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Bruxelas: Os melhores cafés, chocolate e speculoos em um passeio pela cultura e a arquitetura da mais subestimada capital da Europa

O Café Capitale, daqueles cafés que nos convidam a visitas diárias em Bruxelas, tem duas unidades: uma no aristocrático bairro de Sablon e outra próxima à Grand Place. Imagem: Shoichi Iwashita

Em Bruxelas nasceram alguns dos meus artistas preferidos: do cantor poeta Jacques Brel ao genial Stromae, a coreógrafa Anne Teresa de Keersmaeker, os estilistas Olivier Theyskens e Diane von Fürstenberg. Um ídolo da dança, o coreógrafo francês Maurice Béjart, escolheu Bruxelas para fundar sua escola, a Mudras, que funcionou — e influenciou imensamente a dança contemporânea — entre 1970 e 1988 (Anne Teresa estudou na Mudras antes de fundar sua própria companhia). Por isso, sempre quando escuto alguém dizer “dois dias em Bruxelas são suficientes”, questiono os parâmetros de viagem do interlocutor. Um lugar que reuniu, inspirou e serviu de espaço para tantas trocas culturais relevantes não pode ser… chato.

Seis a sete vezes menor que Paris e Londres em termos populacionais (e talvez por isso), a capital da Bélgica — e capital não-oficial da Europa e sede da OTAN — é aconchegante e fácil de navegar; e os bruxelenses, surpreendentemente acolhedores. Ainda assim, Bruxelles-Capitale — ou em neerlandês Brussels Hoofdstedelijk Gewest, uma cidade com status de região autônoma — é cosmopolita, arquitetural, cultural, pop e gastronômica. Tudo o que a gente aprecia em um destino.

Isso porque 1. nesta cidade com dois milhões de habitantes falam-se mais de 250 idiomas e dialetos (imagine que dos 196 países do mundo apenas dez não possuem embaixadas em Bruxelas); 2. porque apesar de ter destruído muitas construções históricas importantes em nome da modernização, vide o bairro que abriga o complexo de prédios que formam o Parlamento Europeu (Bruxelas é tida como não exemplo de conservação do patrimônio em cursos de arquitetura), aqui nasceu o Art Nouveau nas edificações; 3. porque a cidade é palco para dezenas de festivais de música, cinema, dança e quadrinhos todos os anos, e tem mais de 100 museus e instituições culturais — incluindo algumas pequenas joias em belíssimos edifícios —; e 4. porque, mesmo além das 26 estrelas Michelin, come-se muito, muito bem na capital mundial do speculoos e das moules et frites (mexilhões com fritas). E não são só waffle, cerveja e chocolate belga.

Bruxelas não deve ser só visitada, mas vivida. E hoje, você confere tudo o que a cidade tem de mais interessante, com algumas dicas de comidinhas e cafés no meio do caminho.

Brabante é o nome da província onde está hoje Bruxelas, que existiu desde a época em que a Bélgica era ainda parte da Holanda até 1995, quando foi dividida entre Flandres, a Valônia e a região de Bruxelas-Capital. Sobre as imponentes arcadas do Parque do Cinquentenário, o parque que o Rei Leopold II construiu para comemorar os 50 anos da independência do país, a Quadriga de Brabante leva a bandeira nacional (mas não dá para ver na foto haha). Imagem: Shoichi Iwashita

O cantor bruxelense Stromae aborda diferentes questões em cada uma de suas músicas (o que ele fala da paternidade, Papaoutai, é incrível). Em Formidable, cuja história é a de um bêbado que se aproxima de uma mulher muito bonita para paquerá-la, ele grava o clipe na Place Louise, região central de Bruxelas onde fica o comércio de luxo, e é genial como as câmeras escondidas pegam a reação das pessoas que o reconhecem; até os policiais, que acham que ele veio de uma noitada.

SABLON, O BAIRRO ELEGANTE ONDE ESTÃO O MELHOR CAFÉ, ANTIQUÁRIOS IMPORTANTES E TODAS AS MAISONS CHOCOLATIÈRES QUE IMPORTAM

Ao lado do babilônico Palácio da Justiça (que não está na foto) fica a Place Poelaert (aqui vista do elevador que conecta os dois níveis da cidade), a porta de entrada do bairro Sablon com vista para o skyline da parte oeste de Bruxelas. O Café Capitale está a 200 metros daqui. Imagem: Shoichi Iwashita

Começo meus dias em Sablon, o bairro aristocrático do século 17 cujo nome quer dizer “areia muito fina”, e que segue elegante com seus muitos antiquários, casas de leilão, galerias de arte, restaurantes e as lojas das grandes marcas de luxo internacionais que se enfileiram no Boulevard de Waterloo na altura da Place Louise, limite do bairro.

E todas as as maisons chocolatières que importam estão na Place du Grand Sablon, uma praça triangular que infelizmente se transformou em um grande estacionamento. Foi no número 39 que um dos meus chocolatiers preferidos — junto com Pierre Hermé e Patrick Roger —, o belga Pierre Marcolini, abriu sua primeira loja em 1997 antes de conquistar Paris, Londres, Tóquio e Dubai. E é aqui onde estão também as lojas das mais comerciais Godiva (nascida belga, mas comprada por um conglomerado turco), a Leonidas (com mais de 800 lojas só na Bélgica e na França) e a Neuhaus (mas para essa última vale visitar sua primeira loja, fundada em 1857 nas Galeries Royales), e também a Wittamer #chocolateoverdose. As lojas da Faiançaria de Gien e do Christian Louboutin de Bruxelas também ficam na Place du Grand Sablon.

Na extensão da praça onde fica a mais bela igreja de Bruxelas, a Notre-Dame du Sablon, esse pequeno templo gótico (que contraria a monumentalidade do estilo) construído tardiamente entre os séculos 15 e 16, acontece aos sábados e domingos o Mercado de Antiquários, uma feira ao ar livre repleta de barracas de toldos listrados em vermelho e verde com objetos antigos. Mas se você é fã de antiguidades, vale caminhar pela Rue Haute e sua paralela, a Rue Blaes, com lojas importantes de móveis, livros antigos e obras de arte. Em frente à igreja, ainda fica uma charmosa unidade da Le Pain Quotidien, essa rede hoje internacional de padarias deliciosas que nasceu aqui em Bruxelas. Não deixe também de passear pelo agradável Square du Petit Sablon ao lado (na foto abaixo), uma pracinha-jardim rodeada de elegantes residências do século 17, onde 48 profissões são representadas em esculturas de bronze.

A aristocrática pracinha do Petit Sablon ao lado da Grand Sablon. Imagem: Shoichi Iwashita

Mas é a 150 metros da praça, na esquina das ruas Ernest Allard e Charles Hanssens, onde está um dos melhores e mais charmosos cafés de Bruxelas: o Café Capitale. Em uma esquina triangular com mesinhas na rua, o Capitale compra grãos crus de cafés bem pontuados de países como Guatemala, Nicarágua, Colômbia, Etiópia, Quênia e Congo (de vez em quando tem café brasileiro) e é o próprio dono quem define o perfil de torra e faz a torrefação — sempre mais clara — do café que é tirado comme il faut em diversos métodos. Bolos, croissants, cookies e cinnamon rolls acompanham. Para vir todos os dias para ler e relaxar; aqui ou em sua outra unidade, na Rue du Midi, perto da Grand Place.

MUITOS MUSEUS E UMA AGENDA INTENSA DE ARTE, MÚSICA, CINEMA, DANÇA, TEATRO, LITERATURA

A Place Royale é o cume do Mont des Arts. E, atrás da Igreja Saint-Jacques-sur-Coudenberg (esse frontão à direita), fica o Palácio Real de Bruxelas. Imagem: Shoichi Iwashita

As mais famosas obras do pintor surrealista belga Renée Magritte não estão no museu que leva o seu nome, infelizmente. Mas é possível ver belas versões da série Império da Luz, pintadas entre 1953 e 1954; quadros da série Sheherazade; e também a última— e prognóstica — pintura de Magritte, La Page Blanche, acima, de 1967, ano de sua morte. Imagem: Shoichi Iwashita

O Parc du Cinquantenaire abriga o Museu do Exército, o Museu de Arte e História, o Autoworld e o Instituto Real de História da Arte. Imagem: Shoichi Iwashita

São dois polos “museísticos” em Bruxelas: o Mont des Arts, a 400 metros da Place du Grand Sablon, e o Parc du Cinquantenaire, um parque imponente com arcos triunfais construído em 1880 pelo rei Leopoldo II em comemoração aos 50 anos de independência da Bélgica (lugar perfeito para um piquenique-na-grama em dias ensolarados). Mas é no mais central Mont des Arts onde estão as nossas instituições culturais do coração.

O Mont des Arts foi um dos muitos sonhos do Rei Leopoldo II na virada do século 19 para o 20 (Leopold II foi o “rei construtor” das grandes obras de Bruxelas, em grande parte com o dinheiro vindo da exploração de sua colônia particular, o Congo, onde cometeu atrocidades contra a população negra). Ligando a Place Royale (a “Praça Real”, já que atrás dela fica o Palácio de Bruxelas), na parte alta da cidade, à Place de l’Albertine, na parte baixa, a “Montanha das Artes” foi reconstruída de forma monumental nos anos 1950 e hoje conta com uma das mais belas vistas de Bruxelas.

Num raio de apenas 200 metros, estão todos os museus e instituições culturais com que alguém pode sonhar. Cinco dos 10 Museus Reais (os Musées Royaux, divididos entre os de “belas artes” e os “de arte e história”) estão no Mont des Arts, entre eles o Museu Magritte, dedicado à obra surrealista do mais célebre dos artistas belgas; o de Instrumentos Musicais, instalado em um belíssimo edifício Art Nouveau, que parece do Victor Horta mas foi desenhado por Paul Saintenoy; e o dos Velhos Mestres, Fin de Siècle e Modern, que perpassam a história das artes visuais — pintura, desenho e escultura — dos séculos 15 ao 21. De Bruegel e Rubens a Jan Fabre.

O excelente restaurante Bozar, dentro do complexo de artes homônimo, tem uma estrela Michelin. Imagem: Shoichi Iwashita

Ainda tem a Cinematek, um arquivo que cobre 100 anos de história do cinema com duas salas de projeção e cinco exibições de filmes por dia (duas delas de filmes mudos com acompanhamento de piano ao vivo), e o incrível-incrível Bozar (cujo nome é mais ou menos a pronúncia de beaux arts em francês), um centro cultural cuja programação de exposições, cursos, espetáculos de dança, música e teatro acontece dentro de um enorme edifício de 8000 metros quadrados concebido por Victor Horta em art déco, estilo bem diferente daquele por que o arquiteto belga se tornou célebre. Para completar, o Palais des Beaux-Arts de Bruxelles ainda abriga o restaurante Bozar (foto acima), que tem uma estrela no Guia Michelin, e a maior sala de concertos da Bélgica, com excelente acústica. Ou seja, o melhor da arte, da música e da gastronomia em um só lugar.

Atravessando a rua, no número 2 da Rue Ravenstein, está a loja do chocolatier Laurent Gerbaud, onde você pode fazer um divertido workshop de chocolate com o próprio (todos os sábados, das 11h30 às 13h) e levar a barra feita por você e com seus ingredientes favoritos para casa; não sem fazer uma deliciosa degustação enquanto espera seu chocolate ficar pronto para embalar. Não deixe de provar o surpreendente praliné recheado com ganache de azeite e azeitona, e comprar as deliciosas orangettes, tiras de casca de laranja confit cobertas com chocolate amargo, uma tradição do Natal (tem também o gingembre confit au chocolat, feito com gengibre novo, quase sem fibras, cozinhado no xarope e coberto de chocolate amargo).

Daria para passar a vida aqui nesta montanha acompanhando a programação.

MUITAS ARQUITETURAS

A Grand Place foi quase que inteiramente posta abaixo durante os três dias de invasão francesa em 1695, quando Luís 14 tenta anexar a Bélgica à França, mas foi reconstruída pelas endinheiradas corporações de ofício no século 19. Imagem: Shoichi Iwashita

Se na Place Royale reina o neoclassicismo do fim do século 18, com sua simetria discreta e sisuda, e cores claras e uniformes, a Grand Place, centro nervoso de Bruxelas desde a Idade Média, é o oposto (e é como chegar ao Panteão em Roma: caminha-se por ruelas estreitas até que ela surge, ampla, grandiosa, imponente).

Com construções em estilos gótico, barroco, neogótico-neorenascentista-neoclássico, com direito a muitas ornamentações e muito ouro, a praça abriga a prefeitura, o Hôtel de Ville, cuja construção interessantemente não tem nada de simétrica, bota reparo; a Maison du Roi, edifício em frente à prefeitura que abrigava os serviços administrativos — traduzindo: serviço de recolhimento de impostos — de Carlos I, futuro rei da Espanha (hoje é o Museu da Cidade de Bruxelas, que, junto com o Museu Belvue na Place Royale, é essencial para entender a história complexa da cidade); residências de ricos negociantes; e 13 sedes das poderosas corporações de ofício, essas associações que regulavam e protegiam toda e qualquer profissão ou atividade comercial no território da cidade: padeiros, cervejeiros, alfaiates, barqueiros, marceneiros, you name it. Tirando a prefeitura e a Maison du Roi, os edifícios são todos estreitos, amontoados, mas com janelas altas e topos ricamente decorados.

Além da batalha de estilos, a Grote Markt, seu nome em neerlandês, foi palco de acontecimentos dramáticos ao longo dos séculos. Aqui, hereges foram queimados, nobres foram decapitados, e ela mesma foi destruída quase que inteiramente — não só uma vez — por incêndios, bombardeios, revoluções. Karl Marx escreveu o Manifesto Comunista no número 9; Victor Hugo morou no número 26 durante seu exílio, quando afirmou que a Grand Place era “a mais bela praça do mundo”; opinião da qual compartilharia Jean Cocteau décadas depois. Só não deixe de visitá-la várias vezes em diferentes luzes do dia; a beleza da iluminação noturna dos edifícios é algo que vale ser visto.

Adjacente à Grand Place, no número 31 da apropriada “rua da manteiga” (Rue au Beurre) fica outra instituição belga: a Maison Dandoy, fundada em 1829, especializada em speculoos, esse biscoitinho natalino crocante, irmão do gingerbread, mas com especiarias como cravo, canela, noz-moscada; uma herança do comércio com o Oriente durante a época das grandes navegações. Ainda feito com manteiga, açúcar mascavo e assado em moldes de madeira (que ficam em exposição na loja), os speculoos são companhias perfeitas para um chá ou o café etíope do Aksum (a Etiópia é o berço do café), na Rue des Chapeliers 17, ou ainda na filial do Café Capitale da Grand Place, na rue du Midi 45. Não deixe também de comprar saquinhos de speculoos, para triturá-los e colocar no iogurte, no cheesecake e na mousse de chocolate. Fica incrível.

O Aksum Coffee House é sobre a África: o café vem todo da Etiópia, onde nasceu a bebida, é orgânico e de comércio justo; os chás vêm do Senegal; os vinhos, da África do Sul. E eles têm duas unidades, sendo uma delas na Galerie du Roi (acima). Imagem: Shoichi Iwashita

O cheiro que vem quando se abre a porta da Maison Dandoy, do ladinho da Grand Place, é daqueles que abrem o apetite para as delícias que eles fabricam desde 1829: do típico speculoos a todos os delicados biscoitinhos crocantes, sablés, cookies… Não deixe de comprar a pasta de speculoos para levar pra casa. Imagem: Shoichi Iwashita

A 100 metros daqui ficam as Galeries Royales Saint-Hubert, onde Monsieur Hugo vinha passear diariamente. Uma das primeiras passagens comerciais cobertas da Europa, inauguradas em 1847 e inspiradas na arquitetura do Cinquecento italiano, as Galerias Reais (ou ainda Koninklijke Sint-Hubertusgalerijen) são divididas em três passagens: duas principais, a da Rainha e a do Rei, ambas com mais de 100 metros de comprimento, e uma adjacente, a dos Príncipes. E são um agradável passeio, principalmente em dias frios ou chuvosos, já que além de lojas sofisticadas de grandes marcas de moda belgas como a Delvaux, de 1829, pâtisseries e lojas de chocolate — incluindo a primeira loja da Neuhaus, inaugurada em 1857 —, e cafés e restaurantes, as Galeries Royales abrigam ainda uma ótima livraria, um cinema, um espaço de coworking, dois teatros — o Théâtre Royal e o de Vaudeville — e ainda uma escola de salsa. Ah, se todo centro comercial tivesse tanta história e cultura assim…

OS BELGAS COMEÇAM O ART NOUVEAU NA ARQUITETURA

Na casa-atelier do arquiteto que é sinônimo de art nouveau na arquitetura, é possível entender as bases do estilo e também conhecer a intimidade de Victor Horta. Imagem: Shoichi Iwashita

Pastilhas, madeira, ferro, azulejo, mármore, em trabalhos de acabamento impecáveis. Imagem: Shoichi Iwashita

Não só os belgas foram responsáveis por popularizar o consumo de chocolate no mundo, a Bélgica foi também berço da Revolução Industrial. E o advento das novas tecnologias — principalmente do uso do ferro de forma decorativa— permitiu que os arquitetos belgas Victor Horta e Henry van de Velde trouxessem a sensualidade das linhas orgânicas do Art Nouveau para a construção de residências elaboradas e sensuais, únicas e irrepetíveis, que mais parecem saídas de contos de fadas (Horta avançaria pelo Art Déco, como no caso do Bozar, que considerava sua obra-prima, e van de Velde ainda seria um dos pioneiros da Bauhaus).

A casa-escritório de Victor Horta, hoje o Horta Museum, por pouco não teve o mesmo fim dos icônicos hôtel Aubecq, do hôtel Roger, da Maison du Peuple (a Casa do Povo, sede do partido operário belga construída em 1899), entre outros 20 edifícios do arquiteto postos abaixo depois da Segunda Guerra Mundial por estarem fora de moda (felizmente, outras 40 construções sobreviveram, mas não no melhor estado). O Horta Museum é uma visita imperdível e dá até para fazer um tour privado depois do fechamento do museus às 17h30, o que dá aquela sensação de ser um convidado de monsieur para conhecer sua intimidade, e ver, por exemplo, o mictório que construiu ao lado da cama, escondido dentro de um armário; uma espécide de evolução do penico.

A escada de ferro que conecta os quatro andares parece que flutua de tão fina (na verdade, ela é genialmente suspensa por outra estrutura de ferro invisível acima do vitral do teto); as paredes pintadas à mão com pincéis milimétricos eram uma missão só possível para artistas abstêmios; e impressiona os detalhes dos acabamentos, todos desenhados e fabricados individualmente — do desenho do vidro para cada uma das janelas ao puxador de cada porta de armário, passando pelos papéis de parede —, para ocuparem cada canto da casa. Se você se interessa pelo tema, não deixe de fazer um passeio específico para se aprofundar no tema.

Só não deixe de passar na Forcado Pastelaria na esquina da rua onde fica o Horta Museum (Rue Américaine com a Chausée de Charleroi) para comer deliciosos pastéis de nata com speculoos (acima, no meio da foto); é incrível. Imagem: Shoichi Iwashita

ATOMIUM, O ÁTOMO QUE É CRISTAL

O Atomium está no limite da região de Bruxelas, quase na divisa com Flandres, a cinco quilômetros do centro da capital belga, e ao lado do parque onde está o Castelo de Laeken, onde habita a família real. Imagem: Shoichi Iwashita

Cada esfera possui uma atração diferente e o transporte entre elas se dá pelos tubos que as conectam; escadas longuíssimas. Imagem: Shoichi Iwashita

O contexto de construção deste edifício-escultura que te faz sentir um elétron — apesar do nome, o Atomium não representa um átomo mas sim uma célula unitária do cristal de ferro, ampliada 165.000.000.000 vezes — é o mesmo da Torre Eiffel. Uma das atrações da Exposição Universal de Bruxelas de 1958 (a da Tour Eiffel foi a de 1899) e de caráter temporário, o edifício idealizado pelo engenheiro André Waterkeyn como símbolo do progresso científico deveria ter sido desmontado após o término da feira. Mas não só foi preservado como se tornou um dos símbolos de Bruxelas e da Bélgica.

As nove esferas de 18 metros de diâmetro cada — apenas uma toca o chão, onde fica a entrada dos visitantes — são conectadas por tubos que dão a impressão de que algumas dessas bolas de aço inoxidável (originalmente de alumínio) estão suspensas no ar. No topo, a 110 metros de altura, está um agradável restaurante com decoração futurista e vista panorâmica para a cidade (não tão linda quanto a do Mont des Arts pois o Atomium está distante, a 5 quilômetros do centro), acessível pelo único elevador — e com teto de vidro — que te leva aos 100 metros em apenas 20 segundos.

Cada uma das esferas possui uma atração diferente, que vai de uma exposição fotográfica com imagens da construção e renovação do edifício a um mini hotel onde crianças podem se hospedar por uma noite (dormindo em cápsulas futuristas), passando por uma linda instalação imersiva de som e luzes LED, intitulada A Circular Journey, criada pelo coletivo parisiense Visual System (abaixo).

QUANDO A NONA ARTE DOS QUADRINHOS SE ENCONTRA COM O ART NOUVEAU

Instalado em um belíssimo edifício art nouveau de Victor Horta, o Musée de la Bande Dessinée é uma viagem para crianças e adultos. Imagem: Shoichi Iwashita

A exposição permanente apresenta os mais icônicos personagens dos quadrinhos europeus (a grande maioria belga) além de contar a história desta forma de literatura. Já as exposições temporárias cobrem um interessante panorama da nona arte. Imagem: Shoichi Iwashita

Só não deixe de visitar a loja depois, com milhares de livros. Imagem: Shoichi Iwashita

Apesar de as primeiras formas desta que é hoje considerada uma das 11 artes do mundo ter surgido em meados do século 19, com as primeiras tirinhas em jornais, a Bélgica é — junto com os Estados Unidos e o Japão — um dos berços das histórias em quadrinhos: são mais de 700 quadrinistas belgas e mais de 50 murais espalhados por Bruxelas homenageando esses artistas, fique atento.

As Aventuras de Tintin, criada em 1929 por Hergé, é seguramente uma das HQs (bandes dessinées, em francês) mais populares — e inteligentes — do século 20. Seus 24 volumes publicados entre 1930 e 1986 foram traduzidos para quase 100 idiomas e dialetos e tiveram mais de 230 milhões de exemplares vendidos, além da publicação das tirinhas em grandes jornais belgas entre 1929 e 1983, quando morre Hergé.

Não só. Os Smurfs, originalmente Les Schtroumpfs, também nasceram na Bélgica, criados por Peyo.  E tem também personagens menos famosos no Brasil, mas bastante populares na Europa, como o Dickie, o Spirou e o Lucky Luke .

E a história desse gênero de contar histórias — que pode ou não ter texto —, os manuscritos e os desenhos originais não só dos personagens do país mas também de franceses como Astérix e Le Petit Nicholas (que eu amo-amo como Tintin), você confere no Belgian Comic Strip Center ou Musée de la Bande Dessinée ou ainda Stripmuseum (sim, o museu tem esses três nomes). São 4.200 metros quadrados de espaço para as exposições permanentes mas também excelentes exposições temporárias muito bem instaladas em uma das obras-primas Art Nouveau de Victor Horta (o único projeto industrial de Horta que sobreviveu).

E não pense que é um passeio apenas para crianças. Há muito as histórias em quadrinhos são também literatura de adulto, abordando temas difíceis, históricos e complexos (sempre me lembro do impacto que sofri quando li Persépolis, da iraniana Marjane Satrapi). E não deixe de visitar a incrível e especializadíssima loja-livraria.

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Shoichi Iwashita

Compulsivo por informação e colecionador de moleskines com anotações de viagens e restaurantes, Shoichi Iwashita se dedica a compartilhar seu repertório através das matérias que escreve para a Simonde e revistas como Robb Report Brasil, TOP Destinos, The Traveller, Luxury Travel e Unquiet.

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