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Hou Yi e a origem do Sol

De repente, dez sóis surgiram no céu. Os sóis tinham uma mãe, a deusa Yi He (que não era Sol), que escolhia apenas um dos dos dez filhos para, numa carruagem de ouro, dar uma volta pelo céu. Só voltavam à noite. O passeio-rodízio iluminava a nossa Terra diariamente e os homens viam apenas um Sol. Durante milhões e milhões de anos foi assim. Um dia, os filhinhos sóis entediados e sem entender por que só podiam passear sozinhos sem a companhia uns dos outros resolveram se reunir. Discutiram e decidiram que amanhã seria um grande dia: o dia em que passeariam juntos. Amanheceu. Os DEZ subiram na carruagem de ouro. A mãe, ao ver a cena, desesperada, tentou impedir que os filhos travessos saíssem. Mas sem sucesso, chorou.

Ao se aproximar da Terra, que foi ficando cada vez mais vermelha e começou a arder em chamas com o calor excessivo, os sóis se alegraram. Achavam que a movimentação dos homens e animais correndo de um lado para o outro era um sinal de boas vindas e ficaram ainda mais alegres. O povo, desesperado, procurou o imperador que resolveu escrever um comunicado ao deus do leste, do reino de onde vinham os sóis. “Devido às travessuras de seus filhos, a Terra inteira está em chamas”, dizia a carta. “Se não tomares uma atitude, todos morreremos”. O deus do leste, entendendo a gravidade da situação, chamou Hou Yi, um hábil arqueiro, para que desse uma lição nos travessos. Deu a Hou Yi um arco vermelho e dez flechas brancas, mas avisou que o arqueiro deveria apenas dar um susto e não machucá-los.

Ao chegar com sua esposa na Terra, Hou Yi andou por vários lugares para verificar o estrago causado pelos sóis. Indignado com a alegria dos sóis, que pareciam não se importar com o sofrimento dos homens, o arqueiro pegou a primeira flecha, mirou em um dos sóis, e disparou. O povo ouviu o “chi” do disparo da flecha que sumiu. Quando todos já duvidavam da capacidade do arqueiro em atingir o sol com sua flecha, um dos sóis se transformou em uma nuvem negra, e (agora, vem a melhor parte:) caiu na terra como um corvo de três patas. Morto. A Terra refrescou um pouco.

Com a aclamação das pessoas, Hou Yi pegou a segunda flecha e disparou na direção de um sol que estava fugindo, assustado com a morte de seu irmão. Acertou mais uma vez. E o outro sol caiu na Terra, morto, estendido no chão, como um corvo de três patas. As pessoas celebravam a temperatura cada vez mais amena e, na empolgação, instigavam o arqueiro a disparar mais flechas. E assim, Hou Yi, disparou a terceira, a quarta, a quinta flecha, esquecendo completamente as recomendações do deus do leste. E sem errar o alvo, grande arqueiro que era, os sóis caíam na terra, mortos, como corvos de três patas.

Depois que disparou contra o nono sol, o imperador lembrou da importância do calor e da luz para a Terra e retirou a última flecha das costas do arqueiro, que não se lembrava de quantos sóis havia matado.

Terminada a chacina solar, Hou Yi que voltou para o palácio com o imperador, foi proibido de voltar para o céu por ter desrespeitado as ordens do deus do leste e, desde então, o único filho sol que restou, se levanta bem cedo para passear no céu retornando só à noite. E não falta um dia com medo de represálias.

Shoichi Iwashita

Compulsivo por informação e colecionador de moleskines com anotações de viagens e restaurantes, Shoichi Iwashita se dedica a compartilhar seu repertório através das matérias que escreve para a Simonde e revistas como Robb Report Brasil, TOP Destinos, The Traveller, Luxury Travel e Unquiet.

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