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Paris, o começo

Da próxima vez que você vir a Notre-Dame da ponte de l’Archevêché (tem melhor ângulo da igreja?), pense que há aproximadamente 2500 anos foi ali, nessa ilhinha no meio do Sena e no meio da cidade (a Île de la Cité), que nasceu a cidade de Paris, lugar escolhido por um grupo de pescadores celtas da tribo Parisii para se estabelecer. Quinhentos anos depois da ocupação celta (em 55 a.C.) e já com uma população maior, a pequena ilha que ficava na Gália (a França só viria a surgir séculos mais tarde) foi conquistada pelos romanos — assim como toda a Europa e partes da Ásia e da África —, sob a liderança de Júlio Caesar, cujas tropas massacraram os celtas “rebeldes” que tentavam defender sua terra da invasão romana. (E para quem pensa que Vercingétorix é apenas um personagem dos quadrinhos Astérix — que acontece exatamente nessa época —, ele realmente existiu e foi ele quem liderou os insurgentes – até ser vencido).

Agora sob domínio romano, a cidade de Parisii cresce pela rive gauche, se organiza e se embeleza; torna-se “civilizada”. Até que, por volta do ano 400 d.C., o Império Romano começa a enfraquecer e, assim como Londres e Milão, Paris — e a Gália como um todo — é tomada por um povo bárbaro, que viria a deixar uma marca definitiva nessa região do mundo até os dias de hoje: os francos.

Primeiramente usados pelo exército romano para proteger as fronteiras contra outras tribos bárbaras (parece que os soldados romanos civilizados não tinham o mesmo “sangue nos olhos” na hora de guerrear), os francos, que assim como os saxões (no que é hoje o Reino Unido) e os lombardos (no norte da Itália) eram guerreiros e soldados mercenários, até que passaram um bom tempo se relacionando pacificamente com os romanos através da troca de favores.

Mas, a religião diversa não permitiu a integração entre os povos. Os romanos, que desde o imperador Constantino (por volta de 310) eram cristãos, não aceitavam a adoração aos deuses da natureza praticada pelos francos pagãos; e vice-versa.

Assim, conforme o Império vai se enfraquecendo, os francos, sob a liderança de Meroveu — que dará nome posteriormente à dinastia merovíngia — vão conquistando terras gaulesas ocupadas pelos romanos. Childerico, filho de Meroveu, assim como seu pai continua diplomaticamente colaborando com os exércitos romanos em troca de terras, riqueza, influência e prestígio (para situar você no tempo, estamos em aproximadamente 450 ;-). Com a ajuda dos francos, o Império Romano consegue derrotar os visigodos (que haviam tomado a Península Ibérica) e até o temido Átila, o huno, em uma vitória humilhante.

Mas é com o filho de Childerico que a história toma um novo rumo. O nome dele é Clóvis, o grande Clóvis (relembrando: Clóvis era filho de Childerico, que era filho de Meroveu), um autêntico rei guerreiro germânico (sempre é bom lembrar que, nessa época, os reis eram os primeiros a lutar nas batalhas, bem diferente dos generais de hoje, que apenas cuidam da estratégia e colocam os soldados na linha de frente). Ambicioso, Clóvis não pensava duas vezes antes de eliminar alguém que estivesse em seu caminho. Mandou matar até parceiros que haviam colaborado, e muito, com o sucesso de suas empreitadas, em tramas dignas de novela.

Clóvis, que continua o legado de seu pai Childerico, mantendo um bom relacionamento com os romanos, deixa a diplomacia de lado para conquistar as terras e o poder que pertenciam ao Império. Começa a atacar quando tinha apenas 20 anos. Seu primeiro alvo: Soissons, na Gália, cidade onde vai estabelecer residência.

FRANCOS, OS PRIMEIROS BÁRBAROS CATÓLICOS
Mas Clóvis ficou famoso também por um outro motivo. Após apelar para o deus cristão (que era a fé de sua noiva Clotilda) como um “teste” em uma batalha difícil contra os alemannis e vencer, Clovis se converte ao cristianismo, em Reims, na Champagne, no Natal do ano de 496, influenciando seu povo, que passa se converter em massa, e fazendo dos francos os primeiros bárbaros católicos.

A conversão ao cristianismo faz com que os francos se aproximem dos valores romanos — e consequentemente de muitos de seus súditos — e faz também com que romanos de outras partes sob o domínio de outras tribos bárbaras vislumbrem um governante bárbaro, mas cristão. Tal fato preocupa o rei dos visigodos Alarico, que procura uma aliança com Clovis, mas acaba sendo assassinado pelo parceiro durante uma batalha que teve como motivo uma rixa religiosa.

No começo do século 6, Clóvis transforma Paris na capital de seu reino e manda construir uma abadia (o que restou dessa construção na rive gauche é a torre que fica no Licée Henri IV).

Continua…

Shoichi Iwashita

Compulsivo por informação e colecionador de moleskines com anotações de viagens e restaurantes, Shoichi Iwashita se dedica a compartilhar seu repertório através das matérias que escreve para a Simonde e revistas como Robb Report Brasil, TOP Destinos, The Traveller, Luxury Travel e Unquiet.

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