. Se for para viajar, é para sair, para conhecer. Ir para a praia para ficar na praia? Gosto de conhecer os lugares. Não viajo para ficar sentada olhando para o céu.
“Na praça principal em Marrakesh com minha mãe, Patsy, quando eu tinha quatorze anos. Voltei para lá recentemente e é impressionante que tudo continua exatamente igual. A mesma pobreza, as mesmas barracas de comida.. Mas eu amo.”
S: O que te faz viajar?
R: Conhecer. Amo todas as culturas, tudo me fascina. E o que me marca nas viagens são as comidas: amo comer, como de tudo, não tenho nenhuma restrição. Eu não me lembro muito de todas as coisas das viagens que fiz quando criança ou adolescente, mas até hoje eu me lembro de que foi na Dinamarca, no Tivoli Park, que eu comi o meu primeiro steak tartare, por exemplo. As comidas de cada lugar me marcam muito. E a hora mais feliz da viagem é quando eu entro no avião. Na hora que eu entro no avião, esqueço tudo; minha viagem começou.
S: E o que você não gosta nas viagens?
R: Odeio fazer a mala na volta, apesar de fazer mala muitíssimo bem. Na minha última viagem à Portugal eu trouxe 24 garrafas de vinho; já trouxe até um vaso grande cristal. Arrumo tudo tão bem que nada quebra. Outra coisa que eu detesto quando chego é ter de enfrentar a marginal Tietê. Tento sempre voltar no sábado ou domingo, só para não pegar trânsito.
S: Você faz muitas compras, é muito consumista?
R: Eu não gosto de fazer compras, mas minha irmã Fátima, que gosta, sempre me passa uma lista das lojas que tenho de conhecer, ou por que ela foi desenhada por um arquiteto famoso ou por que eles têm o melhor de alguma coisa. O único lugar que vou para comprar mesmo é Miami. Já vou com a lista de farmácia e supermercado, com todas as coisas que tenho preguiça de comprar aqui. A propósito, estou adorando ir para Miami em voos diurnos. Pois chego lá, já faço minhas compras de farmácia e supermercado (vou colocando as coisas já na mala, dentro do carro), vou jantar e estou pronta para dormir. Quando vou à noite, o voo chega às 7h e o dia fica muito longo porque eu não consigo dormir durante o dia. Aí, eu fico muito cansada.
S: Qual foi sua última viagem e qual é a próxima?
R: Acabei de voltar de Portugal e talvez eu vá, com amigas, passar o Réveillon em Santa Lucia, no Caribe. Mas eu odeio viajar no fim do ano: os preços são absurdos, tem muita gente. Adoro ficar em São Paulo nos feriados, já até passei a virada aqui. O único problema é que dia 1 não tem ninguém na cidade, está tudo fechado.
“Minha mãe, meu pai, eu e minha irmã no Egito, há muito tempo!”
S: Com quantas malas você viaja?
R: Sair daqui com duas malas, para mim, não existe. Levo duas malas, uma dentro da outra, só com a menor cheia. E todas as malas têm rodinhas, pois detesto usar os carrinhos nos aeroportos. Meu sonho seria viajar sem bagagem para eu não ter de parar nem na esteira. Mas, na volta, as duas voltam cheias.
S: E o que não pode faltar na sua bagagem de mão?
R: Escova de cabelo, escova de dente, gloss para não ressecar a boca, colírio, lentes de contato, óculos escuros, óculos de ler, meu iPad (não vivo sem), o mínimo de maquiagem, uma pashmina ou um sweater (a gente nunca sabe como vai estar a temperatura no avião) e uma meia de lã para aquecer o pé. Aí, eu levo uma microbolsa a tiracolo só para o celular, carteira e passaporte, pra não ter de ficar toda hora abrindo a malinha.
S: Algum remédio?
R: Não, não levo nada. E preciso mudar isso, pois na Europa eles não vendem remédio sem receita.
S: Nossa, nenhum remédio? #Choque E seguro-viagem, você faz?
R: Também não. Não tenho seguro de nada, nem de casa, nem de carro. Sou contra seguro.
S: #ChoqueDuasVezes
S: Quais cidades você conhece muito muito bem?
R: Miami, Nova York, Paris, Londres, Los Angeles, Milão e Roma.
“Eu no Muro de Berlim, em viagem com meus filhos, quatro anos atrás.”
S: Para onde você ainda não foi, mas adoraria conhecer?
R: Quero conhecer a China, o Japão, quero muito ver o Sol da meia-noite, e quero ir para o Canadá, que eu ainda não conheço.
S: Carro, ônibus, trem, navio ou avião?
R: Amo trem, amo estação de trem, amo pegar o Eurostar, entre Paris e Londres, amo a viagem entre Paris e a Suíça de trem. Adoro avião também. Mas não me coloca num navio. Já fiz cruzeiros, incluindo pela Europa, onde dizem que o mar é mais tranquilo, mas não gosto. Ônibus, nem pensar.
S: Quem organiza as viagens para você?
R: Faço tudo sozinha quando é de última hora para lugares que eu conheço bem. Quando não conheço direito, gosto de sentar, pesquisar, ligo para os amigos que já foram, peço dicas, e aí, começo a montar o itinerário. Saio daqui com tudo programado; para Portugal, eu viajei com uma lista de duas folhas, só com coisas para comer. Só quando o destino é muito diferente que eu uso a agência de viagens, a Selections.
S: Qual sua companhia aérea favorita?
R: Adoro a Lufthansa (a primeira classe deles é o máximo), a British, amei a Emirates. Mas sabe com qual companhia eu estou decepcionadíssima? A TAM. Era muito boa, eu gostava muito, mas hoje está uma catástrofe.
S: Para onde você gosta de viajar no Brasil?
R: No Brasil eu estou meio mal ultimamente. Há anos que eu não vou nem para o Rio; só vou quando tem alguma festa, mas é bate e volta. Conheço bastante, do Sul ao Acre, onde meu pai tinha uma fazenda. Mas não conheço ainda as cidades históricas de Minas.
S: Costuma comprar guias de viagem?
R: Só quando eu não conheço destino. Eu não sabia nada sobre Dubai, aí eu compro, leio. E olha, a cidade é toda meio fake, meio Disney, mas eu amei Dubai. Quando falei isso para minha mãe ela disse: “Não repita isso, minha filha. É muito cafona, é a mesma coisa que dizer que ama a Disney.” “Mas eu amo a Disney, mamãe.” De qualquer forma, eu achei o emirado incrível. Os prédios são incríveis. É legal, eu gosto.
“Fomos para uma fazenda no Pantanal pescar. Na volta, o avião teve um problema no motor esquerdo, que parou. O avião começou a perder altitude até que o piloto – eu estava ao lado dele na cadeira do copiloto – teve de pousar no meio do nada. Fechei os olhos e só abri quando o avião parou por completo. Estava tudo escuro e eu achei que tinha morrido. Até que a Hebe gritou: “Renata!” “Ai, ainda bem que todo mundo tá vivo”. Ninguém se machucou e felizmente estávamos no meio de uma fazenda. Na foto, meu ex-marido, eu, o Lélio, a Hebe, o Lelinho e a Leda. Nascidos de novo.”
As malas da Tumi que a Renata Scarpa usa em suas viagens, com indícios claros de sua paixão pelos animais. Imagem: Shoichi Iwashita
Maravilhoso conteudo, foi otimo para mim as novas informaçors ate aqui. Ainda vou concluir o QUIZ VIAGENS E VIDA EM FAMILIA, EXCELENTE.
Eu ja sigi os tres Scarpas. E ate entao Carol Celico com o filho de Renata.
O que mais admiro neles todos (as) A educaçao,respeito a familia. A simplicidade Renata e Fatima. Conheço ou sigo mais
Gosto demais delas. Mulheres inspiradoras. feliz Natal, saude e viagens!