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Villa Igiea, Palermo: Parte da história palermitana, o hotel mais luxuoso da capital da Sicília – à beira-mar mas sem praia – renasce em grande estilo com a Rocco Forte

Se, hoje, a entrada para o Villa Igiea é pelos fundos, os hóspedes do começo do século 20 chegavam pelo mar e tinham a vista para a construção imponente ao estilo de uma fortificação normanda. Imagem: Shoichi Iwashita

Todos os grandes jornais do mundo ocidental da época estiveram presentes em sua inauguração em 1900: New York Times, Le Figaro, Daily Mail. Com toda a publicidade, o projeto à beira-mar da família Florio — a mais poderosa e lendária das famílias sicilianas (e, na época, segunda família mais rica da Itália) — se transformou imediatamente em destino para a nobreza e a intelligentsia europeias, em busca do clima ameno e o ar puro da Sicília; desde meados do século 18, médicos europeus passam a dissertar sobre os benefícios dos banhos de mar e sol para a saúde. Décadas mais tarde, o Villa Igiea seria ainda cenário para grandes diretores do cinema italiano como Roberto Rossellini, Alberto Sordi e Vittorio de Sica, que filmou aqui algumas cenas do último filme da sua vida, Il Viaggio, estrelado por Sophia Loren e Richard Burton.

Se Palermo entrou no circuito jet-set da Belle Époque, foi graças à família Florio e sua Villa Igiea. O palazzo, construído ao estilo de uma fortificação normanda rodeada por lindos jardins com vista para o mar Tirreno, foi transformado em hotel com orçamento infinito através da contratação dos maiores artistas e artesãos sicilianos, e inspirado nos hotéis do suíço César Ritz, que já faziam história em Londres e Paris. Mas, ao passo que a família Florio foi perdendo sua fortuna, o hotel foi perdendo o brilho… Quase nada restou do mobiliário original, e, se há 100 anos os hóspedes chegavam ao hotel pelo mar, tendo a vista completa para a grandiosa edificação e o Monte Pellegrino, a entrada atual do único hotel de luxo da capital da Sicília é hoje pelos fundos. (Quando abriu, o Villa Igiea tinha carruagens à disposição e um luxuoso barco que levava os hóspedes em pequenos cruzeiros para Siracusa e Messina.)

O hotel é rodeado por lindos jardins com vista para o mar… Imagem: Shoichi Iwashita
… onde está a piscina-com-vista. Imagem: Shoichi Iwashita
Vista do quarto onde me hospedei, para o terraço do bar do hotel e o mar. Imagem: Shoichi Iwashita
O belíssimo salão do restaurante Florio nos faz sentir em uma cena de Il Gattopardo, filme elegantíssimo e imperdível de Luchino Visconti com base na obra de Giuseppe di Lampedusa, que retrata as mudanças na vida de uma nobre família siciliana durante o Risorgimento, a época em que ocorre a unificação da Itália no século 19. Imagem: Shoichi Iwashita
O teto art nouveau restaurado de um dos salões históricos do Villa Igiea. Imagem: Shoichi Iwashita

Em 2021, o hotel foi reinaugurado após a compra e a renovação total — incluindo a restauração dos ricos salões históricos em estilo art nouveau — pela família Rocco Forte, proprietária de alguns dos meus hotéis favoritos na Europa; incluindo o Hotel de Russie, em Roma, cuja crítica você lê clicando aqui. De qualquer forma, a volta ao esplendor deste ícone de Palermo e da Sicília é símbolo também do renascimento desta cidade que não só foi o berço da máfia, como também esteve refém dela ao longo de 150 anos; e até há pouquíssimo tempo (a própria família Florio tinha entre os empregados alguns dos capi da Cosa Nostra).

 

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A ELEGÂNCIA ROCCO FORTE EM PALERMO

Minha estadia foi na Sea View Suite número 212, com 69 metros quadrados. Na imagem, a sala com pé-direito alto com a janela e vista para o mar. Imagem: Shoichi Iwashita
A vista para a marina e outras partes desta que é a maior ilha do Mar Mediterrâneo. Imagem: Shoichi Iwashita
No quarto, belíssimo enxoval, espelhos com ar antigo e iluminação aconchegante. Imagem: Shoichi Iwashita
O banheiro mistura mármore, madeira e azulejos sicilianos feitos a mão. Imagem: Shoichi Iwashita
Pia dupla com boa iluminação e as amenidades de banhos incríveis da Irene Forte. Imagem: Shoichi Iwashita
Serviço de abertura de cama com tapetinho de linho, pantufas, e garrafinhas de água em vidro. Imagem: Shoichi Iwashita

Decorados por Olga Polizzi, diretora criativa da rede e irmã de Sir Rocco, os 78 quartos e suítes do Villa Igiea são elegantes sem ser ostentatórios, com aquela nonchalance que todo hotel à beira-mar deveria ter. Nos banheiros, o mármore é combinado com piso de azulejos foscos coloridos típicos da Sicília e elementos decorativos marítimos, sempre em branco. Nos quartos, a boiserie, o enxoval impecável e os espelhos antigos são combinados com móveis de vime e rattan, e tecidos estampados de diferentes cores e padronagens com aquela mistura que só os italianos conseguem fazer dar certo. 

Ainda sobre o banheiro, outro destaque dos hotéis Rocco Forte são sempre as amenidades de banho que seguem o conceito Natura e Scienza, produzidas por Irene Forte, responsável pelas experiências de saúde e bem estar dos spas da rede. Todas as matérias-primas vêm da fazenda orgânica própria da família na Sicília, a Verdura Società Agricola — onde também está o outro hotel Rocco Forte na Sicília —, com 230 hectares e 2.000 oliveiras, além de mais de 3.000 pés de laranja, limão, romã, amêndoas e figos-da-índia. Além dos aromas — todos naturais — e das texturas incríveis, é admirável também o fato de serem responsáveis com a nossa saúde (muito menos alergênicos por serem naturais) e com o meio ambiente.  

GASTRONOMIA DE EXCELÊNCIA NO VILLA IGIEA

Salão do restaurante Florio, onde é servido o café da manhã, e aberto para almoço e jantar. Imagem: Shoichi Iwashita
A belíssima mesa de café da manhã (amo esses vasos altos com folhagem). Nos hotéis Rocco Forte, sempre tem uma mesa com frutas, hortaliças e centrífuga para que se faça o suco na hora, mas aqui no Villa Igiea eles traziam da cozinha (a mesa era só de enfeite). Imagem: Shoichi Iwashita
As especialidades doces sicilianas: à esquerda, cassata, uma torta recheada com ricota de ovelha, coberta por uma pasta de amêndoas (quase um marzipan) e frutas cristalizadas; à direita, cannoli para fazer você mesmo, na hora, comme il faut {conheça a origem do cannolo na matéria que escrevi sobre o doce, clicando aqui}. Imagem: Shoichi Iwashita
Tomando café na varanda — na mesa preferida de Donna Franca, a rainha da elite parlemitana no começo do século 20, disse-me o maître –, tendo no prato uma omelete alla siciliana, com abobrinha, ricota e menta, e outra especialidade siciliana viciante: sfincione, uma pizza com massa parecida com a da focaccia, com muito tomate, cebola e anchova. Comi todos os dias nos cinco dias que passei em Palermo, e o do café da manhã do Villa Igiea era o melhor dos melhores. Imagem: Shoichi Iwashita
O belo salão interno do Igiea Terrazza Bar, com teto abobadado em pedra e os afrescos originais do artista Eugenio Morici. Imagem: Shoichi Iwashita
Tonarelli cacio e pepe no jantar no restaurante Florio. Imagem: Shoichi Iwashita
Aspargos no vapor, molho holandês com alcaparras e café. Quando os aspargos são tão bons que eles são secondi, o prato principal. Imagem: Shoichi Iwashita

A parte gastronômica também entrega tudo o que a gente espera de um hotel histórico e elegante. O restaurante Florio nos faz sentir no filme Il Gattopardo com um cardápio que valoriza os ingredientes da estação e siciliani — a Sicília sempre foi uma grande produtora de comida e dos tomates e das frutas mais deliciosas que podem existir —, o café da manhã na varanda com vista para o jardim e o mar é apenas o melhor jeito de começar o dia, e o Igiea Terrazza Bar — também com mesas al fresco e frequentado pelo beau monde local— tem no salão interno teto abobadado em pedra e paredes com afrescos originais do pintor palermitano Eugenio Morici. 

O único ponto de atenção do Villa Igiea é sua localização não-central, a 15 minutos de carro — dependendo do trânsito — do centro histórico de Palermo. De qualquer forma, não é difícil explorar os pontos históricos e os restaurantes desta cidade que sofreu as mais influências dos mais diversos povos ao longo dos milênios, já que o hotel proporciona uma van que faz o transporte gratuito a cada hora, chegando e voltando do mesmo ponto no centro da cidade, entre as 10h e as 19h.   

QUANTO CUSTA SE HOSPEDAR NO VILLA IGIEA

Para o quarto de entrada, o Classic Room, com 27 metros quadrados, calcule a partir de € 700,00 por noite, para duas pessoas e com café da manhã incluso. 

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Shoichi Iwashita

Compulsivo por informação e colecionador de moleskines com anotações de viagens e restaurantes, Shoichi Iwashita se dedica a compartilhar seu repertório através das matérias que escreve para a Simonde e revistas como Robb Report Brasil, TOP Destinos, The Traveller, Luxury Travel e Unquiet.

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