Estrela d’Água: Pé-na-areia mas próxima (de carro) do Quadrado, uma das mais tradicionais pousadas de Trancoso precisa rever sua cozinha
Em uma enorme área à beira-mar na Praia dos Nativos, a pousada Estrela d’Água é das que tem o maior número de acomodações entre as opções mais sofisticadas. Por também receber não-hóspedes para o restaurante e o uso da praia, na alta temporada ela pode pode ficar bem cheia. Na foto, os espaços à beira-mar cercados de restinga, minha área preferida no hotel. Imagem: Shoichi Iwashita
Junto com o Capim Santo, fundado em 1985, a pousada Estrela d’Água, de 1998, é das mais antigas e tradicionais pousadas de Trancoso. De quando o vilarejo de pescadores que entrou na rota dos hippies da década de 1970 passou a atrair o jet-set internacional. E a alma e o coração de Trancoso são o Quadrado, a praça-que-não-é-quadrada no alto de uma falésia — e com uma bela vista panorâmica para o mar, a vegetação e o nascer do Sol —, onde estão a igrejinha de São João Batista, construída em 1656 sobre as ruínas de um convento jesuítico, e os melhores restaurantes do vilarejo, que ocupam as casinhas coloridas e centenárias que bordeiam o grande gramado que leva o nome desta figura geométrica.
Por isso é preciso saber que, hospedar-se em um hotel à beira-mar e pé-na-areia como o Estrela d’Água, na Praia dos Nativos, é estar a 20 minutos a pé ou cinco minutos de carro do Quadrado (isso, sem o trânsito intenso da alta temporada). E que, apesar da pouca distância, a sensação é a de que se está isolado: caminhar não é recomendado – à noite não tem iluminação, quando chove, a estradinha de terra vira um lamaçal escorregadio, e quando está seco, você é engolido por uma nuvem de poeira a cada carro que passa –; estar com carro próprio é ter de se virar para encontrar uma vaga para estacionar perto da praça; e usar táxi é ter de pagar R$ 60 para ir (tem de chamar o táxi para a pousada e eles cobram o percurso deles até você) e R$ 30 para voltar. Ou seja, a cada jantar fora da pousada (recomendado, saiba por que mais abaixo), você vai desembolsar quase R$ 100 para duas corridas que duram cinco minutos cada. O preço é fixo.
A sensação de isolamento aumenta por conta do tamanho da propriedade. Os mais de 23 mil metros quadrados de vegetação e a ampla faixa de areia na praia quase deserta, sem qualquer barreira entre a praia e a pousada, fazem a gente até esquecer que está próximo do buxixo de um dos destinos mais cobiçados do Brasil. Apesar de a decoração dos ambientes em comum e dos quartos ser confortável mas um pouco datada, eu amo as construções de madeira da praia rodeadas de restinga que ficam entre as piscinas — de borda infinita e em dois níveis — e o mar, onde você pode ler, trabalhar, comer, bater papo com os amigos. Nesse espaço à beira-mar também está o pavilhão onde acontecem as aulas de yoga. A pousada não tem academia, mas tem uma pequena sala com acessórios para treinos funcionais.
São 28 acomodações, entre quartos e bangalôs – o que faz do Estrela uma das maiores pousadas de Trancoso; acho que só o recém-aberto Fasano Trancoso é maior, com 40 acomodações –, espalhadas por um amplo jardim com caminhos de areia que levam até à recepção, uma casinha de pau-a-pique, e à casa principal, onde estão as salas, os dois restaurantes, todos com vista para o jardim, as duas piscinas e o mar.
Minha hospedagem em outubro de 2021 foi em um Bangalô Master, com 120 metros quadrados, amplo banheiro com jacuzzi e área externa com deque e piscina, que havia acabado de passar por uma reforma, deixando para trás cores fortes e contrastantes para dar espaço ao branco e tons de bege e cimento queimado mais elegantes. Mas, apesar do espaço e das áreas externas, os bangalôs são construídos de forma geminada, então, é possível escutar o que acontece no bangalô vizinho. Mas mesmo o quarto de entrada é espaçoso: a Suíte Superior tem 50 metros quadrados e varanda.
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Na casa principal, três construções conectadas por decks cobertos, estão a sala (foto acima) e a sala de jogos e os dois restaurantes, com varandas com vista para os jardins e as piscinas. Imagem: Shoichi Iwashita
São duas piscinas de borda infinita, em dois níveis, com vista para o mar na pousada Estrela d’Água. Imagem: Shoichi Iwashita
Essas salas rodeadas de restinga à beira-mar, que são atendidas pelo bar da praia são ás áreas mais charmosas da pousada. Imagem: Shoichi Iwashita
Cada quarto ou bangâlo possui seu espaço reservado na praia, com espreguiçadeiras, ombrelone, mesas e cadeiras de madeira. A Estrela d’Água está na Praia dos Nativos, ao norte do Quadrado. Imagem: Shoichi Iwashita
Os quartos são espaçosos, em tons mais claros depois da reforma, com chão de cimento queimado e um grande trabalho de marcenaria. Sempre amo essas camas com mosquiteiros, essenciais junto com os repelentes, para garantir uma noite de sono tranquila. Imagem: Shoichi Iwashita
O banheiro do Bangalô Master possui uma jacuzzi com janelas que se abrem tanto para o quanto para o jardim e a piscina externa privativa da acomodação. Imagem: Shoichi Iwashita
Na área externa, um gazebo com sofá, piscininha e um deque com espreguiçadeiras para relaxar na privacidade do seu quarto. Imagem: Shoichi Iwashita
QUANDO A SUSTENTABILIDADE NÃO ESTÁ NO CARDÁPIO
Minha única e grande decepção com a pousada foi com relação à comida, com exceção do café da manhã. Na primeira noite, queria algo comfort e pedi o risoto de tomate com muçarela de búfala… Não consegui comer duas garfadas do arroz quase invisível dentro de uma massa de queijo espesso que endurecia conforme se passavam os minutos. Quando pedi a sobremesa, um crocante de banana com sorvete de creme, me surpreendi quando perguntei a procedência do sorvete e a garçonete me respondeu “ah, é Kibon”. Ou seja, um sorvete industrializado que também tive de deixar de lado, cheio de gordura vegetal, corante, conservante, espessante, estabilizante, vendido no supermercado, que deve ter vindo de caminhão de sei lá onde. Uma sobremesa que custa R$ 48 mais 10% de serviço.
No bar-restaurante japonês, que abre todos os dias apenas durante a alta temporada, outra decepção: não consigo conceber um restaurante “japonês” de uma pousada sofisticada, à beira do mar da Bahia e de um oceano Atlântico repleto de peixes e frutos do mar, servindo várias receitas com cream cheese industrializado e salmão de cativeiro importado do outro lado do continente; esse que é um dos alimentos mais tóxicos do planeta, responsável por enormes problemas ambientais, e cheio de antibióticos, hormônios e corantes {saiba tudo sobre o salmão, clicando aqui}… É preciso que a hotelaria e a restauração de luxo assumam suas responsabilidades frente às práticas sustentáveis.
Quando perguntei à chef se eles usavam ingredientes orgânicos na cozinha, ela não sabia responder, já que é o departamento de compras o responsável pela seleção dos ingredientes… A indústria da alimentação, principalmente a pecuária e a dos agrotóxicos, é das maiores responsáveis pela destruição da natureza e pelo aquecimento global. E não tem como um hotel comunicar sustentabilidade – e saúde – sem se comprometer através dos cardápios oferecidos a hóspedes que pagam caro pela estadia. Tirando uma moqueca vegetariana e um hambúrguer feito de batata-doce e grão-de-bico, faltam opções veganas no amplo cardápio, faltam opções que não levem ingredientes provenientes de animais. Mas ouvi falar bem da moqueca e dos peixes e frutos mar feitos na grelha.
Já o café da manhã do Estrela d’Água é dos melhores de Trancoso. As tapiocas, feitas na hora a pedido do hóspede, são impecáveis e muito bem montadas. Cada dia vem um menu com diferentes opções, e você escolhe apenas os itens que quer comer. A prática, que começou durante a pandemia quando eles deixaram o sistema buffet, reduziu em 80% o desperdício de comida. E deveria ser assim em todos os hotéis.
Eu só queria um risoto de muçarela com tomate com arroz al dente, cremoso, mas, no caso, veio um queijo com alguns pedaços de arroz no meio. Não consegui comer. Imagem: Shoichi Iwashita
Além de mesas internas, há mesas na varanda que circundam a casa principal, com vista para o jardim. Não-hóspedes podem comer no restaurante mediante reserva. Imagem: Shoichi Iwashita
Para o almoço, badejo grelhado com crosta de amêndoas, acompanhado de purê de batata (R$ 148). Se estiver com alguma fome, é bom pedir entrada, prato e sobremesa. Imagem: Shoichi Iwashita
O ambiente da casa principal à noite. Imagem: Shoichi Iwashita
O café da manhã é o grande destaque do Estrela d’Água. Com um menu que muda diariamente, só vem à mesa aquilo o que você pedir, o que reduz enormemente o desperdício de alimentos tão comuns nos buffets de café da manhã dos hotéis. Imagem: Shoichi Iwashita
QUANTO CUSTA SE HOSPEDAR NO ESTRELA D’ÁGUA?
Para uma estadia na Suíte Superior, com 50 metros quadrados, que fica localizada em prediozinhos com quatro apartamentos, calcule a partir de R$ 2.200 a diária para duas pessoas com café da manhã. Já para os bangalôs com mais 100 metros quadrados e área privativa, calcule a partir de R$ 4.000. Para refeições nos restaurante da pousada Estrela d’Água, calcule R$ 300 por pessoa, por refeição, com entrada, prato, sobremesa, água, café e serviço.
RESERVAS
{Faça a sua reserva para a Pousada Estrela d’Água, clicando aqui.}
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Que decepção. Gosto muito de Trancoso e já cogitei me hospedar na Estrela D’Água. Tem muito nome e tradição. Mas depois dessa experiência, realmente não vale o valor da diária.