Pinacoteca di Brera, o museu mais importante – e apaixonante – de Milão
Napoleão Bonaparte não era tão alto (media 1,68) nem forte. Mas no pátio da Pinacoteca di Brera é a escultura do general-exterminador-de-monarquias que se coroou rei da França E rei da Itália — e que colocou medo em TODOS os reis e rainhas da Europa — que você verá: alto, forte e pelado, representado pelo artista italiano Antonio Canova como Marte, o Pacificador, segurando Nike (a deusa grega da vitória) sobre um globo na mão direita e um longo bastão na mão esquerda.
É graças a Napoleão que a Pinacoteca di Brera é o museu mais incrível não só Milão mas um dos mais incríveis da Itália (se você tiver de decidir por apenas um programa cultural na cidade, simplesmente não hesite). Quando ele tomou poder das várias regiões (a Itália ainda não era um país, não era unificada), ele mandou fechar todas as ordens religiosas da Península que via pela frente e ordenou que TODAS as obras confiscadas na Lombardia, no Vêneto, em Marche, na Emilia-Romagna fossem levadas para a instituição que nascia como um acervo de quadros para estudantes de arte da Accademia di Brera, fundada em 1776 pelos austríacos (que dominaram Milão antes da chegada dos franceses e que baniram os jesuítas que ocupavam o palazzo), e que até hoje ocupa o mesmo edifício da Pinacoteca. O interessante é que, diferentemente dos grandes museus de Florença, de Roma ou de Nápoles, Brera não nasceu a partir das coleções de nobres e cortes, mas sim de uma política de estado que foi uma invenção de Napoleão e um dos produtos das ideias democráticas da Revolução Francesa. E o fato de ser um ponto de encontro de artistas foi que fez Brera se transformar no bairro boêmio (tudo bem, os bordéis não existem mais e deram espaço a galerias de arte e lojas de design ) e animado que é hoje.
Além da estupenda coleção de pinturas italianas que vão do século 14 ao século 20 (confira a nossa galeria abaixo; Rafael, Mantegna, Tintoretto, Caravaggio, Veronese, Bramante, estão TODOS representados), um dos charmes da Pinacoteca é aquele desleixo tão charmoso dos italianos: os tetos descascados, as esculturas, as paredes e o chão escurecidos pela ação do tempo, que dificilmente vemos em outros grandes museus de Paris ou Nova York; e as cadeiras de madeira que eles disponibilizam para que possamos apreciar as obras sem nos cansar. O edifício é formado por várias instituições e para acessar a Pinacoteca, você terá de pegar as escadas no fundo do pátio e subir para o primeiro andar, que é onde fica a entrada.
Mas leve uma garrafinha de água na mochila. Na Pinacoteca di Brera só tem livraria, não tem nem lanchonete nem café. Aproveite a deixa para tomar um drinque no jardim do Hotel Bulgari depois da visita, indo dar uma volta no Orto Botanico — um pequeno, rústico e simples jardim formado por ervas e outras plantas herbáceas (não lenhosas, ou seja, sem o caule duro), que fica no mesmo terreno da Pinacoteca e que só deve ser visitado quando não for inverno (no frio o jardim quase que desaparece) — e pegando a saída da Fratelli Gabba, que já é a rua do Bulgari e você já sai em frente à entrada do hotel. :- )
O edifício que abriga a Pinacoteca di Brera, no coração de um dos bairros mais charmosos de Milão. Imagem: Shoichi Iwashita
No centro do pátio está a escultura de Napoleão, por Antonio Canova. Imagem: Shoichi Iwashita
Mais um canto do pátio, com os estudantes de artes da Accademia di Brera, que fica no térreo. Imagem: Shoichi Iwashita
As escadas no fundo do pátio que dão acesso à Pinacoteca di Brera. Imagem: Shoichi Iwashita
Um dos ambientes da Pinacoteca, com as cadeiras de madeira que nos convidam à contemplação das obras. Imagem: Shoichi Iwashita
Nesta sala, é possível ver o processo de restauração das obras. No cavalete, o quadro de Bramate (na próxima foto). Imagem: Shoichi Iwashita
Cristo alla Colonna, de Donato Bramante, 1480-1490
O enorme quadro, com essa perspectiva impressionante, Ritrovamento del corpo di San Marco, óleo sobre tela de Jacopo Tintoretto, 1566
Cristo morto, tempera sobre tela de Andrea Mantegna