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Guia dos melhores restaurantes de Caraíva: Do peixe fresco e grelhado à beira-rio à pizza perfeita, o vilarejo tem hoje alguns dos melhores restaurantes do sul da Bahia

O ambiente simples e charmoso da Cachaçaria Caraíva, o segundo restaurante mais antigo do vilarejo. Imagem: Shoichi Iwashita

Apesar de ser o primeiro assentamento não-indígena do Brasil — de quando Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil, deixando aqui alguns pobres marinheiros —, Caraíva permaneceu como um vilarejo de pescadores isolado por muitas décadas. Até entrar no radar dos forasteiros sudestinos que passaram a frequentá-la na esteira de Trancoso nos anos 1970.

Por isso, não espere encontrar a cultura e gastronomia típicas preta e baiana, porque não só Caraíva-Barra-Velha-Corumbau é indígena e não preta, como também tem o fato de que, aqui, todos os restaurantes são empreendimentos de gente estrangeira; gente de fora que foi chegando… e ficando. {Conheça a história do vilarejo no nosso guia de Caraíva, clicando aqui.}

Tirando pouquíssimos lugares que estão aqui há 20, 30 anos, a maioria dos restaurantes abriu muito recentemente, quando Caraíva ficou de moda para atender as necessidades — e o poder aquisitivo — desses novos viajantes. E, com o Dêze, o Koa e O Forno, é possível comer tão bem em Caraíva quanto em sua célebre vizinha Trancoso. 

Como o vilarejo é pequeno, não tem como se perder. Todos os principais bares e restaurantes e forrós de Caraíva estão enfileirados nas duas ruas paralelas à beira do rio — aonde chegam as canoas — e também na pracinha da igreja, que está cheia de vida, muito diferente de dez anos atrás. 

Muitas coisas abrem e fecham; a seleção abaixo tem resistido os últimos dois anos. Assim como em todos os destinos de praia do mundo, muita gente vem brincar de ser dono de café, pousada, restaurante, mas nem todos têm a resiliência de sobreviver em destinos onde a estrutura é muito diferente daquela com a qual estamos acostumados nos grandes centros urbanos. Você consegue imaginar que tudo o que está em Caraíva — os ingredientes, os equipamentos, os móveis, os materiais de construção — precisa pegar estrada de chão, canoa e carroça para chegar até aqui?

DÊZE: O RESTAURANTE MAIS SOFISTICADO DA COSTA SUL DA BAHIA ESTÁ EM CARAÍVA

Em toda a costa sul da Bahia, tenho três refúgios gastronômicos — para aqueles dias que quero comer de forma mais elaborada —: o restaurante do hotel Uxua e o Flô Quadrado, em Trancoso, e o Dêze, em Caraíva. E não há restaurante com comida mais elaborada e autoral em toda a região, apesar da dificuldade na oferta de ingredientes, que precisam vir pela estrada de terra, pegar canoa e ruas de areia para chegar à cozinha impecável, uma raridade. Escondida nos fundos da casinha verde mais fotografada da Bahia, quando a gente janta no Dêze até esquece que está em Caraíva, a não ser pelo fato de estarmos de chinelo. Em qual outro restaurante de fine dining no mundo, os garçons estão de chinelo e você pode jantar descalço e de shorts? No cardápio, são duas opções de menus-degustação, uma com cinco e outra com nove etapas, com peixes e frutos do mar em receitas nada óbvias, pão de fermentação natural feito na casa com manteiga temperada sempre com alguma fruta brasileira, e pratos veganos tão ou mais saborosos quanto os que levam bichinhos mortos. As sobremesas são outro destaque, além do fato de o menu mudar mensalmente, com uma entrega bastante consistente. Quanto custa comer no Dêze? O menu com cinco tempos para uma pessoa custa R$ 325,00 (R$ 295,00 + taxa de serviço). Reservas necessárias. O restaurante abre de segunda a sábado, e as reservas só podem ser feitas entre as 19h e as 20h. Para conferir a crítica completa do Dêze, é só clicar aqui. Para reservas, clique aqui.

ODARA: GASTRONOMIA CONTEMPORÂNEA E PRATOS BEM EXECUTADOS

Aberto em 2021, o Odara é uma muito bem-vinda adição à micro cena gastronômica de Caraíva. É um restaurante contemporâneo com salão claro e elegante, que poderia estar em qualquer cidade praiana do Brasil. Com ótimos drinques e pratos interessantes e bem feitos, eu adorava o arroz negro feito com miso e alho-poró, servido com shiitake e picles de beterraba e, hoje, eu como essa abóbora da foto com couscous com maracujá, coalhada seca e crips de couve. Como as entradas são bem servidas, peça uma para dividir e, aí, os pratos principais individualmente. Só são duas sobremesas no cardápio e a mousse de chocolate é impecável. Quanto custa comer no Odara? Calcule R$ 200,00 por pessoa, dividindo a entrada, mais prato e sobremesa.

KOA: PEIXE FRESCO GRELHADO, COMO DEVERIA SEMPRE SER, COM O CHEF EM UM PALCO À BEIRA DO RIO

O fato de que o Koa seja um restaurante de peixes e frutos do mar e não tenha um freezerzinho sequer diz muito sobre o frescor dos ingredientes que chegam diariamente ao restaurante quase-flutuante à beira do rio Caraíva, com um chef que também é pescador. Quando não tem peixe, você verá um comunicado escrito à mão fixado na porta do restaurante fechado. E, no Koa, a simplicidade é rainha. Seja no ambiente despojado com mesas e cadeiras simples de madeira — algumas no deque à beira do rio e com vista para a grelha-palco ao ar livre onde o chef passa, focado, toda a noite —; seja no prato com peixe, farofa e legumes (iniciados na cozinha de pré-preparo e, depois, finalizados à mostra com a fumaça dos peixes sendo grelhados); ou ainda no tempero dos peixes e frutos do mar, apenas com azeite e sal grosso. Por isso, é decepcionante quando, talvez porque esteja sempre lotado, o peixe venha fora do ponto e ressecado… O restaurante só abre para a temporada de verão, todos os dias, das 18h às 23h, não aceita reservas e lota. Assim, ou você chega às 17h30 e já espera a abertura às 18h ou chega por volta das 20h e espera as primeiras mesas irem vagando. O Koa fica na rua principal à beira do rio, quase em frente ao restaurante Odara, e só não só não tem sobremesa. Aí, vale atravessar a rua e terminar a noite com a ótima e linda mousse do Odara. Sobre as bebidas, prefira a água ou a cerveja. A carta de vinhos não tem nenhum rótulo relevante e o serviço de vinho deixa bastante a desejar. Quanto custa comer no Koa? O peixe na brasa com legumes, o prato clássico do Koa e que dá tranquilamente para duas pessoas, custa R$ 275,00 (R$ 250,00 + taxa de serviço). Para acessar o Instagram deles, é só clicar aqui.

O FORNO: AO SOM DO FORROZINHO EM FRENTE, EXCELENTES PIZZAS COM MASSA DE FERMENTAÇÃO NATURAL

Se hoje a pracinha da igreja de São Sebastião está cheia de vida — com o forró Bendito e os bares Birita e Baraiz —, foi graças à qualidade inédita das pizzas d’O Forno, que abriu lá suas portas em 2020, quando o eixo turístico se atinha à rua na beira do rio e ninguém frequentava a praça. O que começou com a criação de levain para ter um bom pão em casa pelo chef paulistano Fábio se transformou em uma pizzaria com redondas ao estilo napolitano feitas com farinha italiana em massa de fermentação natural, longa e controlada — no mínimo, 72 horas a 8 graus Celsius —, lindamente montadas e com toque autoral nas receitas. Servidas em mesas ao ar livre (o que é um problema nos dias de chuva), debaixo de uma árvore e para comer com as mãos, minhas pizzas preferidas d’O Forno são a delicada Zucchini (uma das melhores que já provei, com a abobrinha finamente fatiada e com muçarela de búfala, queijo grana padano e alho preto); a potente Da Terra (com berinjela, tomate e cebola assados, funghi no alho e patê de grana padado); e a familiar Napolitana, que, aqui, leva muçarela de búfala de um pequeno produtor da região, grana padano, azeitona e manjericão. E não é só nas massas das pizzas que o chef Fábio se destaca: da Itália para a Argentina, suas empanadas também têm massa perfeita, são assadas e vêm queimadas, comme il faut. A trilha sonora vai ser o sonzinho do forró em frente, o Bendito. Quanto custa comer n’O Forno? A pizza individual de abobrinha, minha favorita, custa R$ 92,00 (R$ 83,00 + taxa de serviço). O Forno abre todos os dias, das 19h às 23h. 

CACHAÇARIA CARAÍVA: COMFORT FOOD CARAIVANO

Apesar do nome e das dezenas de garrafas de cachaça que decoram o teto do restaurante, a Cachaçaria é, depois do Boteco do Pará, o segundo mais antigo restaurante de Caraíva, hoje, com um cardápio de influências diversas que não poderia refletir melhor o significado da expressão comfort food. Na rua principal, com mesas dentro da casinha charmosa ou na varanda, volto sempre aqui para comer o risoto de beterraba com abobrinha grelhada, coalhada seca e castanha de caju; o “carbonara” vegetariano feito com abobrinha, tomate cereja, parmesão e cebola refogada; e a torta de banana com ganache de chocolate, doce de leite e paçoca (todos os ingredientes que amo em sobremesas reunidos em uma só receita). Eles ainda têm um bom sanduíche de falafel e tem sempre um prato vegano à disposição, basta perguntar ao garçom. A Cachaçaria abre de segunda a sábado, das 18h às 23h. Para acessar o Instagram deles, clique aqui.

COMUNE: BONS DRINQUES E COMIDINHAS PARA ASSISTIR AO PÔR DO SOL NO RIO CARAÍVA

Assim como Arraial d’Ajuda, Trancoso e Corumbau, Caraíva não tem pôr do sol no mar, mas, diferentemente de suas vizinhas, tem a sorte de ter um rio sinuoso que garante belíssimos pores do sol, assistidos na praia-de-rio na Barra ou em bares à beira-rio como o Boteco do Pará e o Comune. As muitas árvores tiram um pouco da vista, mas o formato em declive do Comune, como uma arena, faz com que não importe em que degrau sua mesa esteja, a luz dourada do fim tarde acompanha os bons drinques e comidinhas. Além da batida frozen de coco, que não só é refrescante como também é lindamente apresentada, adoro os pratos veganos do cardápio: o curry de abobrinha com chips de batata doce, arroz de coco e banana-da-terra grelhada ou o bobó de palmito com arroz de castanha de caju. O Comune abre todos os dias, das 12h às 23h.

BIRITA: ESCONDIDINHO NA PRAÇA DA IGREJA, COM CADEIRAS DE PRAIA, CERVEJA E PETISCOS 

Quando abriu em 2022, o Birita fez renascer a ladeirinha que liga a “cidade baixa”, a avenidinha à beira-rio, e a “cidade alta”, onde está a praça da igreja de São Sebastião. Mas, infelizmente, por restrições técnicas, o bar com ótimos petiscos — e uma pimentinha deliciosa — teve de mudar de endereço, mas para um espaço maior, com mais mesas e cadeiras de praia espalhadas pelo terreno, e uma cozinha mais confortável para a equipe. No cardápio, amo a croquete de milho. Só espero que surja um novo lugar no espaço antigo, pois faz falta na ladeira a animação que o Birita, agora mais escondido, proporcionava. 

AMADO: SANDUÍCHE DE ABOBRINHA, FRITAS E MILK SHAKE DE OVOMALTINE 

Perfeito para os dias de sanduíche com fritas e milk-shake, o Amado fica na ladeira entre as canoas e a praça da igreja e tem um sanduíche de abobrinha empanada que tem convertido carnívoros, de tão delicioso. As mesas são todas ao ar livre, o que é um problema quando começa a garoar ou chover. O pedido é feito e pago no balcão, mas eles trazem à mesa. As fritas são artesanais (não são essas congeladas de supermercado) e eu sempre coroo meu lanche do Amado com um denso milk shake de Ovomaltine. O Amado abre todos os dias, das 18h às 23h30.

CANTO DA DUCA: CAFÉ DA MANHÃ E ALMOÇO VEGETARIANOS

Com casinhas coloridas, céu azul ultramarino e grandes estrelas brancas desproporcionais à escala das construções retratadas, o estilo monotemático das pinturas da Duca espalhadas por Caraíva é inconfundível. E é essa senhora de 80 anos que é quase sinônimo da história do vilarejo quem recebe, atende e serve as mesas de seu restaurante vegetariano, aberto apenas para café da manhã e almoço, até a comida acabar. Por isso, nada de pressa porque ela atende os clientes conforme a ordem de chegada. Só não espere por conforto na varanda-toda-azul anexa a seu ateliê. As mesas são móveis reaproveitados — copos e recipientes são todos de reaproveitamento também, aqui não se joga nada fora —, você vai se sentar em banquetas de madeira ou cadeiras de plástico, mas por R$ 35, você provará um caprichado e bem servido almoço vegano e ainda poderá uma ótima e tradicional sobremesa de Caraíva. O bolo Nega Maluca, único doce do cardápio, é tão bem montado e apresentado que até destoa do resto da experiência. O Canto da Duca fica na rua Sete de Setembro, a rua paralela à praia.

BOTECO DO PARÁ: O PONTO-DE-ENCONTRO-INSTITUIÇÃO DO VILAREJO

Frequentado por moradores, habitués do vilarejo e turistas, ou seja, todo mundo, o Boteco do Pará é uma instituição de Caraíva. Há trinta anos “no meio da rua”, sob amendoeiras frondosas e à beira do rio, o bar é o lugar perfeito para encontrar no fim da tarde os amigos feitos em Caraíva e é famoso por seu pastel de arraia pescado pelo próprio Pará (que eu prefiro passar, sabendo do risco de extinção que correm dezenas de espécies de tubarões e arraias no Brasil). Aí, fico sempre com o pastel vegano de palmito (feito com massa de pastel industrializada como todos os pastéis de Caraíva e região) para comer com arroz, feijão e farofa (peço todas as porções separadas para comer junto e fica perfeito) ou as moquecas de peixe ou vegana, que vêm acompanhadas de arroz, pirão e farofa. O Boteco do Pará abre todos os dias das 13h às 19h e é preciso ter sorte ou paciência para conseguir uma mesa durante a alta temporada. Ainda mais difícil é conseguir se sentar na mesa mais famosa: a mesa alta que leva o nome de “Ponto do Mentirosos”, que tem até uma placa. O boteco só fecha no mês de junho e, na baixa temporada, às segundas-feiras. 

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Shoichi Iwashita

Compulsivo por informação e colecionador de moleskines com anotações de viagens e restaurantes, Shoichi Iwashita se dedica a compartilhar seu repertório através das matérias que escreve para a Simonde e revistas como Robb Report Brasil, TOP Destinos, The Traveller, Luxury Travel e Unquiet.

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