São Paulo: O guia definitivo dos 15 melhores restaurantes orgânicos, sustentáveis, veganos e vegan-friendly da cidade; do gastronômico ao social
Paella de vegetais feita com arroz de altitude, verduras da horta própria e aioli da Enoteca Saint VinSaint, um dos restaurantes ambientalmente responsáveis — e mais consistentes — de São Paulo, e um dos nossos preferidos há muitos anos. Imagem: Divulgação
Solo doente é ser humano doente. Em um mundo interconectado, a saúde deveria ser um conceito global, social, político e interdependente e não algo individual e isolado para privilegiados. Saúde para nós, para os animais e para o planeta. E quando se fala hoje de alimentação saudável e sustentável, muitos assuntos se cruzam, mas a discussão passa principalmente pela origem dos ingredientes. Não vale mais só o que é gostoso no prato. Porque até aí, um sanduíche ultraprocessado de uma grande cadeia de fast-food internacional acompanhado de batatas fritas que nunca apodrecem… ou ainda gordura de palma com muito açúcar, xarope de milho transgênico, aromatizante de chocolate de exploração e um pouquinho de avelã mundialmente conhecido por um nome italiano pode ser delicioso para muita gente.
Desta forma: queremos orgânico, sem agrotóxicos, porque nos preocupamos com a nossa saúde e a das pessoas do campo, e também com a saúde da terra, das águas dos rios e lençóis freáticos, e dos animais. Queremos vegano, porque entendemos a ligação direta entre a pecuária industrial e a destruição das florestas e a extinção dos animais que nela vivem — causando as mudanças climáticas —, entre a criação de animais em cativeiro e as epidemias, e como a extração excessiva de peixes e frutos do mar está acabando com os corais e a própria vida marinha. E queremos local e sazonal, porque faz cada vez menos sentido ter morangos o-ano-todo-em-todos-os-lugares ou trufas brancas italianas que cruzam oceanos de avião queimando centenas de milhares de litros de combustível na atmosfera para estar no nosso prato.
A QUESTÃO DOS ULTRAPROCESSADOS NA ALIMENTAÇÃO VEGANA
Mas, se muita gente tem reduzido ou mesmo parado de comer carne e ingredientes derivados de animais em nome da saúde e do meio ambiente, existe um movimento de alimentos feitos de planta – detalhe, ultraprocessados – que tem chegado aos cardápios de restaurantes veganos. Isso porque entende-se que o consumidor não quer deixar de comer algo que tenha o cheiro, o gosto e a textura de carne e que faz parte do processo de transição para hábitos que requeiram menos recursos naturais. Mas não é saudável.
Por isso, nesta lista está clara a nossa preferência por lugares que trabalham apenas com ingredientes orgânicos, locais, sazonais e in natura, sem o uso de processados. É preciso que a gente se conecte com a natureza e seus ciclos, que a gente saiba que nossos alimentos favoritos não estão disponíveis o ano todo, e que a gente aproveite, com muito prazer, quando elas estiverem no auge do sabor.
Segue a lista! É só rolar a página ou clicar nos títulos abaixo para ler minha opinião sobre cada lugar:
— AIZOMÊ [Jardins]: A belíssima e secular comida japonesa vegana dos monges zen budistas
— EMILIANO [Jardins]: Culinária contemporânea ítalo-brasileiro-vegetariana em salão elegante
— SMUV [Jardins]: Smoothies densos com superingredientes que valem por uma saudabilíssima refeição
— PICCOLI CUCINA [Pinheiros]: Italiano 100% vegano com um saborosíssimo queijo de castanhas
— BANANA VERDE [Vila Madalena]: O único restaurante à la carte 100% vegetariano que abre para jantar
— SANDUÍCHES DE FALAFEL [Santa Cecília e Sumaré]: Pinati e Kebab Salonu, abertos o dia todo
— EMPÓRIO FRUTARIA [Jardins e Vila Nova Conceição]: Opções vegetarianas e aberto o dia todo
AIZOMÊ [Jardins]: A belíssima e secular comida japonesa vegana dos monges zen budistas
Um dos melhores restaurantes japoneses de São Paulo – e o único com uma mulher no comando –, a autenticidade do Aizomê sempre foi resultado do conhecimento profundo que a chef Telma Shiraishi tem da filosofia e da espiritualidade que regem a gastronomia japonesa; e de seu relacionamento próximo com os agricultores, muitos dos quais são nipo-brasileiros descendentes dos primeiros imigrantes que se estabeleceram no interior de São Paulo ao longo dos últimos 120 anos. O Aizomê também é o único restaurante japonês que se especializou no shojin-ryoori, a gastronomia secular dos mosteiros zen-budistas que, baseada nos preceitos da ahimsa, ou seja, da não-violência contra as formas de vida, é composta apenas por plantas – terrestres ou marítimas –, cogumelos, sementes, grãos, raízes e frutas. Uma filosofia que não poderia ser mais atual. Shiraishi-san chega a usar de cinco a oito tipos de algas em seu omakase, o menu-degustação, e, quando na época, usa wasabi fresco, ralado na hora comme il faut para ser servido com a etapa dos sushi, que não só impressionam pela criatividade do uso dos ingredientes como também pela beleza. Jantar shojin no Aizomê é comer poesia, como deveriam ser todas as refeições das nossas vidas; e livre de karma. {Confira a crítica completa do restaurante, clicando aqui.}
AIZOMÊ: Alameda Fernão Cardim, 39, nos Jardins. Telefone: 11 2222-1176. Whatsapp: 11 97247-3862. De segunda a sábado, abre para almoço das 11h30 às 14h30, e para jantar das 18h às 22h. De domingo, abre apenas para almoço, das 11h30 às 14h30. Tem também um endereço na Avenida Paulista, na Japan House. Para fazer uma reserva no restaurante-matriz nos Jardins, clique aqui.
CORRUTELA [Vila Madalena]: Cozinha autoral onde a sustentabilidade permeia toda a existência do restaurante
Inaugurado em 2018 e em localização icônica na Vila Madalena – ao lado da Escadaria do Patápio e a alguns passos do Beco do Batman, dois pontos quase turísticos do bairro –, a base do cardápio contemporâneo, autoral e nada óbvio do Corrutela é a sustentabilidade; da seleção dos fornecedores, à compra de ingredientes sem embalagens plásticas à compostagem dos resíduos, tudo é pensado para gerar o menor impacto ambiental. A cozinha aberta com direito a balcão para os comensais parece um laboratório, silencioso, organizado, lindo de ver. E apesar de ter peixes, frutos do mar e carnes no cardápio – e eu sinto uma enorme dificuldade em associar sustentabilidade à pecuária, por conta de todos os recursos naturais necessários para “produzir” carne –, tudo vem de pequenos agricultores que produzem em escala artesanal, da forma mais responsável possível. No menu-degustação de seis etapas, apesar da quantidade que já te deixa satisfeito no terceiro prato (prefira o de quatro tempos), espere pela execução perfeita de cada ingrediente e sabores nada familiares. Como no coração de alface servida com maionese de shiitake, molho de kurogoma (gergelim preto) e crumble de milho não-transgênico ou ainda nos dois tipos de feijão que o chef encontrou na Queijaria Santo Antônio de Minas e que foram preparados como um risoto, servidos com uma lula preparada no azeite de dendê (muito sutil), abobrinha e farofa de mandioca. Para terminar, a sobremesa entrega todo o conceito do Corrutela, uma vez que eles compram as amêndoas de cacau de uma agrofloresta na Bahia e fazem todo o processo de fermentação e produção do chocolate na própria cozinha. E é uma delícia o sorvete de chocolate, servido com um bolo de banana com pedaços de banana passa, crumble de cacau e coulis de jabuticaba. Calcule R$ 280 para o menu de quatro tempos com água e serviço, e R$ 360 para o menu de seis tempos.
CORRUTELA: Rua Medeiros de Albuquerque, 256, Vila Madalena. Telefone: 11 3097-9490. Fecha na segunda e terça. De quarta a sábado, abre para jantar das 19h às 23h. Sábado, abre também para almoço, das 12h30 às 16h; e domingo, abre apenas para almoço, das 12h30 às 16h. Para reservas, clique aqui.
EMILIANO [Jardins]: Culinária contemporânea ítalo-brasileiro-vegetariana em salão elegante
Primeiro hotel boutique da capital paulista, inaugurado em 2001 – o Fasano e o Unique viriam em 2003 –, o minimalista Emiliano ganhou meu coração desde a chegada do chef Breno Verdu em 2020. Como todo hotel que precisa agradar aos hóspedes com os mais variados gostos, consciências e restrições, o cardápio é bem amplo, nem sempre com ingredientes locais, mas encanta o menu-degustação Origem Vegetal. Com seis etapas e pelo preço de R$ 400 (R$ 350 + 13% de serviço), o menu passeia por ingredientes como hortaliças, PANCs, algas, cogumelos, castanhas, farinhas e frutas impecavelmente executados e apresentados, garimpados de pequenos produtores, na grande maioria dos casos. Destaque para o delicioso espaguete de pupunha com molho de moqueca vegetariana. O restaurante do Emiliano, que ocupa um salão de pé-direito alto com vista para um lindo e bem cuidado jardim vertical sob luz natural durante o dia e iluminação elegante à noite, também tem o menu à la carte – que atende não só a vegetarianos e veganos, como também intolerantes a glúten e lactose –, que podem ser compostos como um menu-degustação, bastando escolher entre três ou cinco pratos.
EMILIANO SÃO PAULO: Rua Oscar Freire, 384, Jardins. Telefone: 11 3728-2020. Café da manhã, todos os dias das 6h às 11h. Jantar, todos os dias, das 19h à meia-noite. Segunda a sexta, almoço, e sábados e domingos, brunch, sempre no mesmo horário, das 12h às 15h.
ENOTECA SAINT VINSAINT [Vila Olímpia]: 100% orgânico e com um trabalho impecável de pesquisa de ingredientes e pequenos produtores
Junto com a Telma Shiraishi, a Lis Cereja, proprietária da Enoteca Saint VinSaint, é outra das ídolas desta matéria. Apesar de não ser 100% vegetariano, o restaurante-e-loja-de-vinhos aberto em 2008 e cujo nome é uma alusão ao santo padroeiro dos vinicultores franceses, Saint Vincent (que tem a mesma pronúncia de “vin saint”, ou “vinho santo”), é dos precursores em termos de restaurantes genuinamente sustentáveis, que passam longe dos produtos cheios de agrotóxicos, refinados e processados industrialmente. Na cozinha e no seu prato, do azeite à sobremesa passando pelos pães de fermentação natural produzidos na casa com grãos ancestrais como a espelta, só entram ingredientes 100% orgânicos, da época e vindos de pequenos produtores espalhados pelo estado de São Paulo. Não só. Seguindo o conceito farm-to-table, desde 2015 eles também plantam suas próprias hortaliças – incluindo muitas PANCs, as plantas alimentícias não convencionais –, e têm galinhas e cabras, que fornecem para o restaurante ovos e leite frescos. E tudo é reaproveitado, compostado. A carta de vinhos é outro destaque, com seus 400 rótulos de vinhos naturais, orgânicos e biodinâmicos, uma forma de cultivo que integra a agricultura, a criação de animais e a vegetação nativas como parte de um organismo vivo, além de seguir um calendário de sazonalidade e abdicar do uso de componentes químicos no trato das safras. Apesar do foco nos vinhos nacionais, há garrafas do mundo todo, o que faz da Enoteca Saint VinSaint uma excelente oportunidade de descobrir – comprando para levar ou bebendo lá – produtores, uvas e o universo dos processos de vinificação mais sustentáveis. Calcule R$ 250 para jantar com entrada, principal, sobremesas, café e chá excelentes, serviço, sem vinhos. {Confira a crítica completa do restaurante, clicando aqui.}
ENOTECA SAINT VINSAINT: Rua Professor Atílio Innocenti, 811, Vila Nova Conceição. Telefone: 11 3846-0384. Whatsapp: 11 95085-0448. De segunda a sexta, abre para jantar das 19h à meia-noite. Aos sábados, servem um delicioso brunch das 11h às 16h, e jantar das 19h30 à meia-noite. Fecha aos domingos.
CAMÉLIA ÒDÒDÓ [Vila Madalena]: Responsável, é um vegetariano-quase-vegano superlativo nos sabores para qualquer hora do dia
Me lembro da vez que fui ao primeiro restaurante da Bela Gil no Rio de Janeiro, um lugar todo branco e asséptico decorado por uma famosa estilista paulistana (em um desses hotéis de rede que nada tinha a ver com o estilo da Bela ou mesmo do Rio) para provar o polêmico churrasco de melancia… que eu gostei. Depois dos livros publicados e toda a fama que Bela Gil conquistou na mídia — e no mundo dos memes —, apesar de ainda o ambiente ainda não estar à altura da comida cheia de saúde e sabor, é delicioso ver o amadurecimento da cozinha da chef-quase-ativista e conhecer o Camélia Òdòdó que ela abriu em 2021, desta vez em São Paulo, onde está morando. E aberto o dia todo, o Camélia Òdòdó é dos meus cantos preferidos na cidade para comer a qualquer hora, do café da manhã com um camélia matcha latte (leite vegetal, folhas jovens de chá verde em pó e açúcar de coco), um bananino cheio de vitamina C (leite de castanhas, banana nanica, frutas vermelhas, aveia e camu-camu) acompanhando uma tapioca com cogumelos e creme de avocado, passando pelos pratos do dia no almoço, ou as várias entradinhas e pratos para compartilhar no jantar, como os superlativos Gobi Manchurian (flores de couve-flor e brócolis empanadas e regadas ao molho agridoce de tamarindo, na foto acima) e os Patacones feitos com banana em todas as suas etapas e formas. O nome diferente tem diversas camadas de significados: a camélia, além de flor linda, é o primeiro nome científico da planta do chá e foi usada como símbolo dos abolicionistas no Brasil. Òdòdó quer dizer “flor” em iorubá, uma das principais línguas da Nigéria e da África Ocidental, de onde vieram muitas das pessoas escravizadas no Brasil. Em qualquer das refeições, só não deixe de provar as releituras saudáveis-and-sustentáveis de sobremesas como a banoffee, repensada com chantilly de coco, crumble de aveia e nibs de cacau, ou o tiramisù, que substitui o queijo mascarpone por um leve creme à base de castanha de caju, leite de coco e Cointreau.
CAMÉLIA ÒDÒDÓ: Rua Girassol, 451B, quase esquina com a Wisard, Vila Madalena. Telefone: 11 3815-7987. Abre todos os dias. De domingo a quinta, das 9h às 22h30. Sexta e sábado, das 9h às 23h.
CAJUÍ [Vila Madalena]: Tudo orgânico, tudo vegano, mas só para almoço, late lunch na maioria dos dias, e early dinner às sextas e sábados
Dos restaurantes desta lista, o Cajuí é o que mais se aproxima do ideal da gastronomia sustentável: 100% orgânico, 100% vegano – e in natura, sem produtos superprocessados –, com grande maioria de ingredientes locais e sazonais (o que faz o cardápio mudar regularmente); e ainda empregando pessoas de diversas faixas etárias, o que tem tudo a ver com as discussões mais que necessárias sobre inclusão e diversidade. O ambiente charmoso, ventilado e nas cores – e com as plantas – do cerrado complementam a experiência deste restaurante que homenageia a pseudofruta suculenta e de sabor adstringente, de cor amarela ou vermelha, que é nativa do bioma (assim como acontece com seu primo caju, chamamos o cajuí de pseudofruta pois a fruta mesmo é a castanha). O único ponto de atenção é saber que, durante a semana e aos domingos, só dá para almoçar, lanchar à tarde ou fazer um late-lunch porque eles fecham às 17h ou às 20h, dependendo do dia; e jantar – mas bem cedo – só nas sextas e sábados, quando eles fecham às 22h. As receitas são criativas e levam, por exemplo, queijo de amendoim, molho branco feito com castanhas (à venda também para levar para casa), pesto de PANCs (plantas alimentícias não convencionais) e molho “bolonhesa” de tempê (uma massa de soja fermentada feita a partir de uma técnica milenar indonésia). Aí, é só escolher entre um nhoque de beterraba recheado com cogumelos e alho-poró ao molho branco; um misto quente feito com queijo de castanhas e shimeji assado no pão de batata doce de fermentação natural; ou ainda a paella de frutos do mato – adoro esse nome –, com arroz, vegetais, cogumelos, ervas e especiarias.
CAJUÍ: Rua Aspicuelta 202, Vila Madalena. Telefone e WhatsApp: 11 3819-6169. Terça e quarta, das 11h30 às 17h; quinta das 11h30 às 20h; sexta e sábado das 11h30 às 22h e domingo das 10h30 às 16h30.
CUIA CAFÉ [Centro]: Combinação irresistível de localização, livros, cafés com a sofisticação de um menu com belas opções veganas
No térreo do Copan, no meio do buxixo da vida do centro, dentro de uma livraria incrível, aberto o dia todo, com mesas na rua onde se pode comer com segurança: o Cuia Café é uma combinação irresistível, ainda mais por ser produto do trabalho profundo e sofisticado da chef Bel Coelho sobre a gastronomia brasileira, que perpassa a relação da comida com as religiões afro-brasileiras, a realidade do campo e a necessidade de se produzir comida ao mesmo tempo em que as florestas precisam ficar de pé. E são muitas as influências desse cardápio popular e acessível, repleto de saborosas opções vegetarianas e veganas. Entre as comidinhas, além da salada com folhas orgânicas (os ingredientes variam de acordo com a disponibilidade), não deixe de provar o sanduíche de cogumelos grelhados, com homus e picles de tubérculos, a moqueca de vegetais com farinha d’água e arroz basmati ou ainda o arroz de cogumelos com tucupi e cúrcuma. Todos esses pratos são veganos. A bela carta de cafés – que inclui sempre um microlote e pode vir na versão coado e espresso – mais o cuscuz, o bolo de fubá de milho crioulo e as sobremesas fazem do Cuia Café uma excelente parada, a qualquer hora do dia, neste endereço icônico da cidade de São Paulo pensado por Oscar Niemeyer e Carlos Lemos. Não deixe, claro, de passar um tempo conferindo a belíssima curadoria de livros da Megafauna. Calcule por volta de R$ 180 para comer uma salada, um prato e uma sobremesa, tomar a água filtrada de jarrinha e um belo microlote ao fim da refeição.
CUIA CAFÉ: Avenida Ipiranga, 200, loja 48, no térreo do edifício Copan, Centro. Telefone: 11 93100-7700. Abre todos os dias, das 10h às 22h.
INSTITUTO FEIRA LIVRE [Centro]: Zero luxo, para almoçar orgânico, vegano, gostoso e barato no balcão de uma mercearia
Quando soube que os corajosos produtores brasileiros de orgânicos ficam com uma fração mínima do preço que pagamos pelos alimentos nos supermercados – que ficam com todo o lucro –, passei a tomar essa como uma nova preocupação, sempre tentando comprar direto dos produtores assinando cestas semanais. O que faz o Instituto Feira Livre no centro de São Paulo, a duas quadras do Copan, é justamente tentar resolver não só essa equação, como outras, ao vender uma grande variedade de hortaliças, frutas, cogumelos e produtos saudáveis e sustentáveis a um preço acessível – até para as pessoas com menor poder aquisitivo –, com contas transparentes e contando com a colaboração financeira dos clientes para manter o instituto funcionando. E muito legal é que o mercadinho possui um café com cozinha, onde se alternam diferentes cozinheiros a cada dia, que servem almoços deliciosos feitos com os ingredientes orgânicos vendidos na mercearia por menos de R$ 25. E, aí, como forma de colaborar com o projeto, sempre pago o dobro do custo do almoço. Uma alimentação saudável em um país com um solo tão fértil não deveria ser exclusividade da elite financeira.
INSTITUTO FEIRA LIVRE: Rua Major Sertório, 229, República. Pertinho do Copan, da Praça Roosevelt e do Minhocão. Na segunda, abre das 8h às 14h, de terça a sexta, das 8h às 19h, e aos sábados e domingos, das 8h às 17h.
DOIS TRÓPICOS [Pinheiros]: Plantas, café, yoga e comidinhas orgânicas embalados por um belo projeto arquitetônico
Praticamente um refúgio urbano com um lindo projeto arquitetônico em Pinheiros, o Dois Trópicos, além de loja de plantas e espaço de yoga, possui um elegante café ao ar livre no quintal da construção, do jeito que a gente gosta: água gratuita e sem plástico de uso único; excelente café orgânico ou agroflorestal da FAF, torrado pela Café Por Elas, uma empresa liderada por mulheres, servido coado ou na prensa francesa; menu compacto vegetariano só com ingredientes orgânicos e da estação; vinhos orgânicos, biodinâmicos e naturais. Nas mesas sobre o chão de seixos, as belas plantas que você encontra na loja que serve de entrada da Dois Trópicos.
DOIS TRÓPICOS: Rua Mateus Grou, 589, quase esquina com a Cardeal Arcoverde, em Pinheiros. Telefone: 11 99988-1843. De terça a sexta das 9h às 19h, e sábado, domingo e feriados das 9h às 18h. Fecha todo último domingo do mês.
SMUV [Jardins]: Smoothies densos com superingredientes que valem por uma saudabilíssima refeição
Espaço de yoga em cima e casa de smoothies embaixo – em estilo aconchegante com direito a cadeiras de vime suspensas, almofadas e mesas de centro (e algumas cadeiras na rua) –, o SMUV é daqueles lugares perfeitos para tomar um café da manhã rápido on-the-go ou apenas se refrescar com um gelado e denso smoothie feito com os mais nutritivos ingredientes orgânicos, em seis receitas criativas e incríveis. Tudo sem açúcar e servido em taças de vidro ou, então, em embalagens descartáveis, compostáveis – e comestíveis – feitas de tapioca. Sou fã do Green Goddess (foto), que leva espirulina, abacate, couve, manga, banana, tâmaras e leites de coco e amêndoas, mas tem também as versões que levam açaí, cacau, matcha, camu camu ou ainda reishi, um cogumelo que é conhecido como o cogumelo da “imortalidade”. E você ainda pode adicionar algum ingrediente extra, basta escolher uma das muitas opções expostas no balcão. Caso você esteja com muita fome (porque um smoothie desses vale como refeição), você pode começar com uma das opções de salgados veganos, como a coxinha feita com abobrinha, tofu defumado e jaca, o assado de falafel ou ainda o hambúguer de grão-de-bico, servido com homus de feijão fradinho, pesto de hortelã, picles de cebola roxa e pão de beterraba. Para beber, café, cacau, chá e lattes. Todos os smoothies têm o mesmo preço: R$ 40.
SMUV: Rua Bela Cintra, 1966, quase esquina com a Alameda Lorena, Jardins. Telefone: 11 95681-0369. Abre todos os dias, das 8h às 20h.
P.Ã.O [Jardins]: Pães para levar, mas muitas comidinhas deliciosas para comer in loco e o melhor bolo de chocolate da cidade
Na mesma Bela Cintra do Smuv, mas mais próxima da Paulista, fica o primeiro endereço da P.Ã.O, a Padaria Artesanal Orgânica. Fundada em 2007, a padaria foi uma das pioneiras em fazer não só um pão de fermentação longa natural, sem aditivos, sem conservantes, como também se comprometer com o uso de ingredientes orgânicos de pequenos produtores nas fornadas. E hoje com cinco endereços espalhados pela zona sul de São Paulo, um cardápio com muitas opções saudáveis e veganas – do suco verde impecável à tostada vegana feita com o pão do dia com cogumelos assados e pesto de nozes, passando pelo shot de limão, cúrcuma e gengibre – e o melhor e mais fotogênico bolo de chocolate da cidade, com cinco camadas generosas de ganache e caramelo, a P.Ã.O se tornou para mim aquele refúgio de comidinha boa a qualquer hora do dia. Mas só do dia, porque todas as unidades fecham às 18h, muito infelizmente. Os pães também são deliciosos – amo o 100% integral e o de nozes com figos – que eu compro, fatio, congelo, e coloco no forninho para sempre pão fresquinho em casa para o café da manhã, para comer com homus ou pasta de amendoim. E adoro quando eles já venderam a fornada do dia e eles passam a vender o pão que raramente tenha sobrado dos dias anteriores por preços mais em conta; sempre pergunto. Calcule R$ 70 para um shot, uma tostada, uma fatia de bolo de chocolate e um café. E não deixe de levar pão para casa.
P.Ã.O: Rua Bela Cintra, 1618, quase esquina com a Alameda Franca, Jardins. Telefone: 11 2193-2116. De segunda a domingo, das 8h às 18h. E mais três endereços: na Vila Nova Conceição, na Gabriel Monteiro da Silva e no Itaim. Site: padariaartesanal.com.br
PICCOLI CUCINA [Pinheiros]: Italiano 100% vegano com um saborosíssimo queijo de castanhas
Um restaurante italiano com polpetone, molho à bolonhesa, lasanha com presunto e molho branco… mas sem carne, sem prosciutto, sem manteiga e sem queijo. Essa é a proposta da Piccoli Cucina, restaurante e café que ocupa um charmoso edifício de dois andares em Pinheiros, na recriação vegana de pratos italianos e ítalo-brasileiros. O cardápio é extenso e usa e abusa das carnes vegetais processadas – peixe, frango, presunto, carne moída –, mas tem algumas coisas boas. Adorei, por exemplo, a salada Caprese (na foto acima) que vem com uma versão de mozzarella de búfala vegana que é, na verdade, uma saborosa pasta cremosa de castanhas (que substitui o queijo) temperada com mostarda, miso, limão e óleo de coco. Já o spaghetti feito com semolina e azeite ao invés de farinha e ovo têm textura agradável, mas não resiste ao enrolar com o garfo, se quebrando todo; por isso, prefira as massas como o gnocchi, o ravioli ou mesmo uma das muitas receitas de lasagna. De sobremesa, o cheesecake coberto com geleia de frutas vermelhas tem bom sabor, mas textura consistente demais. O Piccoli está sempre lotado, por isso convém fazer reserva. De qualquer forma, é sempre uma delícia nesses restaurantes poder pedir qualquer coisa do cardápio sabendo que nada vem do sofrimentos dos animais e eu amo o fato de que eles não fecham entre almoço e jantar. Calcule R$ 200 para entrada, prato principal, sobremesa, café e água.
PICCOLI CUCINA: Rua Francisco Leitão 272, quase esquina com a Artur de Azevedo, Pinheiros. Telefone: 11 91002-5494. Abre todos os dias: de domingo a quinta-feira, das 12h às 22h; às sextas e sábados, das 12h à meia-noite.
GREEN KITCHEN [Centro]: Quando o vegano pode ser pop; com carnes vegetais processadas, frituras, plástico
As opções plant-based são tantas em São Paulo que tem até espaço para um lugar mais jovem, com cardápio rápido, frituras e ingredientes processados – todas as carnes vegetais que imitam carne de boi, de porco, de galinha, de peixe –, e direito a combos de hambúrguer com bacon, nuggets, linguiça, ovo frito, cheddar, Mac ‘n’ Cheese, aioli trufado (saiba tudo sobre os produtos “trufados”, clicando aqui). Esse é o Green Kitchen, desdobramento pop do Plant Made, restaurante vegano aberto em 2019 na Praça Vilaboim, que abriu no térreo do moderninho hotel Selina em 2021, em uma das ruas mais lindas do centro da cidade. O salão de pé-direito alto é agradável, mas não espere muito pelo serviço. A música alta às vezes também incomoda, e um lugar vegano não deveria vender água sem gás em garrafinhas plásticas de 300 ml. Só não peça o oniguirazu com recheio de cogumelos. O que é uma delícia no Japão tinha tudo para ser incrível aqui, mas a quantidade exagerada de maionese e o nori mole-mole-mole (eles devem fazer e deixar pronto, o que deixa o nori molhado, sem a textura crocante que deveria ter) tiram todo o brilho da receita. Calcule R$ 150 para um jantar com entradada, prato, sobremesa, água e café, com 12% de serviço.
GREEN KITCHEN: Vieira de Carvalho, 99, República, no térreo do Hotel Selina. Telefone e Whatsapp: 11 95064-0702. Abre todos os dias, das 7h às 22h, oferecendo o cardápio de café da manhã das 7h às 11h30.
BANANA VERDE [Vila Madalena] O único restaurante à la carte 100% vegetariano que abre para jantar
Ocupando uma casa de esquina na Vila Madalena, o Banana Verde é o único restaurante 100% vegetariano da nossa lista que abre para jantar. O cardápio à la carte — também com opções veganas para entradas, principais e sobremesas — pode ser pedido tanto no almoço quanto no jantar, mas ao meio-dia eles também oferecem almoço executivo que pode ter duas ou três etapas (buffet de saladas + prato ou prato + sobremesa). E para acompanhar os vinhos e cervejas artesanais, o cardápio é bem variado e para todos os gostos. Para começar, além das saladas e comidinhas, eles contam com vários pratos feitos no forno a lenha (cogumelos orientais, brie com mel, bruschette rústicas). Como pratos principais, três opções de massas recheadas feitas na casa (com farinha integral e ovos orgânicos), duas de risotti, duas especialidades (adoro o bobó de shimeji com banana da terra, farofa de castanhas, arroz com brócolis e purê de cará com queijo meia cura), e ainda duas opções de sanduíches e duas de hambúrgueres. Para finalizar, uma deliciosa mousse de avelã, opções de sobremesas sem açúcar e os sorvetes da Gelato Boutique, que a gente ama.
BANANA VERDE: Rua Harmonia 278, esquina com a rua Madalena, Vila Madalena. Telefone 11 3814-4828. Segunda fecha; terça a sexta, das 12h às 15h30 e das 19h às 23h (mas a cozinha fecha às 22h30); sábado, das 12h às 23h; domingo, das 12h às 16h30.
SANDUÍCHES DE FALAFEL [Santa Cecília e Sumaré]: Pinati e Kebab Salonu, abertos o dia todo
Um das características da cozinha oriental é o frescor e o sabor máximo dos ingredientes. E para quem gosta de falafel, esses bolinhos fritos de fava e grão-de-bico, a dica é comer os sanduíches de falafel (geralmente com salada de tomate e pepino, repolho, picles, homus, com tahine ou tarator, beringela etc.) do Pinati (foto), representante judaico-kosher-bem-tradicional da Santa Cecília, com sabores mais suaves mas montagem perfeita (peça no pão pita para que o recheio venha todo dentro do pão e ainda a batata frita Chips Pinati individual para acompanhar), e do Kebab Salonu, representente turco no Sumaré, com sabores superlativos, muito bem temperado e que vem com berinjelas fritas e cebolas assadas ao limão, azeite e sumac (peça as fritas com zaatar para acompanhar). Não há melhores falafel na cidade.
PINATI: Alameda Barros 782, esquina com a Rosa e Silva, Santa Cecília. Telefone: 11 3668-5424. Segunda a quinta, das 12h às 22h; sexta, das 12h às 15h; sábado fecha; domingo, das 12h às 22h. Calcule R$ 40 para o sanduíche de falafel, fritas individual e refrigerante.
KEBAB SALONU: Rua Heitor Penteado 699, esquina com a Monsanto, Sumaré. Telefone: 11 2373-9258. Segunda fecha; terça a quinta, das 12h às 23h; sexta e sábado, do meio-dia à meia-noite; domingo, das 12h às 23h.
EMPÓRIO FRUTARIA [Jardins e Vila Nova Conceição]: Opções vegetarianas e aberto o dia todo
Apesar da minha restrição com um lugar que se define como um restaurante de comida-saudável-preocupado-com-a-natureza mas, incoerentemente, tem salmão no cardápio e vende água em garrafinhas plásticas de 310 ml a R$ 6!, o Empório Frutaria, além de ter duas espaçosas unidades, uma na Oscar Freire (ao lado do Santo Grão) e outra na Helio Pellegrino, fica aberto todos os dias das 10h à meia-noite (e é uma delícia poder simplesmente ir a um lugar sem precisar ficar conferindo se está aberto ou não). Além dos muitos pratos vegetarianos como saladas, wraps e o que eles chamam de superfood bowls, como na foto acima (tem opções veganas também, e eu sou apaixonado pela salada Detox, com kale, brócolis, grão-de-bico, pistache torrada e mirtilo desidratado), o Empório é um dos únicos lugares em São Paulo onde você pode comer açaí (de produção própria) sem o xarope de guaraná que transforma a tigela em uma bomba de glicose (eles têm uma versão zero, com xarope de guaraná zero açúcar adoçado com sucralose, e ainda a raw, o açaí puro — e pouquíssimo gosto —, que você pode combinar com diversos ingredientes funcionais; a minha combinação favorita é açaí batido com banana, pasta de amendoim e hemp protein). Mas… Se você quiser tomar apenas açaí, vá às lojas vizinhas do mesmo dono, a Frutaria São Paulo, em ambas as ruas (Oscar e Helio), pois paga-se 20% a menos pelos mesmos açaís. {Para conferir a matéria exclusiva e ver mais fotos, clique aqui.}
EMPÓRIO FRUTARIA: Rua Oscar Freire 433, quase esquina com a rua Rio Preto, nos Jardins. Telefone 11 2609-9712. Segunda a sexta, das 10h à meia-noite; sábado, das 10h à 1h da manhã; e domingo, das 10h à meia-noite (abre feriados nos horários do dia).
Matéria original de 18 de março de 2018 atualizada em 6 de agosto de 2022.
Com a colaboração de Laís Ribeiro @lais.ribs
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