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Stonehenge, (quase) tudo sobre esse círculo de pedras

Stonehenge

Antes de 1900, os visitantes que chegavam a Stonehenge recebiam cinzéis para lascar e levar um pedacinho das pedras mais famosas do mundo para casa. E eu sei que quando a gente chega a coisa que mais  chama a atenção são as pedras, colocadas aqui na mesma época da construção das pirâmides do Egito. Mas primeiro tente observar um círculo muito maior em volta delas, de aproximadamente 100 metros de diâmetro, que é formado por uma discreta valeta (ditch, em inglês) que circunda um montinho de terra (bank). É este trabalho de escavação circular feito — até agora sem explicação — pelo homem neolítico usando chifres de veados que leva o nome de henge, palavra que não tem tradução para o português. E são muitos os henges  espalhados pelo interior da Inglaterra. Mas para os arqueólogos, Stonehenge não é um henge, já que, tecnicamente, um henge é formado por uma “valeta no interior envolto por um monte de terra”; e aqui é o contrário. E por que então o nome “stone henge” se henge não leva pedra? Melhor deixar essa discussão para eles.

Dos primeiros buracos cavados nessa área pelo homem para abrigar grandes troncos de pinheiros — como totens — são mais de DEZ MIL ANOS de história. Já as pedras que formam o famoso círculo, algumas das quais pesam mais de 40 toneladas, viriam 500 anos depois da escavação do henge, por volta do ano 2500 antes de Cristo (ou seja, há mais de 5 mil anos; bem antes dos druidas). E elas foram trazidas de dois lugares: as maiores (chamadas sarsen, uma das pedras mais duras do planeta) vieram de uma pedreira a 30 quilômetros de distância, e as menores (chamadas bluestones), da Gália (Wales), que fica a uma distância de 240 quilômetros! Mas enquanto as sarsen  vieram por terra, as bluestones  fizeram o trajeto em embarcações pelo canal de Bristol até navegar pelo rio Avon, cuja margem passa a 2 quilômetros daqui. Se com a tecnologia atual já seria difícil — e caríssimo — fazer o transporte de toneladas de pedra, imagina na época, quando a roda tinha acabado de surgir.

Para que o homem chegasse ao círculo de pedras, essa construção que não servia nem como moradia nem tinha um muro para protegê-la de ataques, ele vinha por uma avenida de 2,5 quilômetros, também escavada no solo (no mesmo estilo dos henges) e visível até hoje (os arqueólogos desconfiam de que Stonehenge nem tenha sido finalizado: parece que eles terminaram apenas a parte da frente, que era visível da avenida, mas não a parte de trás). Só é sempre bom lembrar que Stonehenge faz parte de um complexo arqueológico que se espalha por dezenas de quilômetros quadrados, com muitos e muitos vestígios pré-históricos (e eu ainda quero voltar para explorar a região de bicicleta, como muitos ingleses o fazem).

Da mesma época dos menires (pedras cravadas verticalmente no solo) e dos dólmens (grandes pedras verticais que sustentam uma laje horizontal de cobertura, formando uma câmara sepulcral coletiva), Stonehenge, no entanto, é um marco da engenharia da época. Não só o homem esculpiu as pesadas e duras pedras, na mão, usando pedras menores, como também criou encaixes comumente utilizados na marcenaria: as cavilhas esculpidas no topo das pedras verticais se encaixavam perfeitamente nos buracos dos lintéis (a peça horizontal).

Se a gente até hoje não sabe por que exatamente o círculo de pedras que forma Stonehenge foi construído, de uma coisa pelo menos podemos ter certeza: assim como Inti Watana em Machu Picchu e Angkor Wat, Stonehenge está perfeita e propositadamente alinhado com o solstício de verão (o dia mais longo do ano, que marca o início da estação mais quente) e o solstício de inverno (a noite mais longa); no verão pelo nascer (precisamente atrás da ponta da pedra Heel), e no inverno, pelo por do Sol. Esses são os dois únicos dias do ano em que o feixe de luz solar passa pelas diversas camadas de pedras e brilha bem no coração de Stonehenge.

Até hoje milhares de pessoas — entre muitos místicos, wiccanos, pagãos, neohippies e hare krishnas — vêm para Stonehenge acompanhar o solstício de verão todos os anos, quando se pode ficar por entre as pedras, tocá-las; e o acesso é gratuito. Mas é tanta gente e tanto batuque que a última coisa que você vai ver é o Sol nascendo.

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SONY DSCPara que os lintéis (a pedra na horizontal) ficassem firmes sobre as duas pedras na vertical, eles esculpiam uma “cavilha” no topo das pedras que ficariam em pé e faziam dois buraquinhos na parte inferior do lintel. Imagem: Shoichi Iwashita SONY DSCAlém de mostrar como o homem trouxe as pedras sarsen até aqui, você consegue ver a cavilha na extremidade à direita da pedra. Imagem: Shoichi Iwashita SONY DSC

Shoichi Iwashita

Compulsivo por informação e colecionador de moleskines com anotações de viagens e restaurantes, Shoichi Iwashita se dedica a compartilhar seu repertório através das matérias que escreve para a Simonde e revistas como Robb Report Brasil, TOP Destinos, The Traveller, Luxury Travel e Unquiet.

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