The Brando, Taiti e suas ilhas: Sem bangalôs sobre águas e piscinas infinitas, um dos melhores e mais caros hotéis do mundo é zero-ostentação
Apesar de não figurar nas últimas listas dos melhores do mundo, o resort all-inclusive The Brando, na Polinésia Francesa {saiba tudo sobre o Taiti e suas ilhas, clicando aqui}, possui todos os elementos do que se poderia considerar o melhor e mais rico hotel do mundo (não tem igual, de verdade). Porque eu nãoconheço nenhuma outra propriedade no planeta que:
♦ fique em um lugar não só paradisíaco — e fácil de chegar, são apenas 10 minutos de voo da ilha do Taiti — mas de natureza tão abundante, preservada e acessível, com uma coleção incomparável de 38 plantas autóctones, 167 espécies de peixes e aves incríveis como os lindos boobies de bico azul e pés vermelhos que eu achava que só existiam nas Galápagos;
♦ que, por isso, atraem pesquisadores do mundo todo, a ponto de contar com duas ONGs in-house, uma delas com o apoio da National Geographic;
♦ que tenha não só sua própria companhia aérea com três aviões novíssimos (dois Islander BN-2T e um Twin Otter) apenas para os hóspedes, mas também um terminal exclusivo no aeroporto internacional de Fa’a’a em Pape’ete (acho surreal imaginar que pilotos, agentes de segurança e de check-in façam parte do quadro de funcionários de um hotel);
♦ com um restaurante gastronômico com adega estelar assinado pelo chef-duas-estrelas-Michelin Guy Martin, do Grand Véfour de Paris (não só no restaurante gastronômico, foi a melhor comida que experimentei em todo o Taiti, com ótimos pães e viennoiseries, uma raridade por aquelas bandas, apesar das moscas);
♦ que tenha nascido de uma história de amor entre um ator hollywoodiano e uma belíssima taitiana; e,
♦ principalmente: que seja quase totalmente sustentável, uma vez que inventou um sistema de ar condicionado único no mundo — idealizado pelo próprio Marlon Brando. Canos puxam a água do mar a dois mil metros de profundidade a quatro graus Celsius, distribui por uma tubulação subterrânea que resfria todas as áreas fechadas do resort, e devolve a água quente mais próxima da superfície do mar, não interferindo assim nos ecossistemas marinhos (e economizando 90% de energia elétrica).
Por isso, não pense que você vai poder usar seu protetor solar comum aqui, mesmo os das marcas famosas. Ao chegar à sua villa, você encontrará no closet os protetores da Algotherm com o selo Ocean Respect, sem nanopartículas ou oxibenzona — substância presente em todos os protetores solares que comprovadamente mata os corais — para uso durante sua estadia em Teti’aroa. Apesar de dar um pouco mais de trabalho de passar (ele não é absorvido pela pele tão rapidamente), eu tive de trazê-los para seguir usando em outros destinos de praia. E aprendi mais essa.
Quer contar com a expertise Simonde para planejar a sua viagem para o The Brando? Nós temos uma parceria com a maior agência de turismo de luxo do país. Enquanto ela cuida da operação oferecendo suporte total e 24 horas, nós assumimos o planejamento e a curadoria de experiências da sua viagem, usando todo o nosso repertório para que você colecione lindas memórias. Para isso, basta me mandar uma mensagem direct pelo Instagram no @iwashitashoichi, clicando aqui.
A HERANÇA DOS REIS POLINÉSIOS E A PAIXÃO DE MARLON BRANDO
O atol de Teti’aroa, com seus 12 motu espalhados por seis quilômetros quadrados ao norte do Taiti. Imagem: Divulgação
Foto aérea do The Brando, que, de todo o vasto atol de Teti’aroa, ocupa apenas a ponta sul do motu Onetahi. Imagem: Divulgação
A piscina — enorme e cheia de cantinhos privativos para as chaises — que está sempre vazia. Imagem: Divulgação
Os sofás espalhados pela areia ao longo de todas as áreas comuns do resort. Imagem: Shoichi Iwashita
Por sua proximidade com a ilha principal do Taiti — são apenas 50 quilômetros de distância —, era no atol de Teti’aroa que, ao longo dos séculos, os reis polinésios vinham passear (já no século 11, o atol era um santuário); e o “Banho da Rainha” (The Queen’s Bath, foto abaixo), do outro lado do atol e acessível apenas de barco, segue sendo uma das praias mas lindas e desertas de Teti’aroa, do Taiti, do mundo (e o concierge pode organizar um piquenique para você lá).
Com a colonização francesa a herança polinésia se perdeu e, em 1967, o ator norte-americano Marlon Brando, com a permissão do governo francês, comprou Teti’aroa depois de se apaixonar — e casar e ter filhos — com a atriz taitiana Tarita Teriipaia, com quem contracenava no filme O Grande Motim, de 1962 (apesar de Teti’aroa ainda pertencer à família, Tarita nunca mais voltou à sua antiga residência depois da morte do marido em 2004) {veja a cena dos dois, clicando aqui #amoessacena}.
O hotel era um sonho de Brando, mas ele não chegou a ver seu sonho concretizado pela Pacific Beachcomber, a companhia que é também proprietária dos hotéis Intercontinental Tahiti, Mo’orea, Bora Bora, e da companhia de cruzeiros especializada em roteiros pela Polinésia, a Paul Gauguin, que respeitou todos os desejos do ator norte-americano para inaugurar, em 2014, esse que é considerado um dos hotéis mais luxuosos do mundo (o projeto de ar condicionado sustentável, por exemplo, era uma ideia de Brando).
Eu na parte da lagoa do atol que era o antigo balneário das rainhas polinésias.
Ao caminhar pelos motu ou andar de caiaque próximo às ilhotas, você verá filhotes de boobies por todos os lados (e eles são supercuriosos). Imagem: Shoichi Iwashita
O motu Tahuna Iti é um santuário das aves e por não ter predadores elas colocam seus ovos sobre as areias! Imagem: Shoichi Iwashita
SOFISTICAÇÃO SEM AFETAÇÃO
Esqueça piscinas de borda infinita, bangalôs sobre as águas, bares animados, pessoas fazendo selfies em cada canto do hotel.
O luxo do The Brando é o oposto da ostentação; é o do privativo, o da excelência (mesmo com todas as limitações geográficas), o dos espaços amplos, o da arquitetura ecológica, e o do conforto e do gastronômico completamente integrados à natureza intocada (um dos momentos mais lindos da minha estadia foi quando, no meio do jantar, o garçom veio avisar que havia uma tartaruga de 200 quilos colocando ovos na praia próxima ao restaurante; e não pensei duas vezes: larguei o prato na metade e fui com a equipe da ONG Tetiaroa Society acompanhar o processo, que foi emocionante).
Praticamente não se vê o hotel navegando pela ponta sul do motu Onetahi, um dos doze motu que formam o atol de Teti’aroa, que é alugado pela Pacific Beachcomber para o hotel (o atol ainda pertence à família de Marlon Brando; e é impressionante imaginar que toda essa beleza seja propriedade privada de alguém).
Você não verá ou escutará seus vizinhos (as 35 villas são afastadas umas das outras e separadas por vegetação, ou seja, dá para curtir tranquilamente sua piscina de frente para o mar completamente nu); e você só encontrará outros hóspedes nos restaurantes, no spa ou passando de bicicleta por você (mas mesmo assim não cruzará com eles frequentemente).
Todas as casas contam com piscina privativa e vista para o mar, sendo que a menor, de um quarto (mas com sala, sala de TV, sala de jantar e banheira al fresco; fotos acima), tem 96 metros quadrados de área construída (ou seja, sem contar os amplos jardins e a praia em volta) e utilizam materiais locais, como a madeira miki miki e as folhas pandanus, que formam o telhado.
Bicicletas estão sempre à disposição na entrada de sua villa (por que, meu Deus, todos os resorts não são assim?), incluindo bicicletas pequenas, caso você esteja com crianças. E não se preocupe em sair para jantar com a bike, beber demais no restaurante, e querer voltar com um funcionário do hotel de carrinho elétrico para dormir. Não importa onde você a deixe, no dia seguinte, ela estará novamente na porta da sua vila, impecável e pronta para usar.
Esse é o nível de serviço que oferece o The Brando, que funciona no sistema tudo-incluso (tudo o que estiver marcado nos cardápios com o símbolo do hotel, o cavalo-marinho, incluindo garrafas de vinho, você pode pedir à vontade e quantas quiser; para ingredientes como trufas, caviar e alguns rótulos estelares da adega do Mutinés, o restaurante do Guy Martin, é só pagar à parte). Os funcionários do restaurante e do bar lembram o vinho que você tomou no dia anterior, se você estiver na piscina e quiser alguma coisa do quarto, é só pedir e eles trazem onde você estiver, e é possível ainda fazer aulas de dança e língua polinésias com uma das simpáticas monitoras do hotel (eu fiz as duas).
E aí, você só não pode deixar de fazer todos os passeios de barco que puder para conhecer com profundidade a natureza deste paraíso, frequentar a academia completa (sempre com um professor à sua disposição) e o spa, um dos mais absurdos do mundo (o projeto paisagístico parece uma pintura, veja nas fotos abaixo), e fazer a visita guiada pelos bastidores do hotel onde pode-se ver todas as hortas com os ingredientes orgânicos que eles usam na cozinha, o sistema de compostagem e de utilização inteligente da água, as acomodações dos mais de 200 funcionários, a reciclagem de todo o lixo, as fontes de energia renovável (você verá placas de energia solar ao longo de toda a pista de pousos de decolagens do miniaeroporto), e ainda entrar na sala de operações onde a água do oceano se transforma em ar geladinho na sua villa.
O PREÇO, QUANTO CUSTAM AS PASSAGENS E AS CONDIÇÕES EXIGENTES
Para aproveitar esse paraíso, é preciso não só o dinheiro mas também planejamento, já que sua reserva só será confirmada se 100% da estadia estiver paga 60 dias antes da sua chegada (e para cancelamentos com 30 dias de antecedência, não há qualquer reembolso). A estadia mínima permitida é de duas noites.
Para o voo entre Pape’ete e Teti’aroa com os aviões do The Brando (não existe outro meio de transporte para acessar o atol), calcule € 450 por pessoa, ida-e-volta.
Já as diárias na baixa temporada, que vai de 11 de janeiro a 30 de junho e de 1 de novembro a 20 de dezembro, o preço de uma villa para duas pessoas sai por € 2.930 (€ 2.500 + taxas: 5% de VAT, 5% de RPT, 5% de taxa de serviço + 2% de taxa de conservação + € 1,26 de taxa local por-pessoa-por-noite; ou seja 17% + € 1,26). Na alta temporada, de 1 de julho a 31 de outubro, calcule € 3.400 (€ 2.900 + taxas) por dia.
Assim, para duas noites no The Brando com acompanhante na baixa temporada com as passagens aéreas, o valor será de € 7.200 (€ 6.760 euros + 6,38% de IOF do cartão de crédito), aproximadamente R$ 33.000. Mas é bom se apressar pois a partir de 1 de abril de 2019, a diária da villa de um quarto (duas pessoas + duas crianças) sobe para € 3.865 na baixa temporada e € 4.330 na alta, já com as taxas; um aumento de quase € 1.000 por dia. Nas imagens acima, 1. o Twin Otter do hotel; 2. chegando à Teti’aroa com o The Brando lá embaixo. Imagens: Shoichi Iwashita
O QUE ESTÁ INCLUSO NO VALOR DAS DIÁRIAS?
O The Brando é um resort all-inclusive. Todas as refeições em todos os restaurantes, incluindo o jantar no restaurante gastronômico Les Mutinés, estão inclusas (e a comida e o serviço são excelentes), assim como todo o cardápio no serviço de quarto 24 horas (só são cobrados 80 euros por pedido se a solicitação acontecer entre 22h e 6h da manhã) e quase todas as bebidas, incluindo ótimos vinhos, champagne e destilados com exceção dos rótulos mais especiais (tudo o que tiver marcado com o cavalo-marinho no cardápio você pode pedir à vontade).
Além disso, você tem à disposição todos os equipamentos aquáticos (caiaque, stand-up paddle, acessórios para snorkeling), pode fazer uma excursão por dia e por pessoa da lista proposta pelo concierge, e ainda tem um tratamento no spa de 50 minutos por villa e por dia (se você estiver numa villa com dois quartos terá direito a dois tratamentos por dia).
Ah, o wi-fi também está incluso e o melhor: ele funciona — e bem — em todo o resort; você não vai passar o perrengue que eu passei em Rangiroa. Nas imagems acima, 1. a entrada triunfal do spa Varua Te Ora, com um projeto paisagístico belíssimo; 2. as construções que servem como vestiários masculino e feminino (e eles nos dão um sarongue para circular pelo spa); 3. sobremesa de almoço, uma das coisas mais deliciosas que já comi: uma torta de maçã desconstruída com muitas texturas e temperaturas (e creme com a baunilha de Taha’a); 4. o restaurante gastronômico Les Mutinés do chef duas estrelas Michelin Guy Savoy.
E esse é o Jack, o peixão que foi seguindo o nosso barco durante várias horas, tanto na ida quanto na volta (ele até nos esperou enquanto fazíamos a trilha por um dos motu)! Imagem: Shoichi Iwashita
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