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Likes get you high?

Em 2014, eu tive dates com três caras que tinham mais de “10 k” (em inglês, um k equivale a “000”), ou seja, que tinham mais de 10 mil seguidores no Instagram. Até então (até 2013), o Instagram pra mim era uma rede social em que a gente postava fotos de que a gente gostava, sem nenhum compromisso de agradar a um venerável público. Mas tudo mudou. E confesso que escutar frases como “meus fãs gostam de ver fotos minhas”, “se uma foto tiver menos de 500 likes, eu deleto porque queima meu filme”, “meu ex-namorado não sabia administrar minha popularidade” — ditas sem NENHUM constrangimento —; a preocupação com o conteúdo — escolha do cenário, do figurino, dos acessórios, editar a foto com inúmeros aplicativos para melhorar a aparência —; e o hábito de postar em dias e horários específicos para “otimizar o número de likes e comentários” (ou não postar fotos demais com o mesmo objetivo; “floodar a timeline” é como isso se chama); e o pudor zero em fazer selfies  com direito a caras e bocas durante o date  ou entre amigos, me assustaram um pouco. (Sem falar na ansiedade de, ao postar uma foto, pelo menos na próxima hora, não parar de olhar a tela do celular para acompanhar as curtidas e QUEM curtiu. Ah, tem também os aplicativos que mostram quem te segue e quem deixou de te seguir que eu passei a conhecer através de um deles, cuja dinâmica daria outra matéria, já disponível aqui).

Se antes apenas as pessoas que estavam no cinema, na TV e nas revistas tinham fama E comportamento de gente famosa — aquele ego inflado que dificulta, ou mesmo inviabiliza, os relacionamentos afetivos com amigos ou companheiros —, hoje, temos milhares de “pequenos famosos”, bem próximos da gente, administrando suas imagens como se fossem marcas e se comportando como estrelas de cinema: figurino sempre editado e escolhido a dedo, a entourage — geralmente composta por outros “famosos do Insta”, já que um dá ibope para o outro —, a preocupação com a luz, o ângulo e a foto perfeita (que sempre foi uma preocupação de grandes atrizes como Marlene Dietrich, que tinha seu próprio iluminador). Se antes a fama era consequência de um trabalho bem-sucedido e notório (ou de algum  trabalho), hoje, basta ser bonito e/ou rico e vender seu próprio estilo de vida para conseguir esse reconhecimento; numa dinâmica bastante parecida com os “populares” adolescentes do colégio.

COMO SOU PERCEBIDO SE SÓ POSTO SELFIES?
A Universidade de Ohio avaliou os hábitos de 800 homens nas redes sociais e comprovou, pela primeira vez em estudo, que homens que postam muitas selfies (eles ainda estão conduzindo o estudo com mulheres) e/ou gastam muito tempo editando suas fotos, além de serem mais narcisistas (acreditam que são mais espertos, atraentes e melhores que os outros, uma percepção baseada muitas vezes na insegurança), pontuam mais alto em testes para avaliar outros tipos de personalidade antissociais como a psicopatia (a ausência de empatia pelos outros, com tendência à impulsividade) e estão mais sujeitas à auto-objetificação (preocupação exagerada com a aparência). E quanto mais likes numa selfie postada (se for sem camisa, os likes aumentam), mais esses homens são estimulados a postar mais selfies, em busca da mesma aprovação.

Essa é a visão científica. Mas existe uma série de outras problemáticas no relacionamento destas pessoas com aqueles que a cercam. Pessoas que olham muito para si mesmas não conseguem perceber o outro. E enquanto se acha que ser famoso e popular é uma forma de se conquistar ainda mais amor e aprovação do mundo (que é algo que todos nós buscamos), o orgulho, a arrogância, a insensibilidade e a — aparente — autossuficência que muitas vezes acompanham essa fama (a relação com os seguidores pode bastar), nos seus mais variados níveis, geram muitas vezes o resultado oposto: uma incapacidade de desenvolver relações íntimas (que é algo que todos nós, mais ou menos, também buscamos), o que leva à solidão.

UMA DINÂMICA PERVERSA
Mas também percebo algo de perverso nisso. Uma vez que existe esse culto à beleza, à sofisticação — estimulada constantemente pelo número de likes —, essas pessoas acabam por construir suas vidas de um jeito a conseguir “otimizar” a aprovação dos outros: em torno de viagens e cenários fotogênicos, amigos fotogênicos, sem falar no namorado fotogênico, que é o novo pré-requisito para fazer parte da vida de um “pequeno famoso”. Não há espontaneidade, tudo é premeditado e minuciosamente calculado para se viver como que num editorial de revista; como num sonho publicitário, ou o mais próximo disso. Mostrar a vida torna-se mais importante que vivê-la.

E uma vez que expomos apenas o melhor de nós e das nossas vidas nas redes sociais, é muito mais fácil viver essa relação vertical de ídolo-lindo-no-pedestal e seus milhares de fãs-que-não-sabem-NADA-sobre-como-realmente-somos do que viver relações horizontais, simétricas, em que temos de confrontar as nossas inseguranças e limitações através do olhar e da convivência íntima com o outro.

Sigo solteiro e procurando namorado. Mas, em 2015, vou preferir conhecer pessoas menos famosas.

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Shoichi Iwashita

Compulsivo por informação e colecionador de moleskines com anotações de viagens e restaurantes, Shoichi Iwashita se dedica a compartilhar seu repertório através das matérias que escreve para a Simonde e revistas como Robb Report Brasil, TOP Destinos, The Traveller, Luxury Travel e Unquiet.

Caio Graco Zeppelini disse:

Assustadoramente preciso isso. Dá um cansaço esse tipo de gente

Dario Centurione L. Barbosa disse:

Muito bom.

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