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Ca’d’Oro 2.0: conquista para o centro de SP sem o glamour de outras épocas

O Ca’d’Oro (em dialeto veneziano “Casa de Ouro”), assim como o Hilton da Avenida Ipiranga (hoje fechado), foi um dos grandes hotéis de São Paulo e teve como hóspedes e habitués  presidentes e políticos brasileiros, a realeza europeia, artistas e intelectuais famosos mundialmente (enquanto o Hilton seguia o estilo americano de eficiência, o Ca’d’Oro sempre teve orgulho de sua classe europeia). Inaugurado como um pequeno hotel na Rua Basílio da Gama em 1956, depois de três anos de sucesso com o restaurante de mesmo nome, foi para o quarteirão da Augusta-Avanhandava-Caio-Prado em 1961 e só viria a se tornar o Grand Hotel Ca’d’Oro em 1978, depois de vários edifícios construídos e anexados ao prédio principal, com uma oferta que passou de 200 para 400 quartos, entre suítes presidenciais, suítes para famílias (perfeitas para os executivos que passavam meses com suas esposas e filhos enquanto trabalhavam no Brasil; nessa época, empresas estrangeiras chegavam em peso ao país), além de restaurante 24 horas (o Lido), piscinas, jardim suspenso, teatro para 350 pessoas, amplo estacionamento etc. Com a degradação do centro, a abertura de novos e bons hotéis, e a mudança dos eixos financeiro e elegante da cidade para a região da Paulista/Jardins/Faria Lima, o grande Ca’d’Oro fechou suas portas em dezembro de 2009.

Mas a incorporadora que comprou o enorme terreno da família Guzzoni, originária de Bergamo, norte da Itália, e já na quarta geração de hoteleiros, resolveu incluir e manter no mesmo endereço o hotel — que, assim como alguns hotéis em Nova York e vários em Tóquio, ocupa os andares mais altos do edifício comercial (do 19º ao 27º) — e o restaurante Ca’d’Oro — no térreo, com entrada pela Rua Augusta — junto com os escritórios e os apartamentos residenciais que hoje ocupam duas modernas torres com mais de 30 andares.

E se as obras de arte dos séculos 17 ao 20 e o piano Erard fabricado em 1860 — com um belíssimo e delicado trabalho de marchetaria —, que pertenciam à coleção do hotel que tinha como consultor Pietro Maria Bardi, pouco combinam com o chão de porcelanato, as paredes altas de vidro espelhado (incluindo uma no meio do restaurante), a aparência frágil dos móveis e a impressão de que faltam elementos em ambientes como o lobby  e a biblioteca, o hotel entrega quartos corretos, com todas as amenidades de que precisa o viajante contemporâneo (ótima localização com acesso fácil ao transporte público, ar-condicionado, máquinas Nespresso nas três categorias de quarto, tomadas próximas à cama, wi-fi gratuito, iluminação aconchegante, sauna mista, academia e uma bela vista da cidade, tanto dos quartos quanto da piscina que fica no último andar), por um preço bastante competitivo (a partir de R$ 430 para um quarto superior e R$ 650 para as suítes). O fato de 20 funcionários do antigo Ca’d’Oro terem largado seus empregos onde estavam nos nove anos em que ficou fechado para voltar a fazer parte da equipe do novo hotel, incluindo os primos Fabrício e Gustavo Guzzoni, bastante orgulhosos do sobrenome e da trajetória da família, que lideram a administração, prometem um serviço mais pessoal e autêntico.

Os talheres de prata foram substituídos pelos de inox e o novo Ca’d’Oro não vai atrair a mesma clientela de seus anos de ouro, mas a volta desse histórico personagem é uma grande vitória para o centro e para a cidade de São Paulo.

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cadoro-hotel-sao-paulo-onde-se-hospedar-augusta-centro-1200-1 Paredes de alabastro com um par de bronzes antigos recebem os hóspedes na entrada do novo Ca’d’Oro. Imagem: Shoichi Iwashitacadoro-hotel-sao-paulo-onde-se-hospedar-augusta-centro-1200-2 À direita, você encontra a recepção. Imagem: Shoichi Iwashitacadoro-hotel-sao-paulo-onde-se-hospedar-augusta-centro-1200-3 A parte externa do novo restaurente Ca’d’Oro, que ocupa o térreo do edifício com amplas janelas com vista para a Augusta. Imagem: Divulgaçãocadoro-hotel-sao-paulo-onde-se-hospedar-augusta-centro-1200-4 O salão interno, mais aconchegante. Imagem: Divulgaçãocadoro-hotel-sao-paulo-onde-se-hospedar-augusta-centro-1200-5a O quarto em tons claros e vista linda para a cidade, já que o hotel ocupa do 19º ao 27º andar do edifício. Imagem: Shoichi Iwashitacadoro-hotel-sao-paulo-onde-se-hospedar-augusta-centro-1200-6 A pia fica aberta para o quarto. Na porta à direita, o banheiro. Imagem: Shoichi Iwashitacadoro-hotel-sao-paulo-onde-se-hospedar-augusta-centro-1200-6-b O banheiro é pequeno e não tem banheira. Imagem: Shoichi Iwashitacadoro-hotel-sao-paulo-onde-se-hospedar-augusta-centro-1200-6aMáquinas Nespresso com três cápsulas diárias sem custo estão à disposição dos hóspedes em todas as categorias de quarto. Imagem: Shoichi Iwashita
cadoro-hotel-sao-paulo-onde-se-hospedar-augusta-centro-1200-8 A academia, com poucos aparelhos e poucos pesos livres, junto com a piscina ficam no 27º andar do hotel. Imagem: Shoichi Iwashitacadoro-hotel-sao-paulo-onde-se-hospedar-augusta-centro-1200-9 Vista da piscina. Imagem: Divulgação. cadoro-hotel-sao-paulo-onde-se-hospedar-augusta-centro-1200-10 A biblioteca e as salas corporativas ficam no primeiro andar. Imagem: Divulgação. cadoro-hotel-sao-paulo-onde-se-hospedar-augusta-centro-1200-11 O restaurante apresenta algumas das receitas clássicas do antigo Ca’d’Oro. Mas se os pratos — como o pato e as sobremesas — estavam inconstantes, as massas são muito bem feitas e saborosas. Imagem: Shoichi Iwashitacadoro-hotel-sao-paulo-onde-se-hospedar-augusta-centro-1200-12Detalhe do tampo do guéridon usado no antigo Ca’d’Oro, hoje usado para servir o prato do dia. Resgatando a tradição de outros tempos. Imagem: Shoichi Iwashita

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Shoichi Iwashita

Compulsivo por informação e colecionador de moleskines com anotações de viagens e restaurantes, Shoichi Iwashita se dedica a compartilhar seu repertório através das matérias que escreve para a Simonde e revistas como Robb Report Brasil, TOP Destinos, The Traveller, Luxury Travel e Unquiet.

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