BLTA: Quando uma associação brasileira de hotéis de luxo tem a sustentabilidade como valor fundamental
Vista da torre de observação do Cristalino Lodge: hotel com dois hectares no meio de uma Reserva Particular do Patrimônio Nacional de 11.400 hectares. Veja a última — e triste — foto da matéria para entender a importância da iniciativa do Cristalino.
Além daquele turismo urbano que satisfaz nossa sede de arte contemporânea, gastronomia, livros e cafés e concertos, viajamos também por causa de praias com águas cristalinas, paisagens intocadas com vida selvagem, comunidades longínquas que mantém vivas suas tradições… Realidades infelizmente em risco por conta da crescente população mundial, da geração de lixo provocada pelo consumo e do turismo de massa. (Sempre vejo com desconfiança viajantes que afirmam amar a natureza mas não se preocupam com as questões da sustentabilidade; a começar pelas escolhas alimentares, que têm grande impacto sobre o meio ambiente, e, neste link, é só ir direto para o trecho sobre a pecuária).
Apesar de pouco explorado — imagine que o México recebe 40 milhões de turistas estrangeiros anualmente, enquanto o Brasil apenas 6,5 milhões —, nosso país tem muitas belezas naturais, muitas paisagens únicas; é o país mais rico do mundo em biodiversidade. Por isso, é imperativo que as pautas da preservação do meio ambiente e a do crescimento do turismo de forma sustentável sejam defendidas com seriedade; até por questões econômicas. Existe um enorme espaço para crescer, mas sem a preservação das paisagens não há turismo. Ninguém viaja para ver pasto.
LEVANDO BOAS NOTÍCIAS DO BRASIL PARA O EXTERIOR
E é com os melhores olhos que venho acompanhando o trabalho da Brazilian Luxury Travel Association, a BLTA. A única associação de hotéis de luxo brasileira tem na defesa da sustentabilidade, não só a do meio ambiente mas também as das comunidades impactadas pelos empreendimentos, um dos pilares fundamentais de seu trabalho na promoção no exterior dos 36 hotéis associados, e também do destino Brasil, levando boas notícias da nossa hotelaria e revertendo um pouco da imagem negativa a respeito dos retrocessos da política ambiental brasileira que vem ganhando manchetes mundo afora.
Fundada em 2008, a BLTA é parceira da SOS Mata Atlântica, ONG com 30 anos que já plantou 36 milhões de árvores mobilizando mais de 20 mil voluntários (a BLTA criou um fundo que repassa R$ 26 mil para o Refúgio Marinho de Alcatrazes através da ONG); na edição 2019 da ILTM Latin America, a mais importante feira de turismo de luxo da América do Sul, convidou o artista Garu para grafitar um painel de 10 metros para celebrar os biomas brasileiros (e ainda doou a obra para uma escola pública ao fim da feira #muitoamor); e desde 2018 instituiu o Prêmio Sustentabilidade BLTA, que acontece a cada dois anos (o próximo será em 2020) e tem como objetivo estimular práticas de sustentabilidade entre os hotéis associados.
E como fazem parte da BLTA todos os melhores hotéis do Brasil — Uxua, Txai, Copacabana Palace, todos os Fasano, os Emiliano, os Unique —, essas iniciativas acabam tendo um impacto mais amplo, influenciando o mercado como um todo.
PRÊMIO SUSTENTABILIDADE BLTA: SUSTAINABLE VISION AWARD RECONHECENDO OS MELHORES PROJETOS
Um dos três projetos finalistas do Prêmio Sustentabilidade BLTA 2018, no Uxua, em Trancoso, 10 ativistas ambientais são formados anualmente patrocinados pelo hotel. Clique aqui para ler nossa crítica completa do Uxua. Imagem: Shoichi Iwashita
Na primeira edição do Prêmio Sustentabilidade, dez hotéis inscreveram seus projetos. Um júri formado por especialistas em meio ambiente e figuras-chave do mercado de turismo de luxo avaliaram as iniciativas com base em quatro critérios: 1. conservação dos recursos naturais, 2. valorização do patrimônio cultural local, 3. ações que beneficiam a qualidade de vida das comunidades no entorno do empreendimento, e 4. incentivo para que exista uma melhor distribuição de riqueza através do comércio local.
Dos três projetos finalistas, o primeiro vencedor foi o Cristalino Lodge. No norte do Mato Grosso, ao sul da Floresta Amazônica, o hotel criou em 1997 uma RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Nacional), que começou com 700 hectares e hoje abrange uma área 16 vezes maior, com 11.400 (a estrutura do hotel só utiliza dois hectares). O objetivo da Reserva Particular é a preservação da biodiversidade, através dos projetos de pesquisa, conservação e educação das comunidades locais. Um belíssimo exemplo de como o universo do luxo por colaborar com o planeta.
A defesa da sustentabilidade dentro do contexto da vida contemporânea é tema difícil e complexo até para os mais bem intencionados. Mas só a conscientização tem o poder de provocar as mudanças necessárias para que o planeta reduza seu ritmo de destruição. E cabe a nós, cidadãos e viajantes, cobrar não só o governo mas também cada hotel onde escolhemos gastar nosso tempo e nosso dinheiro.
A localização do Cristalino Lodge, quase na divisa do Mato Grosso com o Pará, dentro Reserva Particular. Em volta, o que era floresta amazônica virou pasto e plantação de soja para a pecuária.
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