Seychelles: Praias e florestas únicas, intactas há mais de 50 milhões de anos
Antes de viajar, você dá um zoom out no Google Maps e olha aquelas microilhas perdidas no meio do Oceano Índico, que formam o menor país do continente africano. Busca no seu inconsciente as muitas fotos que já viu nas revistas e redes sociais e imagina: as Seychelles são minúsculas, só tem hotel de luxo, praias paradisíacas, e para onde você olhar será um cartão postal. Porque é isso o que acontece com grande parte dos destinos do mundo: todos os textos, todas as fotos são tão cuidadosamente tratados e editados (e nós também fazemos o mesmo quando postamos) que a gente sempre sente aquele estranhamento inicial na primeira hora depois que desce do avião. “Nossa, o aeroporto não é tão bonito”, “tem pobreza”, “como os ônibus são velhos”, “tem uma rodovia de quatro pistas nesta ilha onde eu achava que só tinha ruazinhas de areia!” Mas é exatamente por isso que as Seychelles entram num lugar especial aqui na Simonde. (A única coisa que foi difícil de assimilar foi a presença de pedacinhos de corais em praticamente todas as praias, apesar da areia branca e finíssima, que machucaram bastante meus pés; por isso, leve sapatilhas de praia para explorar tudo sem dor.)
NATUREZA EXUBERANTE ENTRE A ÁFRICA E A ÍNDIA
Não tenho interesse por esses destinos-resort, para os quais você pega um voo de 20 horas para se fechar dentro de um hotel isolado que não tem história, acesso ao povo e à cultura locais (e só assim mesmo, à la parque da Disney, para um lugar ser 100% perfeito como num cenário de filme). E, além de abrigar, na terra e no mar, paisagens naturais únicas, das mais lindas e preservadas do mundo — talvez pelos milhões de anos de isolamento geográfico, talvez pelo desinteresse dos franceses e ingleses em explorar a ilha comercialmente —, com a vantagem de se poder aproveitar as praias, as trilhas e as florestas sem medo de tubarões, cobras, onças ou qualquer bicho venenoso, as Seychelles entregam o melhor dos dois mundos: não só hotéis e resorts luxuosos pé-na-areia que te dão a sensação de completo isolamento e todo o serviço que você possa esperar (praticamente TODAS as maiores e melhores redes de hotéis do mundo têm propriedades aqui), mas também guesthouses: pousadas simples e muito acessíveis. E basta você pegar o carro para “ver a vida lá fora” e visitar o mercado central de Victoria, a capital que é um bairro da ilha de Mahé, onde você bem cedo pode comprar peixes fresquíssimos, muitos temperos da cozinha créole e algumas poucas opções de frutas e legumes direto do produtor (o resto nos supermercados é tudo importado); ir à igreja católica ou ao templo hindu (5% da população é formada por indianos; são eles os donos de praticamente todas as lojinhas de Mahé); ver as crianças indo para escola de uniforme, mochila e bicicleta; e famílias de seychellois passando a tarde de sábado juntos nessas que são algumas das praias mais lindas do mundo. Seja na popular e animada praia de Beau Vallon, em Mahé, ou na cinematográfica Anse Source d’Argent, em La Digue, aqui você vai assistir a um dos pores do Sol mais lindos do planeta; e da sua vida.
EX-COLÔNIA FRANCESA E INGLESA, HOJE INDEPENDENTE
E a República das Seychelles é assim: foi por séculos ponto de parada de exploradores durante as grandes navegações nas rotas de comércio de especiarias nos séculos 15 e 16 (incluindo muitos portugueses, como Vasco da Gama), foi colônia da França no século 18 (os franceses trouxeram os escravos e o catolicismo, religião praticada até hoje por mais de 95% dos seychellois ), que, por sua vez, cedeu o arquipélago — junto com as ilhas Maurício — para os ingleses em 1811 (dos ingleses ficaram o formato das tomadas, a mão inversa dos carros e das ruas, e a participação na Commonwealth; interessantemente, o povo não aderiu ao anglicanismo), até que eles se tornassem independentes em 1976. Como toda jovem república, eles passam agora por uma consolidação difícil da democracia: o sistema político só permitia a existência de um partido, ad eternum no poder, e só recentemente o congresso (com apenas 32 membros) aprovou a existência de outros partidos que, hoje na oposição, estão fazendo com que os seichelenses percam o medo de falar abertamente o que eles pensam sobre a administração pública (fotos do presidente são exibidas por todos os cantos: nos aeroportos, nas lojas, nas pousadas; parece a Tailândia, só que aqui a prática não é imposta).
PRAIAS EMOLDURADAS COM GRANITOS DE 700 MILHÕES DE ANOS
Ao norte da grandona ilha de Madagascar e na altura da divisa entre o Quênia e a Tanzânia, as Seychelles são um arquipélago formado por 115 ilhas (apenas quatro são habitadas, mas outras várias têm donos; geralmente hotéis-resort, como o Hilton Labriz e North Island, que ocupam ilhas inteiras) com uma particularidade: diferentemente de outras ilhas oceânicas, como o Havaí e a Polinésia Francesa no Oceano Pacífico, e a Islândia, Bermuda e os Açores, no Atlântico, que são resultantes de explosões vulcânicas, grande parte das ilhas aqui são graníticas, assim como os continentes. Isso por que as Seychelles, assim como a África e a América do Sul, a Austrália, a Nova Zelândia e a Índia, há 200 milhões de anos (imagine que os dinossauros existiram na Terra entre 170 milhões de anos e 65 milhões de anos atrás), faziam parte do supercontinente do sul, o Gondwana, e estavam todos conectados com a Antártida (sim, a Índia “navegou” muito pra chegar lá em cima e bater na Ásia). Os enormes granitos que você vai ver nas praias de La Digue (foto acima), rochas ígneas (que resultam do esfriamento do magma), os mesmos que você encontra na Índia, têm cerca de 700 milhões de anos. Mas não são só rochas précambrianas que você vai encontrar aqui não; tem ainda uma floresta de palmeiras e cocos GIGANTES na ilha de Praslin, que são únicas no mundo (você não as encontra nem nas ilhas vizinhas), que vai te fazer sentir no cenário de Jurassic Park.
AS TRÊS ILHAS PRINCIPAIS: MAHE, PRASLIN E LA DIGUE
Das 115 ilhas, são três as essenciais e imperdíveis para a sua primeira viagem às Seychelles, cada uma com identidade bem própria. E, de verdade, não dá para ir até lá e não conhecer as três. Em Mahé, a ilha maior, é onde ficam a capital Victoria, o aeroporto internacional por onde você vai chegar e os muitos hotéis, restaurantes e a vida animada dos seychellois. Em Praslin, a segunda maior ilha do arquipélago (acessível via ferry ou por um voo curto num aviãozinho antigo Twin Otter sem ar-condicionado, da Air Seychelles), você vai passar o dia e conhecer o parque Vallée de Mai e a belíssima praia Anse Lazio (eu não me hospedaria em Praslin, porque ela não tem os mesmos atrativos das outras ilhas). Já em La Digue, a ilha mais charmosa e rústica de todas, você vai andar de bike e fazer beach-hopping e descansar e aproveitar um dos cenários mais incríveis do planeta. Nos links abaixo, você confere as informações práticas. E aguarde nos próximos dias tudo o que você não pode deixar de fazer em cada uma das ilhas.
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