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Como chegar à Megève e dicas do que fazer além do esqui: voo sobre o maciço do Mont Blanc, o melhor chocolate quente, gastronomia local — e a única coisa de que não gostei

A varanda do restaurante Rural — um dos mais incríveis almoços de Megève —, à beira da pista de esqui Côte 2000 e rodeada por uma floresta de pinheiros e o maciço do Mont Blanc. Imagem: Shoichi Iwashita

Na estação de esqui criada por Noémie de Rothschild nos anos 1920 — a primeira estação de esqui da França, onde está o primeiro teleférico do país, o Rochebrune, e onde foi inventado o conceito de après-ski festivo —, não faltam opções de restaurantes e atividades além-do-esqui. Confira algumas dicas imperdíveis em nossa lista abaixo.

CHOCOLATE QUENTE IMPERDÍVEL NA CHOCOLATERIE

Um dos primeiros hotéis de Megève, o Grand Hôtel Soleil d’Or foi todo reformulado e, hoje, abriga um bar no rooftop com vista para o vilarejo e as montanhas e um salão de chocolate quente no térreo. Imagem: Shoichi Iwashita
O salão com lareira da Chocolaterie, a mesa de bolos e doces e Mamie Chocolat servindo a bebida que ela mesmo prepara. Imagem: Shoichi Iwashita
Meu chocolate quente é sempre com leite de amêndoas e, aqui, ele é servido com uma guimauve e chocolatinhos Jean-Paul Hévin que você pode mergulhar na bebida para acrescentar dulçor. Para acompanhar, um pedaço do gâteau de Savoie, o bolo típico da região. Imagem: Shoichi Iwashita

Em um dos hotéis mais antigos de Megève — aberto em 1897, muito antes de o vilarejo ter se tornado um destino de esqui —, está uma das experiências a-não-perder: o chocolate da tarde na Chocolaterie do Grand Hôtel Soleil d’Or. Em um salão aconchegante, bem decorado e com lareira, no térreo do hotel, o chocolate quente é preparado em um fogão no próprio salão e à vista de todos por Madame Chantal, a “Mamie Chocolat”.

Utilizando o chocolate do maior maître chocolatier da França, Jean-Paul Hévin, o chocolate quente é feito com leite de vaca, de aveia ou de amêndoas — este último, o meu preferido. A bebida que aquece o corpo no inverno é servida com uns extras, como uma guimauve e um pedacinho de chocolate ao leite mais doce que podem ser mergulhados na bebida.

Para acompanhar, basta escolher um dos bolos e doces expostos em uma mesa no centro do salão, como, por exemplo, o típico gâteau de Savoie, um bolo que parece um pão-de-ló mais seco e consistente, coberto com uma casquinha fina de açúcar. Calcule EUR 35,00 por pessoa para o chocolate da tarde, com um pedaço de bolo, uma água, um café e o chocolate quente.

LA CHOCOLATERIE: 255 rue Charles Feige. Abre todos os dias, das 10h às 18h. O telefone é +33 (0) 6 5034-3106. Para acessar o site, clique aqui.

 

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ALMOÇO NO RURAL À BEIRA DA PISTA DE ESQUI

Além da varanda espaçosa com vista para a pista de esqui Côte 2000, são dois salões internos — e muito aconchegantes, principalmente para jantar — com capacidade para 70 pessoas. Imagem: Shoichi Iwashita
O pratos dos “legumes oubliés”, ou legumes esquecidos com emulsão de trufas. Entre os vegetais: rutabaga, a raiz de uma planta resultante do cruzamento da couve com o nabo; topinambour, um tubérculo conhecido também com alcachofra-girassol, cujo nome vem dos tupinambás brasileiros; e panais, raiz com formato que lembra a cenoura mas com sabor mais intenso. Imagem: Shoichi Iwashita
A mesa de queijos, só com produção dos parentes do chef Marc Veyrat. O beaufort é “de um primo”, o reblochon “é de outro primo de Manigod”, a tomme “é da tia Germaine”. Todos deliciosos e locais. Imagem: Shoichi Iwashita

Assim como o Génépi em Courchevel, o Rural é daqueles restaurantes de montanha que eu amo. Cozinha de chef, sazonal e de terroir, aproveitando o melhor dos ingredientes locais e da estação, alguns nada óbvios, como os que vão no prato “vegetais esquecidos” — com rutabaga, topinambour e panais — acompanhados de uma emulsão de trufa (de verdade e não a daqueles azeites trufados feitos de petróleo).

Os queijos, são produzidos por diferentes familiares do chef originário de Annecy, Marc Veyrat; que não passa despercebido, com seu chapéu preto, cabelos compridos, óculos de lentes coloridas, e pulseiras e colares.

Além do amplo terraço com vista para as pistas, que fica lotado nos dias ensolarados para almoço, o Rural by Marc Veyrat — parceria do chef com o grupo Moma, o mesmo do Café Lapérouse de Paris, do Noto de Saint-Tropez e do Shellona de Saint-Barth — tem dois salões que lembram casas de montanha extremamente charmosas e aconchegantes para jantar.

O restaurante, acessível por esqui, fica na pista Côte 2000, está a cinco quilômetros do centrinho de Megève, mas é também acessível de carro, com um estacionamento amplo ao lado. Calcule EUR 120,00 por pessoa para o almoço.

RURAL BY MARC VEYRAT: 3461 route de la Côte 2000. De segunda a quarta, o Rural só abre para almoço das 12h às 17h, e de quinta a domingo, abre para almoço e também para jantar, das 19h à meia-noite. O telefone para reservas é +33 (0) 4 8530-0270. Para acessar o site, clique aqui.

VOO PANORÂMICO PARA CONTEMPLAR O MACIÇO DO MONT-BLANC

O avião — que ganha um par de esquis para decolar e pousar na neve — é um monomotor Jodel D140 Mousquetaire com capacidade para dois adultos além do piloto e cabine toda em acrílico transparente que permite toda a visibilidade. Imagem: Shoichi Iwashita
O aviãozinho passa muito perto das montanhas, parece que estamos voando em direção a elas. Imagem: Shoichi Iwashita
Na volta para o altiport de Megève a gente vê a vizinha Chamonix. Imagem: Shoichi Iwashita

Decolar dentro de um avião monomotor com esquis em uma pista nevada: essa é apenas a primeira etapa do sobrevoo sobre os vales do entorno de Megève — passando por vários glaciares incluindo a belíssima Mer de Glace — e olhando o pico do Mont Blanc pela janelinha do avião, que voa a 3.000 metros de altura (o pico do Mont-Blanc, a mais alta montanha dos Alpes, está a 4.808 metros).

O voo, que pode ter trajetos, tempos e preços diferentes a depender do que e do quanto você quer ver, sai do Altiport de Megève, um dos primeiros aeródromos de montanha da França. E é emocionante, apesar do sentimento de insegurança da decolagem, do barulho da minúscula aeronave e também do fato de se voar impressionantemente próximo de algumas montanhas.

Calcule EUR 600,00 pelo voo de 40 minutos para o Maciço do Mont-Blanc — a opção de circuito mais completa — para três adultos ou dois adultos + duas crianças. Por estar muito pertinho, combine o voo com um almoço no Rural. É sempre importante levar óculos escuros e fazer as reservas entre 24 e 48 horas antes do horário desejado, pois, assim, os pilotos já têm uma noção de como estarão as condições climáticas no dia do passeio.

AÉROCIME: 3368 route de la Côte 2000. O telefone é +33 (0) 4 5021-0321. Para acessar o site, clique aqui.

CAMINHADA PELAS MONTANHAS NA COMPANHIA DE UM GUIA

Pouca quantidade de neve em altitudes mais baixas mesmo no auge do inverno, que não tira a beleza da paisagem. Imagem: Shoichi Iwashita
Casa de pedra e madeira datada de 1815. Imagem: Shoichi Iwashita

Uma forma mais contemplativa de aproveitar as montanhas — diferente da emoção e da velocidade do esqui — é fazer caminhadas ou passeios de bicicleta acompanhado de um guia da Bureau des Guides. Atividade só possível no inverno já que, no verão, as montanhas se transformam em pastagens para o gado.

Tem as saídas coletivas, mas prefira sempre pegar um guia privativo, pois, assim, ele te leva para os lugares mais lindos e isolados, fugindo dos grupos, e você ainda vai ter a chance de avistar, mesmo que apenas de longe, animais selvagens da montanha; é sempre importante não se aproximar deles, para não atrapalhar a sua alimentação. Em três horas de caminhada, eu vi cervos, raposas, camurças e a águia-real, além das pegadas e as fezes de outros animais na neve. Passamos também por algumas casas de defumação. Como não havia sal na região, a defumação era o método que os antigos locais utilizavam para conservar alimentos.

Só é preciso se vestir adequadamente e levar os acessórios certos para que o passeio seja confortável: roupas quentes, leves e impermeáveis, em camadas, de forma que você vá tirando as partes de cima, uma vez que o corpo for aquecendo e as temperaturas aumentando; uma bota de trekking já amaciada; lenços de papel para assoar o nariz; uma garrafinha com água e — por que não — outra com um chá quentinho para aquecer o corpo. Calcule EUR 175,00 para um passeio de 4 horas com um guia privativo.

O Bureau des Guides ainda oferece passeios de mountain bicicleta elétrica pela neve, de snowshoeing (raquettes, em francês), esqui na Vallée Blanche, escaladas etc.

BUREAU DES GUIDES: 76 rue Ambroise Martin. O telefone para informações e reservas é +33 (0) 4 5021-5511. Para acessar o site, clique aqui.

JANTAR NO LA FERME DE MON PÈRE

Salão aconchegante com cores e materiais naturais. Imagem: Shoichi Iwashita
Cocotte de brócolis com espinafre, tahine e menta; flores de queijo suíço Tête de Moine (cabeça de monge) e pão de fermentação natural. Imagem: Shoichi Iwashita
O risotto de crozets — uma massa quadradinha típica da Savoie feita com trigo-sarraceno — é o prato mais tradicional da Savoie, aqui em excelente versão, com cogumelos e trufas. Imagem: Shoichi Iwashita

Restaurante do hotel Le Chalet, La Ferme de Mon Père (“a fazenda do meu pai”, em tradução livre), apesar do nome nostálgico, tem arquitetura contemporânea — claro, com muita madeira e pedra —, staff jovem vestido em roupas jeans e uma carta surpreendente de coquetéis autorais. Só abre durante o inverno, para jantar, e tem um menu enxuto mas delicioso, onde brilham as opções plant-based.

Não dá para perder o risotto de crozet — uma massa quadradinha típica da Savoie — com cogumelos e trufas, e a seção de pratos de legumes que podem vir em meia porção ou em porção inteira para compartilhar. Na temporada 2022/2023, tinha espinafre e brócolis com tahine e menta; uma mousseline de topinambour — um tubérculo ancestral — com avelãs torradas e chips de batata doce; e ainda gyoza de legumes com arroz salteado e pak choï (um delicioso repolho chinês). Para encerrar o jantar, não deixe de provar as divinas profiteroles ao uísque, em tamanho para dividir.

A seleção de chás e alguns rótulos de vinhos ainda são produzidos pela própria família Zannier, proprietária do hotel e de outros hotéis boutique na Namíbia, no Camboja e no Vietnã. Calcule EUR 90,00 por pessoa para jantar.

LA FERME DE MON PÈRE: 367 route du Crêt, no hotel Le Chalet. Só abre durante a temporada de inverno, de terça a domingo, das 19h às 23h. O telefone para reservas é +33 (0) 4 5754-2130. Para acessar o site, clique aqui.

VISITA GUIADA

Com tantas boas histórias para ser contadas — da arquitetura à gastronomia, passando pela história da região —, se for sua primeira vez em Megève, eu recomendo fortemente um passeio com uma guia especialista.

A minha foi a Sophie Blanchin, dos Guides du Patrimoine Savoie Mont Blanc, e nosso percurso incluiu o centro histórico de Megève e suas ruas estreitas e igrejas — quase todas destruídas durante a Revolução Francesa e reconstruídas posteriormente —; o Musée du Haut Val d’Arly, uma casinha de fazenda  centenária no centro do vilarejo que mostra a vida de outras épocas (todo mundo morava com vacas, jumentos, porcos e galinhas); o Calvário, um percurso de capelas inspirado no calvário de Jerusalém, obra do padre Ambroise Martin; e os projetos do arquiteto que é sinônimo de Megève, Henry Jacques Le Même, incluindo sua casa modernista (saiba tudo sobre a história de Megève, clicando aqui).

O telefone para agendamento é +33 (0) 6 8230-4840 e o email [email protected]. Para acessar o site, clique aqui.

A EVITAR: PALAIS BALNÉOFORME

Como a maioria dos hotéis de Megève são boutique e não possuem grandes spas, a ideia é ótima: um centro de relaxamento aquático, com piscinas, saunas, hidromassagens e jacuzzi. Um grande centro de balneoterapia — esse conceito antigo de cura e relaxamento através da água em diferentes temperaturas — que faz parte de um grande centro esportivo, no coração do vilarejo. Mas a experiência no Balnéoforme não pode ser mais desconfortável.

Primeiro, você tem de ir a um balcão comprar o seu ingresso (EUR 34,00), quando você recebe uma pulseira. Ao entrar e se dirigir para o balcão para retirar a sua toalha, você descobre, attention!, que precisa deixar um pé de sapato com o atendente, como garantia (!). Caminhando calçado com meia em um pé e sapato no outro, você vai até uma das centenas de cabines unisex para se trocar. Aí, tem de andar mais um tanto carregando todas as suas tralhas — lembre-se que você está com muita roupa por conta do frio e um pé de bota — para guardá-las no locker… E fazer o mesmo caminho na hora de ir embora.

Lá dentro, tudo tem catraca: catraca para acessar as piscinas, catraca para acessar a área das saunas; para entrar e para sair, quando você precisa usar sua pulseira… E ainda tem o fato de que, na França, não se permite o uso de chinelos em áreas molhadas, o que para nós, brasileiros, é um pouco anti-higiênico. Enfim, não fiquei nem 30 minutos e preferia ter ficado aproveitando a piscininha e a sauna do pequeno spa do hotel M de Megève, onde estava hospedado nesta viagem. De qualquer forma, pode ser um passeio para pais com filhos. 

COMO CHEGAR A MEGÈVE: O MELHOR JEITO

A praça da igreja de São João Batista — église Saint-Jean-Baptiste de Megève —, o coração do vilarejo, ao lado da qual ficam as lojas da Hermès e a AAllard, e em cuja praça acontece a feira de domingo. Imagem: Shoichi Iwashita

Para viajar para Megève, o melhor aeroporto para se chegar é o Aeroporto Internacional de Genebra [GVA], que está a 90 quilômetros do centro do vilarejo, e, de lá, agendar um carro com motorista que vai te levar direto para o hotel. O trajeto entre o aeroporto de Genebra e o centro de Megève dura, no máximo, 1h30, e calcule EUR 500,00 pelo traslado para duas pessoas e duas malas, em uma Mercedes S-Class. Lembrando que não tem voo direto do Brasil para Genebra, você vai sempre precisar fazer conexão em qualquer outra capital europeia — Zurique, Paris, Frankfurt, Londres, Madri — para voar para lá. 

O MELHOR JEITO DE IR DE PARIS PARA MEGÈVE:

Se você estiver em Paris, é preciso saber que não tem TGV — o trem rápido francês, equipado com cabine de primeira classe — entre a Gare de Lyon e Sallanches-Combloux-Megève, a estação de trem mais próxima do vilarejo, a apenas 12 quilômetros. Por isso, o melhor é pegar o trem rápido de Paris para Bellegarde-Sur-Valserine — 1h40 de viagem no TGV — e, aí, agendar um traslado para Megève, com duração de h30 de carro (105 quilômetros).

Porque para prosseguir de trem, você vai ter de pegar o lento TER-pinga-pinga de Bellegarde-Sur-Valserine para Sallanches-Combloux-Megève (duas horas de viagem, mais o tempo de baldeação) e, finalmente, um carro para Megève. Ou seja, é bem menos cansativo agendar o motorista para te buscar direto na estação de Bellegarde-Sur-Valserine. 

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Shoichi Iwashita

Compulsivo por informação e colecionador de moleskines com anotações de viagens e restaurantes, Shoichi Iwashita se dedica a compartilhar seu repertório através das matérias que escreve para a Simonde e revistas como Robb Report Brasil, TOP Destinos, The Traveller, Luxury Travel e Unquiet.

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