Saint-Martin: A ilha dividida e plural, europeia e créole, com praias lindas, boa comida e aviões na cabeça
São quatro os territórios franceses no Caribe: as vizinhas ilhas de Saint-Martin e Saint-Barthélemy (Saint-Barth, para os íntimos), a Martinica, e as cinco ilhas que formam a Guadalupe. E, assim como existiam as Antilhas Holandesas, dissolvidas em 2010 (hoje Curaçao, Aruba e Sint Maarten têm status de país), essas oito ilhas fazem parte das Antilhas Francesas (Antilhas é o nome dado ao conjunto de todas as ilhas do Mar do Caribe: das grandes como Cuba e Haiti / República Dominicana às pequeninas Santa Lúcia e Granada). Mas Saint-Martin tem algo de diferente. Apesar de uma importante guerra entre os países no século 17, parece que não é só na combinação das cores das bandeiras nacionais (até a sequência das cores é igual) e nos negócios que franceses e holandeses se dão bem — a KLM e a Air France, duas companhias aéreas cuja comunicação a gente adora cada vez mais, são hoje uma só empresa, apesar das identidades próprias —, mas também no compartilhamento dessa ilha no nordeste das Antilhas que os dois países dividem entre si desde o Tratado da Concórdia assinado em 1648 — de forma pacífica e sem guerras!, algo raro nessa época: do lado sul, você encontra o país Sint Maarten, cuja capital é Philipsburg (onde todos os navios de cruzeiro aportam quando na ilha) e que faz parte do Reino dos Países Baixos, vulgo Holanda; e na parte norte, você estará na coletividade ultramarina de Saint-Martin, cuja capital é Marigot, e que pertence à França (Saint-Barthélemy, uma ilha luxuosa e vizinha à Saint-Martin, possui o mesmo status; ambas eram menos independentes por fazerem parte do departamento Guadalupe até 2007).
SEM FRONTEIRAS ENTRE A FRANÇA E A HOLANDA
São três estradinhas que ligam as duas partes da ilha, mas não há fronteira ou qualquer tipo de controle (você vai e volta quantas vezes quiser e consegue aproveitar o que cada parte tem de melhor: as praias lindas e a impecável gastronomia francesa com sotaque créole em Saint-Martin e os cassinos e baladas em Sint Maarten, por exemplo). Você só vai saber que estará entrando em território estrangeiro ao ver as placas e o obelisco no encontro da Rue de Hollande (do lado francês) e da Union Road (do lado holandês), instalado em 1948 para celebrar os 300 anos da convivência pacífica entre as duas nações (entre franceses e holandeses, porque os ingleses fizeram da vida dos franceses um inferno: invadiram a ilha várias vezes, e várias vezes os franceses foram expulsos e readmitidos ao longo deste tempo). Nos 87 quilômetros quadrados de terra, são mais de 100 nacionalidades diferentes entre os 75 mil habitantes de ambos os lados da ilha. Por isso dá para dizer que o posicionamento da comunicação do Escritório de Turismo de Saint-Martin, “The friendly island”, tem alguma base social e histórica. Pelo menos hoje, já que, no século de 16, na convivência entre exploradores e piratas ingleses, franceses, espanhóis e holandeses imperava a lei do mais forte e, assim como aconteceu em quase todo o continente americano, os brancos dizimaram a população nativa de índios — em Saint-Martin, da tribo aruaque. Não se vê índios andando pelas ruas da ilha, apenas os muitos descendentes de negros que vieram da África como escravos (quase todos moradores das casas bem simples e mal cuidadas que você verá ao ir de um lado para outro da ilha de carro), os brancos descendentes dos colonizadores europeus (geralmente os donos dos hotéis, restaurantes e negócios) e imigrantes e viajantes de todas as cores. (Nos diários do explorador genovês que “descobriu” a América sob as ordens dos reis espanhóis, Cristóvão Colombo, que deu o nome de São Martinho à ilha, descreve a hospitalidade e o bom coração do povo aruaque e como ele pretendia transformá-los em escravos à força.) Como disse Derek Walcott em discurso ao receber o Prêmio Nobel de Literatura em 1992: “O encanto visual é natural do Caribe; faz parte da paisagem, e, diante de sua beleza, a tristeza da história se esvai.” Na foto acima, vista da capital de Saint-Martin, Marigot, a partir do Fort Louis, construído no século 18 para proteger as plantações de algodão, de índigo e de tabaco cuidada pela pequena população francesa da ilha na época dos famigerados piratas ingleses (sempre eles!). Deve ser lindo ver o pôr do Sol daqui. Imagem: Shoichi Iwashita
UMA FRANÇA INTERNACIONAL COM GOSTINHO COLONIAL CRIOULO
Em Saint-Martin, você estará oficialmente em território francês (sob as leis francesas), mas não se sentirá muito na França. Os nativos falam francês, inglês e créole (eles vão de um idioma para o outro em um segundo; sem falar da parte holandesa, onde fala-se holandês mas absolutamente TUDO, no comércio, nas placas das ruas, está escrito em inglês). E, apesar de a moeda oficial ser o euro, você pode pagar tudo em dólar (o que é uma vantagem: para nós, brasileiros, o euro é mais caro e a conversão na ilha é sempre US$ 1 = € 1; ou seja, pagar em dólar deixa tudo uns 10% mais barato em real! Nos aeroportos onde você vai fazer conexão para chegar à ilha — Miami ou Panamá — lojas e cafés tampouco aceitam euros ou cartões de crédito para compras pequenas, e se você tiver de usar uma casa de câmbio para trocar euros por dólar vai fazer um péssimo negócio). Quem nasce em Saint-Martin é francês, quem nasce em Sint Maarten é holandês, mas todos são são-martinhenses. Na foto acima, um dos muitos painéis de azulejos pintados no Mercado de Marigot, onde você encontra várias barraquinhas de artesanato, de rum, de comidinhas, legumes, peixes e temperos. Imagem: Shoichi Iwashita
TUDO O QUE VOCÊ PODE ESPERAR DE UM DESTINO DE PRAIA
Além dos excelentes restaurantes (lugares paradisíacos sem boa comida simplesmente não me convencem) e das belíssimas praias com suas águas turquesas (são 24 praias só no lado francês, você pode explorar cada dia uma praia diferente, da mais agitada à mais deserta), Saint-Martin possui um dos aeroportos mais emocionantes do mundo, o Princess Juliana, que fica na praia de Maho, do lado holandês; por onde você vai chegar. E são muitas — e boas — opções de experiências além das praias, das comidas e bebidas, e do ver aviões pousando quase que sobre a sua cabeça: tem atividades aquáticas (jet ski, para-sail, fly-board ) e baladinhas caribenhas, tem trilha em floresta nativa com acesso a praias desertas, tem clube com piscina e arborismo radical, tem praia naturista, tem passeios de barcos a ilhas vizinhas (também dá pra pegar um voo de 15 minutos e pousar no Aeroporto Gustavia, em Saint-Barthélemy, outro dos mais emocionantes do mundo); atividades para todos os gostos e bolsos desta ilha que tem o turismo como principal atividade econômica. Não é um destino de luxo (a ilha inteira só tem um hotel cinco estrelas, o ótimo Belmond La Samanna, tampouco espere lojas de grandes marcas; elas estão todas em Saint Barth), mas um lugar para quem quer se divertir, pé na areia e sem frescuras; enfim, para ser feliz! Na foto acima, vista da Happy Bay, uma das praias mais bonitas e isoladas de Saint-Martin. Não tem estrada para chegar lá: você precisa deixar o carro em Friar’s Bay e caminhar por 15 minutos. E se quiser ficar completamente pelado, mesmo com outras pessoas vestidas na praia, pode! Imagem: Shoichi Iwashita
O Boeing 747-400 da KLM vindo direto de Amsterdam pousando no Aeroporto Princess Juliana, uma imagem clássica de Saint-Martin. Imagem: Juliana Magalhães, do site Falando de Viagem
Vista da Baía de Marigot, capital de Saint-Martin, do Fort Louis, um forte construído no século 18 para defender a pequena população francesa da ilha na época. A cor da água sempre impressiona. Imagem: Shoichi Iwashita
O topo do Fort Louis com a bandeira francesa. Imagem: Shoichi Iwashita
A fronteira entre a parte francesa e a holandesa, na Rue de Hollande. Esse é o único sinal de que você está entrando em outro país, já que o acesso é completamente livre. O obelisco foi edificado em 1948 para festejar os 300 anos do Tratado da Concórdia, que estabeleceu a divisão da ilha entre franceses e holandeses. Imagem: Shoichi Iwashita
Parasail e jet ski na praia Orient Bay, que tem várias possibilidades de esportes náuticos e barracas. É a praia mais animada de Saint-Martin: são várias barracas com toda a infra-estrutura de praia e uma faixa dedicada à prática de naturismo. Imagem: Shoichi Iwashita
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