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Qual a relação entre a Bretanha francesa e a Grã-Bretanha? E a diferença entre bretões, britanos e britânicos?

pintura do povo bretão
Vestidas em roupas tradicionais bretãs, eu amo esse quadro, Les Bretonnes au Pardon, do pintor naturalista francês Pascal Dagnan-Bouveret — que foi criado por seu avô porque seu pai emigrou para o Brasil. Amo especialmente as expressões dos dois rostos e a proximidade que o pintor nos coloca frente a esse grupo, enquanto eles aguardam o início da procissão. Imagem: Reprodução internet

Pequena Bretanha versus Grande Bretanha, ou a Grã-Bretanha. Bretanha insular versus Bretanha continental. Bretanha francesa versus Bretanha “britânica”. Bretanha histórica versus Bretanha administrativa… Assim como muitos nomes do mundo ocidental, foram os gregos que batizaram esta grande ilha localizada no noroeste da Europa, de onde vieram os britanos, bretões e britânicos. 

No século 4 a.C., o explorador Pytheas deu à ilha que é hoje a Grã-Bretanha o nome de Brettaniai. Depois veio o historiador Diodorus Siculus – que escreveu uma monumental obra sobre a história universal ainda antes de Cristo –, com o nome Prettania; que evoluiria para Britannia quando, em 43 a.C., os romanos incorporaram uma grande parte da ilha ao seu império. {Para entender a diferença entre Inglaterra, Grã-Bretanha e Reino Unido, é só clicar aqui.}

OS BRITANOS ERAM UM DOS MUITOS POVOS CELTAS; OS SAXÕES, ATUAIS INGLESES, ERAM GERMÂNICOS

De Cardiff e Newport para Brest, Rennes e Nantes. Quando os saxões invadem a Brittania com o declínio do Império Romano no século 5, os bretões migram para o continente começando um novo capítulo da história da península conhecida hoje como a Bretanha francesa.

É sempre do território que vem o nome para os habitantes. Após a conquista e os quase 400 anos pertencendo ao Império Romano, os britanos, esse povo celta que habitava todo o longo do oeste da ilha desde aproximadamente 800 a.C., são dominados por outro povo com a queda do Império Romano do Ocidente: os saxões, de origem germânica, os atuais ingleses. Com a invasão saxã, parte da população britana migra para o continente, para a península que tinha o nome de Armórica e hoje é a Bretanha francesa, a Pequena Bretanha, a Bretanha continental. 

Mas se hoje a gente usa “bretão” para chamar as pessoas originárias da Bretanha francesa e “britânico” para os nativos da Grã-Bretanha, até a Idade Média, a literatura medieval não fazia distinção entre os termos britano e bretão, se referindo tanto aos habitantes não-germânicos da Britannia quanto aos da Armórica. Em inglês também os termos ganharam mais especificidade: Brittany hoje significa a Bretanha francesa e Great Britain é a principal ilha do Reino Unido, a que abriga a Inglaterra, a Gália e a Escócia. 

A SEPARAÇÃO DE NANTES, A CAPITAL DO PODEROSO DUCADO DA BRETANHA, DA ATUAL REGIÃO DA BRETANHA

Duquesa da Bretanha aos 11 anos de idade, por um acaso do destino, Ana foi rainha da França duas vezes. Diante das hostilidades entre os reinos da Inglaterra e da França — a Bretanha fica no meio), Ana precisa casar com seu inimigo Charles 8 de França, que morre sem que tenha deixado herdeiros. Por contrato, Ana é obrigada a casar com o sucessor do trono, Luís 12. A imagem acima é parte do livro de horas (um livro criado por devotos na Idade Média, cheio de iluminuras) Les Grands Heures d’Annne de Bretagne, encomendada pela duquesa em 1503.

A Bretanha histórica nasce em 851 quando Nominoë, primeiro soberano da Bretanha, venceu os francos que dariam origem à França. Por quase 700 anos, esse reino que se transformou em um poderoso ducado – que tinha até embaixadores em Roma – utilizou de sua posição geográfica estratégica entre as coroas britânica e francesa, ora servindo a uma, ora servindo a outra, para defender seus interesses. Até que, em 1491, a duquesa Ana da Bretanha (a da imagem acima) se casa com seu inimigo, o rei Charles 8, e se torna rainha da França (duas vezes!, saiba mais clicando aqui); o que vai culminar com a anexação da Bretanha ao território francês. 

De Nominoë à Segunda Guerra Mundial, passando pela carismática rainha Ana, a Bretanha sempre teve como capital a cidade de Nantes, onde viajantes podem até hoje visitar o castelo de seus duques. Mas, durante a França de Vichy, quando o país é ocupado pela Alemanha nazista, o Marechal Pétain retira da Bretanha o departamento da Loire-Atlantique, onde está Nantes, incorporando-o à região dos Pays de la Loire. Nantes, apesar de manter algumas das principais festas e tradições bretãs, passa a ser a capital dos Pays de la Loire; e Rennes, a nova capital da Bretanha. 

A retirada de Nantes da Bretanha, hoje chamada de Bretanha administrativa por não ter mais a cidade que é dos pedaços mais importante de sua história, até hoje é motivo de reinvindicações e manifestações, e tema de calorosos debates. 

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Shoichi Iwashita

Compulsivo por informação e colecionador de moleskines com anotações de viagens e restaurantes, Shoichi Iwashita se dedica a compartilhar seu repertório através das matérias que escreve para a Simonde e revistas como Robb Report Brasil, TOP Destinos, The Traveller, Luxury Travel e Unquiet.

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