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Courchevel: Como uma vila construída no nada se tornou uma das estações de esqui mais luxuosas do mundo

A estação de esqui Courchevel é, na verdade, um conjunto de cinco vilarejos, em diferentes altitudes, na encosta leste de uma montanha cujo topo se chama La Saulire. Tem Courchevel le Praz, a 1.300 metros de altitude; Courchevel Village, a 1.500 metros; Courchevel Moriond, a 1.650 metros; e, enfim, Courchevel, simplesmente, na foto acima, a 1.850 metros de altitude, onde está todo o luxo em termos de hospedagem, lojas e gastronomia que a gente busca no destino. Imagem: Andy Evans @stock.adobe.com.

Courchevel é uma estação de esqui nos Alpes franceses, coladinha com a Itália, e quase no meio exato do triângulo que formam Lyon, na França, Genebra, na Suíça, e Turim, na Itália. Foi o primeiro destino de esqui a ser construído no meio do nada, em 1946, pelo governo francês (imagina levar água e eletricidade para o meio de uma cadeia de montanhas a 1600 metros de altitude?).

Depois do fim da Segunda Guerra Mundial, a ideia era aproveitar uma das paisagens mais lindas do país para desenvolver o turismo na região, gerando empregos para que os locais não emigrassem — a coisa não estava nada fácil para os franceses depois da Segunda Guerra — e ainda oferecer aos franceses mais uma opção de lazer nas montanhas durante o inverno.

Não é um destino de esqui tão antigo quanto Saint Moritz ou Chamonix. St. Moritz, na Suíça, começou com a prática de esportes de neve em 1871. Já Chamonix, perto de Courchevel e nos pés do Mont Blanc — sim, esse que inspirou e fica também no topo da caneta da marca homônima —, em 1924, já havia sediado os primeiros Jogos Olímpicos de Inverno. Mas, apesar de ser bem mais jovem, Courchevel se tornou dos mais luxuosos e bem estruturados resorts de esqui do mundo. E talvez seja também a estação mais trend-setter, já que todo ano tem alguma novidade que logo será vista em outros resorts pelo mundo: na temporada 2015 / 2016, foi um colete para crianças com ímã nas costas para que elas ficassem grudadas nas cadeiras dos teleféricos durante as subidas, ampliando sua segurança.

NENHUM OUTRO DESTINO DE ESQUI NA FRANÇA TEM UM HOTEL PALACE; COURCHEVEL TEM CINCO

O romântico Les Airelles, no Jardin Alpin, um dos cinco hotéis Palace de Courchevel. Imagem: Shoichi Iwashita

Dos 31 hotéis Palace de toda a França, cinco ficam em Courchevel, sendo a única estação de esqui do país com hotéis nesta categoria de distinção máxima. Seus restaurantes que somam 10 macarons Michelin mais as lojas de grife (de Chanel à Graff, passando por Loro Piana, Cartier, Prada, De Grisogono, Dior e Brunello Cuccinelli, todas com opções de roupas de esqui!) e a arquitetura reconhecida (são seis construções listadas como Monumentos Históricos) fazem de Courchevel um destino que atende perfeitamente o viajante exigente, em vários níveis de orçamento; do três estrelas, como o Hôtel des 3 Vallées, a ótimos cinco-estrelas, como o La Sivolière, ao céu-é-o-limite.

Esteja ele viajando com o amor de sua vida, queira uma experiência romântica e iniciando na prática de esqui (eles têm a ESF, a maior escola de esqui da Europa, com mais de 500 instrutores só em Courchevel 1850, muitos dos quais falam português); com os filhos pequenos (mesmo uma criancinha de um ano e meio já pode ter aulas com equipamento especial, e é a coisa mais fofa, acreditem!), ou com os amigos em busca de emoção nas pistas vermelhas e pretas, as mais difíceis, que formam quase metade dos 150 quilômetros de pistas de esqui em Courchevel (a outra metade é de pistas verdes e azuis, para iniciantes).

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Com vista linda para o cume da Croix de Verdons, você encontra o Family Park, local perfeito para quem está começando e para os pequenos. Imagem: Divulgação Courchevel Tourisme
 
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ALTIPORT, A RAZÃO DO SUCESSO DE COURCHEVEL?

Imagine uma aterrorizante pista de avião, de apenas 537 metros de comprimento e inclinada a quase 20º; a mais inclinada do mundo. E que, por estar quase no topo da montanha, a 2008 metros de altitude, não oferece ao piloto a possibilidade de arremetida em caso de problema por causa dos cumes das montanhas próximas.

A partir do começo da década de 1970 (quando o acesso às montanhas era bem difícil e demorado), a companhia aérea Air Alpes passou a fazer voos diretos de Paris (Orly) para o Altiport de Courchevel usando um Twin Otter da De Havilland com capacidade para 20 passageiros. Foi quando os ricos e famosos começaram a frequentar o vilarejo fazendo a fama de Courchevel.

Voos comerciais aconteceriam até 2001, com aviões como o Dash 7, também da De Havilland, para até 50 passageiros. Deve dar um medo, mas a vista deve ser a mais linda do mundo. Ah, a decolagem se faz na descida, com o avião correndo direto para o abismo, tá? O Altiport é também o local de pouso dos helicópteros, que é a opção mais cinematográfica de se chegar a Courchevel.

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Consegue se imaginar decolando — na descida — num avião com essa pista inclinada? Sim, pela vista, a possibilidade de morte até que pode valer a pena. Imagem: Reprodução internet

COURCHEVEL É DESTINO-OSTENTAÇÃO?

O mais legal de estar no país que cortou as cabeças de sua elite é que, diferentemente das paulistanas que andam de salto alto no Quadrado em Trancoso (onde o chão é de terra…), na França, os milionários locais com quem você vai cruzar nas pistas ou no chá da tarde no Mélézin ou nos Airelles, estão todos despojados, com roupas de esqui ou esporte. (Entre os franceses, não é muito bem visto quem ostenta demais; herança da Revolução Francesa talvez).

Assim como os ingleses, que formam grande parte do público que frequenta Courchevel, a afetação é zero, afinal de contas estão todos relaxando nas montanhas (quando você vir alguém muito montado, pode ter certeza de que são viajantes de outros países). Por isso, relaxe quanto ao dress-code, mesmo nos lugares mais luxuosos; não se esforce demais.

Por ser um vilarejo, em Courchevel tudo é mais ou menos perto, dá para ir a pé para quase tudo. E, por ser pequeno, existem três meios de transporte gratuitos e pagos: 1. tem as vans de alguns hotéis que te levam e trazem de e para onde você precisar (o serviço pode estar incluso na diária); 2. tem os táxis, mas eles não têm taxímetro: você diz aonde vai, ele te dá o preço e você pode ter de pagar 20 euros num trajeto de três minutos; e 3. tem os ótimos ônibus gratuitos — chamados navettes— que funcionam em todos os níveis, do Praz até Courchevel 1850 (e por dentro de Courchevel 1850), para descer e para subir, o dia todo. É só passar no escritório de turismo de Courchevel, ao lado da Croisette, e pegar um folhetinho com as rotas e horários ;- ) Mais democrático, impossível.

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O escritório de turismo de Courchevel, na Rue de Rocher, bem no centrinho, onde você encontra um balcão com atendentes que vão te dar todas as informações que você precisar durante sua estadia. Imagem: Shoichi Iwashita

E VAMOS À GEOGRAFIA, ESSENCIAL PARA ENTENDER COMO ESTÁ ORGANIZADA COURCHEVEL

(Depois que recentemente um conhecido passou cinco dias em Punta Cana, voltou e, falando da viagem, não sabia que a província ficava na República Dominicana, eu fiquei um pouco traumatizado.) A estação de esqui Courchevel é, na verdade, um conjunto de cinco vilarejos com apenas dois mil habitantes no total (durante a temporada de inverno esse número sobe para 40 mil pessoas, entre turistas, pessoas que têm segunda casa aqui e trabalhadores temporários), que fica na Savoia (a Savoia é um território histórico que se espalha hoje não só pela França, mas também pela Itália e pela Suíça), que é um dos departamentos de Auvergne-Rhône-Alpes, região cuja capital é um dos berços da gastronomia francesa, Lyon.

O interessante é que os cinco vilarejos que ficam na encosta leste de uma montanha, cujo cume se chama La Saulire (a 2700 metros de altitude), são organizados em níveis:

1. mais embaixo, a 1100 metros de altitude, tem Saint-Bon-Tarentaise, onde fica a prefeitura;

2. a 1300 metros de altitude, você vai encontrar Courchevel Le Praz (fala-se “Prá”, sem pronunciar o “z”);

3. a 1500 metros, Courchevel Village;

4. a 1650 metros, Courchevel Moriond;

5. e, enfim, a 1850 metros de altitude, Courchevel, simplesmente, a cereja do bolo, onde ficam os hotéis Palace, os melhores restaurantes, as lojas.

Sim, quanto mais embaixo, mais barato, mas não menos acessível para esquiar: Le Praz, Village, Moriond e Courchevel estão totalmente interligados (você pode descer de 1850 para 1300 esquiando, por exemplo), e para voltar basta pegar o teleférico do Praz para Courchevel 1850, que leva apenas sete minutos de subida. Tendo o ski pass, você pode usar toda a estrutura em todos o níveis. 

Mas tem outro aspecto geográfico que é importante entender: Les 3 Vallées (Os Três Vales), dos quais Courchevel faz parte, que é o maior complexo de esqui do mundo e apresenta números impressionantes.

Les 3 Vallées são formados por 13 vilarejos, que incluem não só Courchevel Le Praz (1330), Village (1550), Moriond (1650) e Courchevel (1850), mas também La Tania, Méribel (do outro lado do cume da Saulire), Méribel-Mottaret, Méribel Village, Brides-Les-Bains, Saint-Martin-de-Belleville, Les Menuires, Val Thorens e Orelle, que, juntas, possuem 318 pistas, com 600 quilômetros de extensão e interconectadas por 173 teleféricos; mais 65 quilômetros de pista para esqui cross-country; e 800 instrutores certificados na École du Ski Français (ESF), que estão espalhados em todos os níveis de Courchevel.

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O mapa de todas as pistas dos Três Vales. Courchevel está à esquerda no desenho. Imagem: Reprodução

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Shoichi Iwashita

Compulsivo por informação e colecionador de moleskines com anotações de viagens e restaurantes, Shoichi Iwashita se dedica a compartilhar seu repertório através das matérias que escreve para a Simonde e revistas como Robb Report Brasil, TOP Destinos, The Traveller, Luxury Travel e Unquiet.

Mirian Souza disse:

PARABÉNS TUDO BEM EXPLICADINHO DO JEITO QUE TEM QUE SER!!

Muito obrigado pela gentileza do comentário, Mirian! Um abraço!

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