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Casablanca e a grande questão: Vale a pena visitar a maior e mais rica cidade do Marrocos?

E foram os portugueses que deram o nome de Casa Branca para esta que é hoje a maior e mais rica cidade do Reino do Marrocos, em 1515, quando eles decidiram reconstruir a cidade que eles mesmos haviam destruído 50 anos antes.

Na costa do Atlântico e habitada desde o século 8 pelos povos imazighen — nome dos diversos povos originários do norte da África que ficaram pejorativamente conhecidos como “bérberes” —, Anfa tinha se tornado base de piratas que saqueavam os navios cristãos; um problema a que a poderosa frota portuguesa decidiu dar fim. A solução encontrada: bombardear o vilarejo. Décadas depois, entre 1580 e 1640, a coroa de Portugal seria incorporada à coroa de Espanha. É quando Casa Branca se torna Casablanca

O mesmo terremoto que destruiria Lisboa em 1755 arrasou grande parte de Casablanca — e também de Rabat, hoje a capital do Marrocos, e de Mogador — e, assim, a cidade seria abandonada pelos europeus. É quando o sultão Mohammed ben Abdallah, da dinastia Alawi (a mesma do atual rei do Marrocos, Mohammed VI), decide reconstruir a cidade mais uma vez, e Casablanca ganha o nome Dar El-Beïda الدار البيضاء, “casa branca” em árabe. E no boulevard Mohammed V, uma das principais avenidas da cidade, o branco é a cor dos edifícios em estilos diversos, do colonial francês ao art déco

Foi o crescimento do porto de Casablanca, quando o Marrocos se tornou um “protetorado” francês — mais precisamente uma colônia de exploração —, e a principal porta de saída para as riquezas do país, que transformou a cidade em um importante polo comercial e econômico. “Casá”, como chamam os locais, tem hoje a maior mesquita do país (e terceira maior masjid مَسْجِد da África), a única possível de ser visitada em toda a sua viagem pelo Marrocos, e mais de quatro milhões de habitantes, o que a torna a cidade mais populosa do Magreb, como são conhecidos os países do norte ocidental da África formada: Marrocos, Mauritânia, Argélia, Tunísia e Líbia. 

As praias de Casablanca. Imagem: Shoichi Iwashita
Considerado o centro da cidade, no boulevard Mohammed V é possível ver a herança da arquitetura francesa, de quando o Marrocos era um protetorado-colônia. Imagem: Shoichi Iwashita
Mesinhas e cadeiras como nos cafés parisienses. Imagem: Shoichi Iwashita
Inaugurada em 1993 — mais precisamente no décimo primeiro Rabi’ al-Awwal (o terceiro mês do calendário islâmico) do ano 1414 da Hégira —, a mesquita Hassan II foi construída sobre o mar a partir do trabalho de 10 mil artesãos. Ela abriga até 21 mil fiéis em sua sala de orações, tem esse minarete de 210 metros de altura e é rodeada por uma área aberta de 70 mil metros quadrados. Imagem: Shoichi Iwashita
A complexidade das formatos dessas pecinhas de cerâmica — esculpidas a mão, uma a uma — que se encaixam perfeitamente formando as padronagens dos mosaicos zellige. Abaixo, a belíssima sala de ablução no subsolo do edifício, toda em mármore e mosaicos (todo muçulmano precisa se lavar e estar limpo antes de orar). Imagens: Shoichi Iwashita
Quer contar com a expertise Simonde para planejar a sua viagem? Nós temos uma parceria com a maior agência de turismo de luxo do país. Enquanto ela cuida da operação oferecendo suporte total e 24 horas, nós assumimos o planejamento e a curadoria de experiências da sua viagem, usando todo o nosso repertório para que você colecione lindas memórias. Para isso, basta me mandar uma mensagem direct pelo Instagram no @iwashitashoichi, clicando aqui.

VALE A PENA VISITAR CASABLANCA?

O mercado central de Marrakech com peixes e frutos do mar fresquíssimos. Imagem: Shoichi Iwashita

Com a medina mais jovem do Marrocos, Casablanca não tem a história, os hotéis, as experiências, nem atrativos turísticos que se comparem a Fez, Marrakech, os vilarejos do interior, o deserto… Mas algumas das melhores companhias aéreas do mundo, como a Air France, Emirates, Qatar e Turkish em seus voos para o Marrocos, só voam para o aeroporto Mohammed V de Casablanca [CMN], o que faz com que a cidade seja um bom ponto de partida para a viagem. Em uma ou duas noites em Casablanca, dá para descansar do voo, visitar a mesquita Hassan II, jantar no restaurante Le Cabestan, passear pelo centro da cidade; antes de pegar a estrada e seguir viagem por esse país magnífico. 

O fato de que Casablanca não é um destino de que os turistas gostam muito também me faz pensar que esperamos apenas os estereótipos dos destinos que consideramos “exóticos”. No Marrocos, por exemplo, queremos ver a vida nas medinas, as mulheres cobertas de véus, o saber ancestral das artes decorativas, mas esquecemos que os países africanos também têm metrópoles, com uma vida contemporânea muito parecida com as de todos os outros centros urbanos do mundo com shoppings, McDonald’s, condomínios fechados. Afinal, as tradições, a arquitetura vernacular e as diferenças entre as culturas estão condenadas a acabar no mundo globalizado capitalista em que todos consomem das mesmas fontes. 

ONDE SE HOSPEDAR EM CASABLANCA

O edifício é construído em formato de U e essa é a fachada que dá para o mar. A recepção, do outro lado, tem sua entrada no quinto e último andar do hotel. Imagem: Divulgação

O único hotel de luxo de Casablanca é o Four Seasons Casablanca, parte do projeto imobiliário à beira-oceano Anfaplace, que combina hotel, apartamentos, shopping center e escritórios em um projeto da Foster & Partners. O hotel não é central, no entanto: está a cinco quilômetros do boulevard Mohammed V e a 45 minutos do aeroporto internacional de Casablanca [CMN]. Leia a crítica completa sobre a minha estadia no hotel, clicando aqui

ONDE COMER EM CASABLANCA: LE CABESTAN

Fundado em 1926, o Cabestan é o restaurante mais bonito — e com a vista mais linda para o mar e as rochas — da corniche, o boulevard à beira-mar de Casablanca. O janelão de vidro do espaçoso reservado do banheiro masculino, com essa vista que parece uma pintura, o coloca na lista dos três banheiros-com-vista mais lindos a que já fui; ainda mais quando a maré está em baixa e as formações rochosas ficam aparentes. Com cardápio e trilha sonora internacionais, não espere pela típica gastronomia marroquina, mas sim por tapas, pizze, pasta, peixes e frutos do mar preparados sob influências diversas e regados com o excelente azeite de oliva orgânico da casa, feito a partir das azeitonas picholine do Marrocos. Até porque o restaurante é frequentado por muitos locais e, assim como na Itália, a melhor comida marroquina, as pessoas daqui comem em casa. Só não deixe de provar a sobremesa-para-dividir que é uma ode ao pistache, com sorvete feito na casa servido com financiers, pistaches caramelizados, cerejas amarena e um pãozinho longo de pistache salgado. O Cabestan vende bebidas alcoólicas e vale provar os vinhos gris marroquinos, o vinho “cinza” entre o branco e o rosé (ou seja, com pouquíssimo tempo de maceração) feitos com uvas de pele escura e polpa branca como a grenache e a cinsault. É preciso reservar através de um bom concierge para conseguir as melhores mesas com vista. LE CABESTAN: 90, boulevard de la Corniche, Phare El Hank. Telefone + 212 (0) 522 391-190. 

Nesta viagem, fiz um roteiro belíssimo impecavelmente planejado pela Escales Signature, uma DMC (Destination Management Company) com sede em Marrakech, representada no Brasil pela Version Unique

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Kouign-Amann, a deliciosa versão bretã — e caramelizada —do croissant

Shoichi Iwashita

Compulsivo por informação e colecionador de moleskines com anotações de viagens e restaurantes, Shoichi Iwashita se dedica a compartilhar seu repertório através das matérias que escreve para a Simonde e revistas como Robb Report Brasil, TOP Destinos, The Traveller, Luxury Travel e Unquiet.

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