Sprezzatura, a arte de chamar atenção sem ser descoberto
Sprezzatura: um conceito do século 16 que é sinônimo de cool ainda no século 21.
Sempre foi vulgar parecer que você está se esforçando para ser chique. Nas cortes do século 16, não bastava ser hábil nas armas, nos esportes, na música e na dança, sendo a sprezzatura uma habilidade essencial do cortesão ideal. Essa era a opinião de Baldassare Castiglione — ele mesmo um cortesão da corte da duquesa virgem de Urbino —, que ele descreve em seu livro Il Cortegiano (O Cortesão, em italiano), publicado em 1528, quando as intrigas palacianas eram rotina (e resultavam em mortes e envenenamentos), a justiça um conceito quase abstrato (a vontade do soberano era imperativa) e as aparências, ah, como elas eram cultivadas. (Opa, mas algo mudou?)
Sprezzatura é dominar completa e perfeitamente a arte de se relacionar com as pessoas, de decorar a casa ou de vestir-se bem, de forma que essas difíceis tarefas pareçam completamente sem esforço, planejamento ou preocupação (o que faz com que o resto do mundo te odeie por conta disso), apesar de todos os livros de etiqueta, a pesquisa e escolha cuidadosa do look, o tempo passado em frente ao espelho arrumando o cabelo e a aparente naturalidade ou desinteresse no comportamento quando sua ambição tem um alvo bem específico. Por isso, não se engane: o objetivo desta nonchalance toda é sempre chamar a atenção, se destacar, ser percebido, reconhecido e admirado; e conquistar.
É como a relação da bailarina com a gravidade. É necessária toda a força física do mundo — anos e anos de duros exercícios diários — para que ela pareça flutuar no palco, com toda a graça e leveza, de forma quase super humana, infalível. Sempre aguardando os aplausos no fim do espetáculo. Ou a conquista do coração do soberano.