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Sempre haverá novos ricos

Deu o que falar a crônica de Danuza Leão para a Revista RG Vogue de dezembro último. Intitulada Down no High Society, a escritora faz uma severa crítica aos endinheirados du jour, assumindo o mesmo radicalismo que critica no texto e ditando o que, na sua opinião, é verdadeiramente chic. É claro que ninguém discorda das suas precisas observações a respeito dessa nova tribo, os nouveaux-riches  afetados, arrogantes e sedentos por status. São pessoas que só se relacionam com os seus iguais, ignoram completamente pessoas “inferiores” (o que é constrangedor até para quem não está na situação) e sofrem de excesso de sofisticação: nas roupas e acessórios grifados, seguindo ao pé da letra “regras” dos manuais de gastronomia, etiqueta e viagens, ou em suas casas lindas e frias como um museu, sem personalidade (decorada por um arquiteto de nome que usa o mesmo “conceito” em todos os seus projetos) e sem história (como diz Danuza, “não há vestígio de um objeto afetivo demonstrando que eles tiveram pai, mãe, avós ou avôs; parece que nasceram de geração espontânea”).

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Mas, nada mais constante no mundo do que a mudança, já dizia o escritor Karl Ludwig Börne. Os novos-ricos sempre existiram (na Roma antiga, no Renascimento, na Revolução Industrial, na era da Internet), assim como o desprezo – e o declínio – do old-money  por esses seres não-civilizados que geralmente são muito mais ricos do que eles.O único problema é que os novos ricos do século 21 não tentam copiar as “maneiras” dos tradicionais (como faziam seus antecessores), mas criam suas próprias regras e menosprezam quase que completamente os rígidos padrões de comportamento e cultura da sofisticação antiga (o que gera artigos-manifesto como o de Danuza).

A questão é que o dinheiro, assim como os cachorros, escolhe indiscriminadamente seu dono, seja ele honesto ou bandido, culto ou ignorante, simples ou insuportável. E o fato de o dinheiro cair em mãos erradas não é um privilégio da atualidade, como se afirma na página de abertura da matéria (hoje mesmo, um grande traficante mundial ofereceu US$ 35 milhões cash  para ser extraditado para os EUA). Já vi gente muito rica da pior espécie e, ainda assim, muito “querida” pelos seus próximos e com uma leva de aduladores para onde quer que vá; como se o dinheiro fosse sinônimo de integridade.

E o mundo não vai mudar… O importante para aqueles que chegam a esse mundo encantado das coisas boas que o dinheiro proporciona é não se deixar aprisionar pelas duras regras da pseudo-sofisticação. É aproveitar de maneira sincera as diversas etapas que compõem as experiências (do deslumbramento ao tédio) e nunca ter vergonha da sua herança (pensamentos e ignorância sobre alguns assuntos inclusos). É tratar a todos com respeito e dignidade, com aquela sofisticação e elegância espiritual tão rara nos dias de hoje. E lembrar que o dinheiro é como mágica. Assim como vem, pode ir embora inesperadamente. E aqueles out  que você menospreza hoje podem ser os próximos in  a ignorar você num futuro, que pode nem ser tão distante assim…

Obs.: no artigo, Danuza diz que o bar futurista do Athénée é de Philippe Starck, que ela compara ao El Bistro do Faena (esse sim, decorado por Starck). Just for the record, a ambientação do bar do Athénée é de Patrick Jouin, que também decorou o restaurante de Ducasse no hotel e a nova loja da Van Cleef & Arpels na Place Vêndome.

São Paulo, janeiro de 2008. 

Shoichi Iwashita

Compulsivo por informação e colecionador de moleskines com anotações de viagens e restaurantes, Shoichi Iwashita se dedica a compartilhar seu repertório através das matérias que escreve para a Simonde e revistas como Robb Report Brasil, TOP Destinos, The Traveller, Luxury Travel e Unquiet.

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