Yves Saint Laurent
O roteiro — seja pela própria história do estilista seja por histórias próximas — a gente já conhece e se repete, se repete, se repete: talento genial lidando com as grandes pressões do mundo cercado por uma entourage de colegas talentosos, lindos, ricos, michês e arrivistas, que curtem a vida adoidado (tudo bem, nem todo mundo tem Karl Lagerfeld na sua turma). E como se já não bastassem suas fragilidades, sofre ainda mais com os excessos de aditivos como drogas e álcool. Na narração de Pierre Bergé, companheiro mão firme que viveu por cinquenta anos com Yves Mathieu Saint-Laurent, o filme de Jalil Lespert começa com uma visita de Saint Laurent à sua família em sua Oran natal (Argélia francesa), logo que começa a despontar na carreira (já trabalhando na Maison Dior, onde foi contratado aos 19 anos). Logo em seguida, Pierre Bergé já idoso — e Saint-Laurent morto (ele faleceu em 2008) —, leiloa a belíssima coleção de arte que o casal amealhou ao longo da vida (repleta de obras compradas em pares, para os dois), no leilão da Christie’s que foi o grande destaque de 2009 e arrecadou quase 400 milhões de euros.
Se você não curte moda, vai ser difícil gostar do filme, que é bem a vida do dia a dia, nessa história nada original, super cronológica (a contratação e demissão de Yves da Maison Dior; o lançamento de sua maison haute couture; o vestido Mondrian de 1965; o lançamento do prêt-à-porter), sem grandes clímax, sem grandes emoções, nada nada nada Saint Laurent. Só dá uma animada quando entra a trilha na poderosa voz de Maria Callas, num dos desfiles mais deslumbrantes do mestre, na coleção de alta costura mais cara de sua história, intitulada Les Ballets Russes, do outono-inverno 1976. A cena foi gravada no Westin Hotel, onde o desfile aconteceu originalmente e com as roupas do arquivo da Fundação Yves Saint-Laurent.
O que vale a pena no filme, no entanto, além da moda e do luxo da vida de Saint-Laurent e Bergé, são as atuações dos atores da Comédie Française, Pierre Niney (ainda mais bonito que o Yves original) e Guillaume Galienne.
Agora, a gente aguarda a estreia (prevista para o fim do ano) de Saint Laurent, dirigido por Bertrand Bonello, apoiado pelo todo-poderoso François Henri-Pinault, CEO da Kering, conglomerado que é dono hoje da marca Yves Saint Laurent, que autorizou o uso da logomarca e dos desenhos de Yves e que o Pierre Bergé queria vetar.